terça-feira, 18 de novembro de 2025

[Livros & Leituras] O Arquipélago Gulag

Aleksandr Soljenítsin, traduzido do russo por António Pescala, Sextante Editora, Porto, janeiro de 2023, 592 páginas. 

Escrito clandestinamente de 1958 a 1967, o manuscrito de "O Arquipélago Gulag" foi descoberto pelo KGB em 1973, na sequência da prisão de Elizabeth Voronskaïa, uma colaboradora de Soljenítsin que o datilografava.

Na sequência disso, Soljenítsin, que tinha sido galardoado com o Prémio Nobel em 1970, decide publicar o livro no exterior.

Uma primeira edição em russo é publicada em Paris ainda em 1973 e depois finalmente a edição francesa, no verão de 1974.

Soljenítsin fora, entretanto, preso, acusado de traição, despojado da nacionalidade soviética e enviado para o exílio, onde estará vinte anos, até ao seu regresso à Rússia em 1994. 

Para realizar este extraordinário livro, Soljenítsin foi ajudado pelo testemunho de 227 sobreviventes dos campos do Gulag.

O livro agora publicado pela Sextante, no âmbito do projeto de edição em língua portuguesa das principais obras do autor, é a versão abreviada, num só volume, preparada por Soljenítsin e por sua mulher, Natália, com o objetivo de tornar mais acessível este livro aos leitores estrangeiros e a novos leitores.

Traduzida diretamente do russo por António Pescada, eis pois uma obra excepcional, um livro de combate contra o totalitarismo de face estalinista, um livro que ainda hoje nos queima as mãos. 

Não esqueçamos as palavras de Soljenítsin: «Devemos condenar publicamente a ideia de que homens possam exercer tal violência sobre outros homens. Calando o mal, fechando-o dentro do nosso corpo para que não saia para o exterior, afinal semeamo-lo.»

Inacreditável! De leitura obrigatória!
📖📖📖📖📖

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Discurso de Alexander Soljenítsin em Harvard em 8 de junho de 1978

2 comentários:

  1. Eu li e relí “O Arquipélago Gulag”. É uma obra ao meu ver pessoal, uma maravilha monumental, de fôlego, de coragem de um sujeito rotulado como “macho pra burro” lembrando palavras do saudoso José Mauro de Vasconcelos em seu romance “Rosinha minha canoa”. Soljenítsyn denuncia, com força literária e histórica, os horrores do sistema de campos de trabalhos forçados da União Soviética sob a batuta de um tal de Stalin. É ao mesmo tempo uma espécie de testemunho pessoal, entrelaçada a memória coletiva e igualmente a reflexão filosófica sobre o poder, a liberdade e a dignidade humana. Muito parecido com a situação atual do nosso querido e fodido Brasil. Essa escrita sem precedentes foi publicada em 1973 por Aleksandr Soljenítsyn. No geral, o livro reúne relatos de se não me engano, 200 e poucos sobreviventes, além da própria experiência do escritor como um prisioneiro. O título faz referência a um “arquipélago” de prisões e campos espalhados pelo território soviético, conectados como ilhas de repressão. Aqui no Brasil a ilha de repressão seria “Brasília” e por baixo dos panos, a “Papuda”, bem ainda os tais poderes constituídos, com atenção especial para o fantástico circo de palhaços conhecido como STF. Soljenitsyn, originariamente fez o lançamento em três volumes, o que na edição original ultrapassava mais de mil páginas, todavia, quem tiver interesse, existe uma versão condensada em livrarias, como também em sebos. A obra mostra como as pessoas eram presas por motivos banais: roubar um celular, grosso modo, balas das mãos de uma criança, um saco de açúcar no supermercado ou até uma calcinha numa loja de departamentos podia resultar em dez anos de prisão. Voltando ao Brasil, O Arquipélago não está muito longe das barbaridades condensadas no Gulac existente bem aqui debaixo dos nossos narizes. Por outro prisma, o livro expõe sem melindres a lógica brutal do regime, tipo as punições desproporcionais, os interrogatórios violentos e a desumanização sistemática. Exemplo? Vou dar apenas um. Lembram daquela cabelereira que passou batom no rabo, digo, na fuça da Estátua da “justraça” para mostrar a sua contrariedade em face do sistema Gulac brasileiro? Não vou me dilatar mais no assunto, ou acabarei cantando pra vocês com minha voz de taquara rachada, aquela música de AnaVitória e Victor Kley e como eles, dilatando além das contas, as minhas pupilas.
    Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.

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