domingo, 16 de junho de 2024

[As danações de Carina] Pérolas nacaradas

Carina Bratt

‘O mundo se perdeu do amor. No lugar dele, apareceu a febre da Vingança. No agora do hoje, ela fala mais alto aos corações.’
Pacha

POETAS, MUNDO AFORA, em poucas palavras, nos encantam e nos inebriam. Em modestos deslumbrosos, nos falam em segredos; nos resgatam das tristezas; nos alentam. Dão o recado e nos deixam boquiabertas. Quiçás atônitas, os olhos esbugalhados diante de suas singelas criações.


O que hoje trago em minhas ‘Danações de um domingo maravilhoso,’ nada mais –, nada menos –, pequenas demonstrações de criaturas divinas, espalhadas Brasil e rincões afora. Percebam amigas e leitoras. Pessoas simples; muitas delas não famosas; sem a chama do estrelato; ou sem a glória etérea dos holofotes.

Todavia, em face do que escreveram, euzinha as considero divinas. Almas simplórias, os corações soltos ao sabor de um vento tépido. Encantadores de sonhos benfazejos, de esperanças imorredouras... de alegrias e saudades, de amores novos e antigos.

Seres, pois, dotados de uma visão fenomenal. Em apenas quatro linhas –, quatro linhas apenas –, bastaram para que captássemos e entendêssemos o que nos pretendiam dizer. E conseguiram! Sem floreios, sem termos difíceis, sem orações rebuscadas. À tais dádivas, euzinha chamaria, ou melhor, rotularia de GRAÇAS.

Portanto, amigas e leitoras das minhas ‘Danações.’ Seguem, abaixo, alguns inesquecíveis desvelos. Prendas e esmolas (no bom sentido), vocações geradas em redutos de ventres ternos. Donativos vivificados no recôndito da mais completa competência.

Enfim, num sem fim dado, ou doado, ou ainda, cedido e outorgado pelo Pai Maior, Deus. Vamos, pois, sem mais delongas, saborear intensamente cada um destes embevecimentos, ou dito de forma mais simplória, destas graciosidades e galhardias?

Relendo o livro da vida
quando a solidão me invade,
em cada página lida,
sempre encontro uma saudade...
Ercy Maria Marques de Faria, de Bauru, São Paulo

Quer tenha ou não tenha sorte
na vida que Deus lhe deu,
não pode fugir à morte
todo aquele que nasceu
Deodato Pires, de Olhão da Restauração, no cálido e abençoado Portugal

Descendo esta escadaria
Onde ela vai me levar?
Se eu soubesse eu desceria;
Como não sei, vou ficar!
Nemésio Prata, de Fortaleza, no Ceará

É no afago dos seus braços
que me enlaçam com calor,
que eu me esqueço dos cansaços
quando chego do labor.
Licínio Antonio de Andrade, de Juiz de Fora, Minas Gerais

A ciência hoje é um colosso,
com tudo fora de centro:
faz laranja sem caroço,
gravidez sem filho dentro...
A. de Assis, de Maringá, Paraná 

Este amor que te declaro
é tão puro e tão bonito
que, ao medi-lo, eu o comparo
à grandeza do infinito!
Antonio Tortato, de Paranacity, no Paraná

Ao vir ‘de fogo’ recua
gritando, após a topada:
que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
Therezinha Dieguez Brizolla, de São Paulo, capital

Solidão, eu te bendigo!
À tua sombra querida,
eu marco encontro comigo
e acerto os passos da vida
Carolina Ramos, de Santos, São Paulo

Mãe é exemplo de amor
que nós na vida tivemos
e damos real valor
somente quando a perdemos.
Emilia Peñalba de Almeida Esteves, Porto, Portugal

Além, no horizonte, à borda
de um infinito sem véu
o lindo arco-íris é a corda,
que os anjos pulam, no céu!
Domitila Borges Bel Trame, de São Paulo, capital

Pensar em ti como eu penso
e muito tenho pensado,
diz, a rir, o meu bom senso,
que é o meu divino pecado
Heitor Stockler de França, de Palmeira-Paraná,1888-1975, Curitiba, Paraná

Nas noites claras de lua,
no desenho da calçada,
vejo a silhueta tua
a minha sombra abraçada.
Olympio Coutinho, de Belo Horizonte, Minas Gerais

Mesmo após tua partida,
te busco na multidão...
sem você não tenho vida,
levaste meu coração!
José Feldman, de Campo Mourão, no Paraná

Um longo teste ela fez,
de cantora com requinte:
— Cantou somente uma vez
mas foi cantada umas vinte

Diz o sapo co’ azedume:
— A rã não está feliz,
Pois não é de seu costume
Torcer o belo nariz.
Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha no Espírito Santo

Título e Texto: Carina Bratt, de Santo André, São Paulo, Capital, 16-6-2024

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