quinta-feira, 24 de abril de 2025

[Daqui e Dali] Homilias enfadonhas e sonolentas


Humberto Pinho da Silva

Julgam alguns sacerdotes que homilias prolongadas, recheadas de preciosa erudição, em estilo obscuro, fascinam crentes de elevada cultura, puro engano.

Estando em Roma, tive oportunidade de prosear com franciscano, que tentou explicar o motivo da rápida expansão das Igrejas Evangélicas e seitas, no Brasil.

No parecer do erudito sacerdote, essa proliferação se deve ao fato da maioria dos pastores utilizarem linguagem corrente e usarem termos que o povo facilmente compreende.

O padre tem formação superior, constrói a prática com frases e vocabulário, que as classes mais baixas da sociedade, em geral, desconhecem.

O resultado é irem buscar Igreja, que lhes fale ao coração, com palavras simples e corriqueiras.

Verdade se diga que há quem frequenta o templo para saborear sutilezas, como santo Agostinho, assistia aos sermões de santo Ambrósio:

"Ardorosamente o ouvia, quando prega ao povo, não com o espírito que convinha, mas como que a sondar a sua eloquência, para ver se correspondia ou exagerava ou diminuía a sua reputação oratória. Estava suspenso das suas palavras, extasiado do que ele dizia." - "Confissões" - V

Foi desse modo que o franciscano, homem culto, que temporariamente morava na Via Merulana, em Roma, explicou-me o motivo da proliferação de seitas na América Latina.

Termino levando ao leitor a opinião de Nicola Bux, Professor da Faculdade Teológica de Bari (Itália), autor do livro "Como Ir á Missa Sem Perder a Fé":

"As homilias são por vezes demoradas, incompreensíveis e maçadoras, que pouco dizem aos fieis e menos ainda ao assistente ocasional."

A propósito, recordo o soporífico sermão, proferido por pastor, prática que assisti na adolescência. Creio que os crentes, após o terem escutado, ficaram em jejum, com pouca vontade de voltarem a ouvi-lo.

Ouvi, igualmente, a homilia de bispo, residente em Luanda, que me cativou – era simples, proferida como estivesse a conversar á mesa de Café, com amigos.

Os fiéis saíram encantados, e com vontade de voltarem a ouvi-lo.

Em suma, a prática deve ser proferida com o coração, vivendo o que se diz, em estilo simples, para que as palavras entrem, rapidamente, no coração dos crentes e descrentes.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, abril de 2025

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