Vitor Hugo
José Carlos Bolognese
Para nós, aposentados e ex-trabalhadores
da Varig, não há muito sentido no calendário que determina a virada de ano
entre 31 de dezembro e primeiro de janeiro. Qual a razão? Como se alguém
apertasse “pause” no controle remoto,
nós fomos congelados em 2006, o ano que para nós nunca terminou. E esses
tantos, contra as mais justas razões, persistem apertando a tecla que nos
mantêm presos a este ano sinistro. Nesses quase seis anos de tempo vivido e
desfrutado pelas pessoas normais – as que podem tocar suas vidas com a renda a
que têm direito – o ano de 2006 (e os seguintes) entre nós só terminou para
quem morreu.
![]() |
Rio de Janeiro, 31 de março de 2010 |
O Calendário que ordena a
humanidade pertence à “Ordem Natural das Coisas”. Mas em nosso país esta ordem
está sujeita aos interesses pessoais, circunscritos à geografia do poder.
Congelados em 2006, vimos no
calendário dos mortais comuns todas as classes de poder estatal aumentarem
(todos os anos) os seus megas salários, deixando as migalhas que caem da mesa
para o resto. Liberando “bolsas” e um crédito tipo corda-no-pescoço-logo-ali-adiante,
lograram ficar mais quatro anos no poder de onde não pensam em sair. Esse falso
pão com o circo Copa/Olimpíadas e eventos mil, dispensa a coreografia de choro
de enterro na Coréia do Norte para amestrar a galera. É a Ordem Natural...
deles.
Enquanto isso, a nossa
estranha bolha do tempo não nos deixando viver como seres normais, sem nos
aliviar do custo, acelera um desgaste físico, emocional e espiritual,
evidenciando a impotência de um mínimo de controle sobre a nossa própria vida.
Poderíamos – era nosso direito, pois pagamos por ele – ter vivido esse tempo
congelado desde 2006 com dignidade, sem os atropelos e as aflições que nos
impuseram. Hoje é impossível aceitar que essa imposição seja fruto de algo que
já é muito grave da parte de agentes públicos – a incompetência. E não é mesmo.
É pura maldade e mau-caratismo deliberado.
A fórmula mágica que garante o
poder nessas mãos está muito bem explicada nesta citação de alguém que não
conheço, mas invejo pela síntese impecável:
“Nesse país chegou-se a um
limite de estupidez só comparável aos outros mais atrasados do mundo. A aliança
entre os muito ricos e os muitos pobres foi a opção preferencial contra quem
trabalha e estuda, quem se esforça e conquista pelo mérito aquilo que
geralmente beneficia a todos pois, por legítimo, tende a ser abrangente e a
favor de todos.”
A destruição da Varig e as
perdas para o país; o desperdício de profissionais de qualidade e o calote nos
aposentados, se encaixam como uma luva na citação acima. Anos e anos de um
serviço de qualidade e muitos empregos decentes perdidos por essa opção
preferencial estúpida, mas muito útil a certo tipo de gente.
Mas...
Apesar de congelados num ano
sombrio que teima em não acabar, o nosso papel continua o mesmo. Só deixamos de
merecer nossos direitos se nos rebaixamos e concordamos com os que nos
maltratam. Pode ser cansativa a repetição: - Nós trabalhamos, contribuímos, cumprimos
com nossa parte no contrato. Mas a repetição na busca do que é o direito nunca
será suficiente até esse direito ser alcançado. É o que leva à real "Ordem
Natural das Coisas".
“Fé é acreditar quando o
bom senso diz o contrário.”
Vamos nos libertar de 2006!
Feliz 2012 a todos nós!
Título e Texto: José Carlos
Bolognese, 30-12-2011
Edição: JP
Relacionados:
Ano em que aeroportos vão estar cheios de turistas e se aposentados aeronautas e aeroviarios fizessem manifestações aonde trabalharam quase toda sua vida , será que daria resultado ou é melhor acomodar e esperar?
ResponderExcluir