Aparecido Raimundo de Souza
Com o decorrer dos dias e dos meses, passastes a ser o sol colorido que nasceu em meu caminho de tantos insucessos e tristezas. Em ti, por conta de uma loucura incontrolável, depositei as minhas frustrações e encontrei guarida para enfrentar, sem esmorecer, as sucessões de eventos sórdidos semeados pelo destino mal e cruel que insistiu em nos acompanhar durante a longa jornada de existência à dois. Em tua vida, fui a primeira paixão ultrapassando o Ponto-G. Submerso em ideias tresloucadas, plantei em teu útero, as sementes do afeto e da iniciação às coisas maviosas da entrega total. Espalhei pelo teu sangue o meu DNA. Tornamos, de repente, um só ser. Nos entregamos um ao outro de forma tremendamente complexa, tão sem sentido que às vezes tínhamos medo de nossas próprias reações diante das outras pessoas. “Certos momentos de nossas vidas – disse alguém mais experiente que nós, tem o mesmo efeito daquele pozinho do mundo dos sonhos que os jovens costumam provar, às escondidas de seus pais, para fugirem de determinadas realidades ou afundarem ainda mais dentro delas.“
Ainda agora, concordo, em parte, com tal pensamento. A bem da verdade, nunca precisamos apelar para este ou qualquer outro sacrifício, sabíamos, poderia nos levar à morte. Tampouco, carecíamos fugir de alguma realidade. Apenas mergulhamos demais dentro de nossas fantasias. Olhando para o ontem, percebo que não consegui atinar com a saída para a busca da nossa felicidade tantos anos procurada. Bem sei, em dias de hoje, nenhum “talvez” conseguiria restituir o encanto daquele mundo tão nosso, um universo paralelo repleto de amor, onde o carinho e a ternura se constituíam na fórmula mágica da empolgação plena, ao tempo em que enchia as nossas cabeças em abstrações multicoloridas, e, em consequência, nos fazia viajar para espaços distantes. E no tempo daqueles idos, tu te lembras, éramos simplesmente felizes. Porém, o quadro de nossas vidas, é outro: tu tens procurado me apagar da tua vida.
Como a ti, também tenho tentado, confesso, mas os esforços são sempre culminados em fracassos. Teu ser, como o meu, fala mais alto. Como a ti, igualmente a mim, algo contrário dita normas das quais, por mais que queiramos, recusamos terminantemente seguir. Por assim, não te posso esquecer. Teu amor explode dentro do meu peito como um vulcão. Como o ar que respiro, meu hoje me faz carente e necessitado da tua presença. No mesmo norte, teu queimor abrasante fervilha meu sangue, afeta os meus sentidos e me aprisiona na tua incandescência. Não adianta querermos nos enfiar por outras estradas, ou esmiuçar experimentando amores novos, cidades e horizontes incertos, se os nossos objetivos estão entrelaçados em veredas de iguais horizontes. É quase impossível vivermos um outro presente no incerto das coisas, ou no transcorrido que restou, ou, ainda, no amanhã que não despontou. Estamos presos ao passado. Atrelados aos destroços de um amor sublime. Nos fizemos encarcerados ao nosso destino inconsequente, mas, pense, um destino que se fez só nosso.
Sem mencionar que nos vemos atados aos primeiros dias –, aqueles que neste momento –, infelizmente são de amarguras. Querendo, ou não, viramos duas saudades ligadas pela mesma imensidão do adeus. Tu não percebes, mas tenho os olhos cegos. Os lábios selados e os ouvidos surdos. Nada consegue arrancar do mais profundo da minha alma, uma parcela do sorriso deformado, uma gota, que seja, de esperança, um gesto vago de serena tranquilidade. Me tranquei dentro de mim protegido por muros altos, construídos à base da mais pura desilusão. Lado igual, seu amor incondicional formou um círculo intransponível ao meu entorno. E o tempo inexorável, não para, apenas espera. E enquanto espera, tu te consomes em remorsos. Jogas ao léu, o pouco que ainda resta de vida dentro de ti. Sabes qual o motivo? Simples, a resposta. Não éramos felizes? Não tínhamos todos os trunfos nas mãos para conseguirmos a vitória de nossos propósitos em forma de união perenal?
Afinal, por qual ou quais motivos nos deixamos apartar? Não éramos fortes e invencíveis? Sozinho, confesso, tentei achar minhas próprias respostas. As indagações, porém, foram se multiplicando. Minuto após minuto, dia após dia. Conclusão: nasceu um vazio grande dentro do meu “eu” e bloqueou o que havia de excelente em mim. Por esta razão, me perdi. Me destruí. Me esqueci, me anulei! Agora, depois de tudo, não tenho a ti. Não tens a mim. Não te encontro. Não me procuras. Consumimos as últimas forças do corpo. Buscamos um “não sei o que” dentro destas miudezas estranhas e inexplicáveis que nos cercam diariamente depois que tudo se acabou e virou saudade. Até quando? Tu acaso sabes responder? Nem eu!... Em meio a este proceloso mar de fortes ondas e mais, premido entre os destroços retorcidos de nós dois, só meu pranto me restou de tudo. Só meu pranto, nada mais. Pelo que deixei posto, não te esqueças: voltei das profundezas do teu eu e reaparecerei sempre. Regressarei quantas vezes forem necessárias, só para te dizer: ainda não te esqueci. E tenho certeza, acredite, jamais o farei em sã consciência. A não ser que me leves contigo, para os auspiciosos e imorredouros jardins floridos que ainda reverberam dentro de nós.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Linhares, no Espírito Santo, 25-3-2025
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Cujo
Flauta agreste
Rito pagão
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