O PÁGINA UM analisa uma recente notícia da Associated Press sobre as manifestações em Xangai e outras cidades chinesas. E aponta as falhas, agora recorrentes, da imprensa mainstream, desde a falta de contextualização política até à ausência completa e absurda de um enquadramento que tenha em consideração as mais atuais avaliações sobre a pandemia
Elisabete Tavares
A pergunta é legítima: por que
motivo a imprensa mainstream e mesmo as grandes agências noticiosas, mesmo
internacionais, publicam agora notícias importantes que apresentam falhas
graves de informação e carecem de contexto?
É por os jornalistas que as
escrevem não deterem conhecimentos e ignorarem o contexto? É por negligência ou
mesmo incompetência de editores? É propositado por indicação da política
editorial ou comercial das empresas de media?
Esta semana, de novo, volta a
repetir-se um cenário que tem sido comum desde o início da pandemia: notícias
de agências noticiosas internacionais, divulgadas em massa pelos restantes
meios de comunicação social, apresentam graves falhas de informação e de
contexto.
O caso de divulgação de
notícias com falta de contexto, e até tendenciosas, por parte de agências
noticiosas, é mais grave devido ao fenómeno das notícias recicladas –
denominado como churnalism.
Notícias são replicadas até à exaustão sem a devida verificação de factos e sem
que os meios de comunicação social que as replicam assumam qualquer
responsabilidade pela sua veracidade e qualidade.
Saliente-se, desde já, que as
agências noticiosas são cruciais e o seu trabalho é de fundamental importância.
Habitualmente, é através das agências que os restantes meios de comunicação
social conseguem rapidamente obter informação de todo o Mundo sobre conflitos
ou catástrofes repentinas, mas também sobre todo o tipo de temas da atualidade,
por terem correspondentes sempre presentes. Mas as redacções destas agências
têm vindo a ser emagrecidas. Jornalistas com mais experiência são demitidos e,
quando substituídos, surgem outros com pouca experiência.
O advento da Internet e das
redes sociais teve um papel relevante, já que hoje muita informação surge
diretamente de internautas. O Mundo está muito mais rápido. Mas nada disto
serve como justificação para as falhas que notícias cruciais continuam a
apresentar. E ainda mais nos últimos anos.
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