Júlia Nery
Pelos meus olhos vem o mundo entrando em mim.Com eles vejo
mar, terra e gentes, não o fim.
Com eles sinto
o falar de formas e cores.
Também afago
meus amigos e meus amores.
Com os olhos vejo
o mal e tudo o que não queria,
ódios a crescer,
mas também bondade, harmonia.
Meus olhos falam
às vezes, sem nada eu dizer:
assim revelo
quem sou, a quem os souber ler.
Meus olhos e eu choraremos,
quando nada houver para ver.
Na despedida do mundo,
na minha hora de morrer.
Júlia Nery

Pelos meus olhos,
ResponderExcluirMinha cara amiga Julia Neri, me perdoe, mas do alto da minha estupefação, vejo o mundo (ou melhor dito, o que restou dele, se acabando, se deteriorando, se desmanchando, enquanto os nossos ‘pulíticos’ notadamente os ‘onestos’ se fartam com tudo do bom e do melhor, em hospitais de última geração, com equipes de primeira linha, um time especializado e caro. Vejo, diz a amiga, ‘pelos meus olhos’, que apesar de valores assombrosos, essas criaturas do inferno se beneficiam do ‘bem bom’ e do melhor existente, com dinheiro pago com os nossos impostos e tributos. Nós somos, cara amiga, e meus olhos me mostram tudo isto, nós somos os humildes, os depauperados, os ‘desescolhidos’, os miseráveis de venda nos olhos, os imbecis ‘tapaolhados’ e os sem noção. E ao invés de uma mancha de batom, não existe nenhuma cabelereira que pinte em nossa fuça, um quadro menos sofrido. Pelos meus olhos me deparo também com ‘pulíticos’ corruptos, que estão interessados em continuar no Poder; seguir para foder os caraminguados, os infelizes que se alimentam de um futuro que nunca chegará. Por conta, com meus olhos, todos os dias, além de ver, encontro pessoas morrendo em filas do INSS. Vejo fila enormes em busca de socorro... nos PAs, nas UPAS e nos grandes hospitais do SUS, Brasil afora, contemplo, estarrecida, crianças mal atendidas, idosos espalhados pelos corredores à espera da morte. Faltam leitos, faltam leite, faltam soro, faltam máscaras, falta sobretudo a ‘falta de vergonha’, a falta de pudor, a falta de uma infâmia conhecida como S O L I D A R I E D A D E. Vejo, pelos meus olhos, filas quilométricas médicos incompetentes, a saúde em estado desesperador. Na verdade, a saúde está morta, falecida igualmente por falta de socorro. Entendo, em vista deste quadro lúgubre, só carece de um filho da puta de peito, que tenha três de colhões, dar o ar da graça de cara limpa, vir e dispensar um enterro digno para os restos mortais da saúde. ‘Pelos meus olhos, vem um mundo estranho entrando em mim’, um mundo sem cultura, sem pudor, sem decoro. Fico sem voz, pela falta de vergonha de caráter de quem deveria cuidar de seu, do nosso Estado, da nossa Terra, cuidar com zelo, carinho afeição, acolhida, dedicação, benevolência, entusiasmo, simpatia, enfim... vejo um porvir aterrador, desleal, um abismo sem volta, onde mais a frente, questão de tempo TODOS NÓS CAIREMOS.
Carina Bratt, de Atafona, ou melhor, do que restou dela, Rio de Janeiro.