Cláudio Dantas
Hugo Motta é um homem hábil e, a partir de hoje, sabemos que sua principal habilidade é a de ventríloquo. Ou melhor, a de um boneco de ventríloquo, que é aquele que mexe a boca enquanto outro fala, sem que ninguém perceba, sem nem mexer os lábios. Eu sei disso por que hoje vi, com meus próprios olhos, Motta dizendo que a Nova República surgida da Constituição de 1988 é um regime que nada lembra à Ditadura inaugurada em 1964.
Ninguém me contou. Eu vi e a
TV Câmara gravou e toda a internet pode ver também. Da cadeira de Presidente da
Câmara, o presidente da Câmara mexe a boca, enquanto uma voz muito parecida com
a sua diz que “não vivemos mais as mazelas do período em que o Brasil não era
democrático”. “Não tivemos mais jornais censurados, nem vozes
caladas à força. Não tivemos perseguições políticas, nem presos ou exilados políticos.
Não tivemos crimes de opinião ou usurpação de garantias
constitucionais.”
Eu tenho certeza de que não
foi Motta a pronunciar essas palavras, pois o deputado até
pouco tempo dizia que o 8 de janeiro não havia sido um golpe, que o PL
da Anistia avançaria na Câmara e que sua gestão
recobraria a autonomia tão cara ao Legislativo, o que, na prática,
significa admitir que vivemos um período de exceção, no qual o STF usurpa
funções de outros poderes, persegue a oposição, prende e cala críticos.
Um período em que o STF prende e condena a 17 anos de cadeia uma cabeleireira que pintou de batom a estátua da Justiça como forma de protesto, protestando justamente contra o ativismo de um Judiciário que escolheu um lado da política e que chama aqueles do lado derrotado de manés. Um período em que corruptos são soltos por filigranas jurídicas, enquanto políticos e ativistas são condenados por ousarem se indignar.
Lógico que não era Hugo
Motta falando por ele mesmo, pois ontem mesmo um colega seu da Câmara decidiu
não voltar ao Brasil com medo de ser preso numa arapuca montada pelo partido do
governo com a cúpula do Judiciário.
Esse deputado é filho do ex-presidente que
será julgado por ministros que não se consideram impedidos, mesmo um deles
sendo ex-advogado do atual presidente, outro um claro
opositor e ex-chefe das forças federais de segurança que não impediram
a invasão do 8 de janeiro e um terceiro sendo ele mesmo vítima de
um suposto plano de assassinato que é
atribuído ao ex-presidente.
Tenho certeza de que não
era Hugo Motta falando, pois ele sabe que jornais,
revistas e influenciadores foram censurados de todas
as formas e que redes sociais inteiras foram suspensas
no Brasil por não cumprirem ordens secretas e ilegais para
derrubada de posts e perfis. O presidente da Câmara é
um homem esclarecido e está perfeitamente ciente de todo
o arbítrio vivido na atual quadratura, um ditadura pior
que a de 64, pois do Judiciário.
Quem falava por Motta enquanto
ele abria boca era José Dirceu, a quem abraçou efusivamente em
sua festa de aniversário dias atrás. Quem falava por Motta enquanto
ele abria boca era Lula, a quem prestigiou no lançamento de
uma reforma de renda populista e irrealizável.
Quem falava por Motta enquanto
ele abria a boca era Alexandre de Moraes, com
quem jantou na véspera acompanhado de Paulo
Gonet, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Dias
Toffoli, Edson Fachin, Nunes Marques, Luiz Fux e Flávio Dino. Quem
falava por Motta era José Sarney, que estava
a seu lado durante o discurso em comemoração aos 40 anos
da redemocracinhação.
São tantas vozes falando
por Motta que me pergunto se ele algum dia teve voz própria,
ou se é como todo boneco de ventríloquo, oco.
Título, Vídeo e Texto: Cláudio
Dantas, 19-3-2025
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