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Imagem: Guilherme Paula |
Reinaldo Azevedo
É evidente que os palestinos
precisam ter o seu estado. Mas qual? E com quem devem negociar? Primeiro com as
Nações Unidas? Acho que não! Já volto a esse ponto. Quero antes chamar a
atenção para algumas coisas. O povo palestino, na média, tem uma vida sofrida,
como tem a população das demais ditaduras árabes. A principal força que se
encarrega de tornar um inferno o cotidiano dos moradores da Faixa de Gaza é o
Hamas, não Israel. Não há nada que “o inimigo” possa fazer ali num clima de
confronto que os próprios terroristas não façam como atos de rotina. Israel já
desocupou a Faixa de Gaza, mas o Hamas ainda não…É impressionante! O próprio
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina e chefe do corrupto
grupo Fatah, referiu-se ao terrorismo em seu discurso, dizendo repudiá-lo,
claro… Acreditem: na imprensa brasileira, exceção feita à VEJA Online (aqui),
ou no New York Times, não se tocou na palavra “terrorismo”. Para o bem da
causa, decidiram censurar… até o discurso de Abbas! É um troço formidável! O
presidente da ANP poderia ter anunciado algo assim, por exemplo: “Meteremos na
cadeia todos os militantes das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa”. O que é isso?
É uma organização terrorista que se diz o braço militar do Fatah, abrigada na
Cisjordânia, que usa os símbolos do grupo de Abbas. Os representantes dessa
corrente dizem apenas repudiar os métodos dos extremistas. Nada além. Então
ficamos assim: Abbas é contra o terrorismo, e o resto ele não quer negociar.
Prefere o que é caracterizado como declaração unilateral de independência.
Como, mundo afora, se parte do princípio de que todo o sofrimento do povo
palestino é impingido por Israel, então a narrativa das vítimas contra os
algozes está pronta para o consumo. Sim, o sofrimento daquele povo é real. Mas
ele é distorcido pela mais eficiente e azeitada máquina publicitária do
planeta, que não é a de Israel. Os israelenses, ao contrário, perderam a guerra
de propaganda. Outras causas mundiais, envolvendo muito mais gente, com muito
mais vítimas, com grau muitas vezes superior de violência, não mobilizam
ninguém. Imaginem se aqueles pobres coitados de Darfur, esmagados pelas
milícias árabes no Sudão — umas 500 mil pessoas… — merecessem 10% da atenção
que se dispensa ao conflito israelo-palestino… Mas quê… O Brasil se opôs à
condenação do governo sudanês no Conselho de Direitos Humanos da ONU. O governo
brasileiro, como sabem, tem a tese de que condenar países só piora a situação —
menos quando se trata de Israel. Nos outros casos, invariavelmente, a petezada
está sendo condescendente com ditaduras. Já a democracia israelense é tratada
aos chutes pela Escola Celso Amorim.
Houve confrontos hoje em
alguns pontos da Cisjordânia. É conseqüência direta da iniciativa de Abbas.
Caso os EUA tenham de recorrer ao veto ou a solicitação seja votada pela
Assembléia, ganhando a anuência da maioria, ainda que a representação palestina
não seja admitida como membro pleno da ONU, a tendência é que os conflitos se
exacerbem. Em suma, a forma como o pleito é encaminhado contribui para extremar
a violência, não o contrário. Israel não é uma ditadura; seu governo é eleito.
Quanto mais ameaçada se sente a população, pior.
Que importa que a esmagadora
maioria da imprensa omita do mundo o óbvio? Eu não omito. O trabalhista Ehud
Barak, primeiro-ministro entre 1999 e comecinho de 2001, aceitou conceder aos
palestinos quase tudo o que pediram — o status de Jerusalém ficou para ser
negociados mais tarde. O corrupto Yasser Arafat chegou perto do acordo. Na hora
“h”, voltou atrás, e Barak ganhou de presente a Segunda Intifada, em setembro
de 2000. O pretexto foi um passeio de Ariel Sharon pela Esplanada das
Mesquitas. Resumo da ópera: o negociador Barak perdeu o cargo para… Sharon!
Nota à margem: Barak foi o governante que saiu do Sul do Líbano — e o Sul do
Líbano caiu nas mãos do Hezbollah, cujo propósito declarado, com financiamento
do Irã, é destruir Israel. Sharon, o sucessor, saiu da Faixa de Gaza, e a Faixa
de Gaza caiu nas mãos do Hamas, cujo propósito declarado vocês sabem qual é…
Mas os palestinos são sempre
as vítimas, nunca os algozes. Vi ontem na TV uma reportagem sobre o muro que
separa a Cisjordânia do território israelense. A coisa era noticiada com aquela
sublinha da indignação: “Vejam que absurdo!” Pois é. Omite-se a INFORMAÇÃO de
que, depois da construção do muro, os atentados terroristas caíram a quase
zero. A Cisjordânia, que sempre foi controlada pelo Fatah, abrigava alegremente
os facínoras que cruzavam a linha para explodir as criancinhas nos ônibus
escolares dos “invasores”. O governo palestino não atuou para conter seus
terroristas, e o governo de Israel cumpriu a tarefa que lhe confiou a população
nas urnas: protegê-la.
Estamos diante de uma “causa”
que tem muito de herança de outros conflitos ideológicos. Só por isso não se
percebe a má consciência de fundo nesse noticiário esmagadoramente
anti-israelense. Se vocês notarem bem, parece que os palestinos não têm mais
nada a ceder. A sua grande concessão já teria sido feita: aceitar a existência
do estado de Israel — todo o resto tem de ser concedido pelo outro lado. E,
mesmo aqui, é preciso fazer uma ressalva: quem aceita a existência de Israel é
o Fatah, não o Hamas, que deu um golpe em Gaza — na verdade, venceu uma guerra
civil. Fazem de conta que Abbas representa todas as correntes palestinas e que
a questão do terrorismo já foi equacionada por aquele povo, o que também é
mentira.
Ora, Israel não existe por
vontade e decisão dos palestinos — na verdade, existe contra elas. O seu
direito de existir não é uma concessão feita pelo adversário. As concessões de
ambos os lados ainda estão por ser feitas. O que Abbas aceita negociar? O
status de Jerusalém? A volta do que chamam “refugiados”? A troca de
assentamentos judaicos na Cisjordânia por terras em outro lugar? Ninguém sabe.
Ou melhor, todos sabem: NADA! Agora ele decidiu mudar de tática: primeiro o
reconhecimento internacional, depois a conversa com Israel, que, então, será
tratado como mera potência de ocupação, como se jamais tivesse sido, ou não
seja ainda, um território sob ameaça.
Querem saber? Não vai
funcionar! Se o pleito palestino prosperar, ainda que com aquele reconhecimento
precário, a região estará ainda mais distante da paz. Se é esse o objetivo, não
se duvide de que serão todos muito bem-sucedidos. E a agência publicitária
palestina poderá continuar com o seu trabalho de vender vitimismo ao mundo. No
fim das contas, ser uma “liderança palestina na resistência” virou uma espécie
de categoria de pensamento. Se um dia a situação se resolvesse, seria preciso governar,
de fato, Gaza e Cisjordânia, o que compreende recolher o lixo, varrer a rua,
ter hospitais e escolas funcionando com eficiência, essas coisas normais de um
governo. Enquanto Israel é o inimigo de plantão, eles podem esconder a
incompetência e a tirania.
Sou voz quase isolada ao fazer
essa abordagem da questão? Estou acostumado! As omissões, mentiras e
preconceitos ideológicos que cercam a questão só me tornam mais convicto.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo
Edição: JP
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