Carina Bratt
Seguem abaixo, algumas pérolas que encontrei no livro do escritor João Bafo, ‘O Noviço Rebelde’ (Capa em anexo) pela Editora do Autor-Desconhecido, São Paulo, 80 páginas, 1ª Edição, março de 2022
DURANTE AS REFEIÇÕES, cuspa nas mãos e as esfregue com vontade na
toalha da mesa do café da manhã. Dê preferência em limpar seu traseiro no pano
de prato onde a empregada de sua genitora enxuga os apetrechos da cozinha.
Vomite na mesa à hora do almoço, ou se preferir, durante o jantar. É tiro e
queda. Pegue uma carreta dessas bem pesadas para saber como é legal passar por
cima dos carros pequenos sem carecer de empregar muita força. Faça um curso de
fotografia e depois de diplomado, clique a sua irmã sentada no vaso sanitário limpando
o canal do rego após ter sujado a bunda.
No domingo, participe
da Santa Missa na Igreja Matriz. Cante uma música do Pabllo Vittar na hora em
que o padre estiver fazendo seu sermão para arrecadar fundos para a manutenção
e a gasolina do carro novo que ele comprou. Se ninguém se irritar, mande todo
mundo para o raio que o parta e chame o sacristão de bicha. Mostre respeito
pelos policiais da delegacia local. Não se esqueça. O primeiro trombadinha
armado que balançar o esqueleto em sua frente, dê-lhe um belo chute no meio dos
colhões. Jogue o lixo do banheiro na frente da residência do prefeito, ou no
quintal do juiz titular do fórum local.
Surpreenda os que você ama com presentes interessantes e caros: à sua namorada, esposa, amante ou “ficante,” envie uma cueca vermelha bem suja de merda e um par de charutos cubanos e a foto da Madona autografada pela cantora Gretchen. Ajude um velhinho a atravessar a rua. Solte o cachorro brabo do vizinho para que ele morda algum transeunte desprevenido ao passar em frente ao seu portão. Ajude um idoso a cruzar para a outra calçada e exija uma gorjeta razoável. Se houver recusa, volte com ele para o lugar de antes ou o deixe parado no meio da avenida. Roube a bengala de um cego e saia correndo dando com ela na cabeça do delegado quando ele cruzar seu caminho.
Ao tomar um ônibus
lotado encoste seu “amigo lá de baixo” e se esfregue numa passageira que esteja
também viajando em pé. Se ela olhar para os lados com ares de espanto (por
estar sentindo alguma coisa incomodando os seus escondidos), finja que não está
nem aí para as caras feias que por mero acaso forem dirigidas à você. Insista:
se alguém se meter à besta, enfie os dedos de sua mão na boca do motorista.
Nunca compre cigarros. Fume o dos amigos que jamais deixaram você na mão a ver
fumaça saindo da boca torta de um bêbado.
Crie o hábito de fazer
coisas boas pelas pessoas sem que elas descubram que foi você o autor: à sua
sogra, por exemplo, mande uma perereca assada com farinha de mandioca. Ao seu
vizinho chato, nada melhor que uma cobra dessas bem venenosas numa caixa de sapatos...
e, para o marido da sua vizinha gostosona, que costuma andar pelada em frente à
janela do quarto, encomende à funerária local que lhe faça entrega de um caixão
mortuário acompanhado com uma coroa de flores. Não esqueça o cartão de “boa
viagem” ao extinto. À sua tia pegajosa, empurre a longeva para dentro da
piscina. Nunca leia a Constituição Federal. Você não vai entender nada mesmo.
Deixa que os engravatados de Brasília façam isso sem que você canse as suas
vistas lendo aquilo que não existe em nossa realidade.
Apesar dessas máquinas
de escrever antigas estarem fora do mercado, aprenda a datilografar numa
saudosa Remington. Depois compre um computador de última geração e contrate uma
digitadora de pernas bonitas que deixe a calcinha à mostra e a sua esposa furiosa.
Tenha grandes ambições: assalte um banco, belisque o “folgadão” que namora a
sua filha adolescente, derrube café quente no vestido da beldade que trabalha
na farmácia do bairro, e, se quiser fazer história, jogue uma bomba num ônibus
cheio de menores infratores ou, se pretender ir além, alcançando o estrelato,
encaminhe para o espaço, com passagem só de ida, um desses políticos safados
que vivem agarrados nos cabelos encaracolados de nossos sacos escrotais.
Mantenha o foco em
esvaziar os pneus dos carros estacionados ao longo das ruas do seu bairro. Mire
as ambulâncias, os caminhões dos bombeiros e as viaturas policiais. Faça careta
e mostre à língua quando ver mulheres feias e homens destituídos das benesses
de um corpo saradão. Mantenha um botijão de gás reserva na cozinha do seu
apartamento. Provoque um incêndio. Mas atenção, muito cuidado. Se algo der
errado, corra e se esconda imediatamente na geladeira do amante da sua “cara
metade” ou melhor dito, salte, em contínuo, pela janela e abrace a primeira
enfermeira que encontrar pela frente no Postinho de Saúde. Caso a sua casa não
tenha janela, ou saída de emergência, ou você não consiga agarrar a enfermeira,
se ajoelhe e rogue à Deus que lhe perdoe os pecados quando bater na porta do
céu fantasiado de “p-i-c-a-d-i-n-h-o.”
Esclarecimentos
importantíssimos:
1) ‘João Bafo’, nome do
saudoso João Manoel Xavier do Nascimento, vulgo ‘João Bafo de Onça.’ João veio
ao mundo no banco traseiro de um Chevrolet Opala-taxi 1970, quando a sua mãe se
dirigia a uma maternidade em Realengo. Atualmente esse simpático senhor repousa
tranquilo e sem pagar aluguel numa cova abandonada no Cemitério de Irajá.
2) Mantive a grafia
original conforme foi escrita no livro.
Título e Texto: Carina Bratt, da Represa de Guarapiranga, em São Paulo,
9-6-2024
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Ele
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