domingo, 9 de junho de 2024

[As danações de Carina] Dicas sem gastar muito para tornar a sua vida melhor

Carina Bratt

Seguem abaixo, algumas pérolas que encontrei no livro do escritor João Bafo, ‘O Noviço Rebelde’ (Capa em anexo) pela Editora do Autor-Desconhecido, São Paulo, 80 páginas, 1ª Edição, março de 2022



DURANTE AS REFEIÇÕES, cuspa nas mãos e as esfregue com vontade na toalha da mesa do café da manhã. Dê preferência em limpar seu traseiro no pano de prato onde a empregada de sua genitora enxuga os apetrechos da cozinha. Vomite na mesa à hora do almoço, ou se preferir, durante o jantar. É tiro e queda. Pegue uma carreta dessas bem pesadas para saber como é legal passar por cima dos carros pequenos sem carecer de empregar muita força. Faça um curso de fotografia e depois de diplomado, clique a sua irmã sentada no vaso sanitário limpando o canal do rego após ter sujado a bunda.

No domingo, participe da Santa Missa na Igreja Matriz. Cante uma música do Pabllo Vittar na hora em que o padre estiver fazendo seu sermão para arrecadar fundos para a manutenção e a gasolina do carro novo que ele comprou. Se ninguém se irritar, mande todo mundo para o raio que o parta e chame o sacristão de bicha. Mostre respeito pelos policiais da delegacia local. Não se esqueça. O primeiro trombadinha armado que balançar o esqueleto em sua frente, dê-lhe um belo chute no meio dos colhões. Jogue o lixo do banheiro na frente da residência do prefeito, ou no quintal do juiz titular do fórum local.

Surpreenda os que você ama com presentes interessantes e caros: à sua namorada, esposa, amante ou “ficante,” envie uma cueca vermelha bem suja de merda e um par de charutos cubanos e a foto da Madona autografada pela cantora Gretchen. Ajude um velhinho a atravessar a rua. Solte o cachorro brabo do vizinho para que ele morda algum transeunte desprevenido ao passar em frente ao seu portão. Ajude um idoso a cruzar para a outra calçada e exija uma gorjeta razoável. Se houver recusa, volte com ele para o lugar de antes ou o deixe parado no meio da avenida. Roube a bengala de um cego e saia correndo dando com ela na cabeça do delegado quando ele cruzar seu caminho. 

Ao tomar um ônibus lotado encoste seu “amigo lá de baixo” e se esfregue numa passageira que esteja também viajando em pé. Se ela olhar para os lados com ares de espanto (por estar sentindo alguma coisa incomodando os seus escondidos), finja que não está nem aí para as caras feias que por mero acaso forem dirigidas à você. Insista: se alguém se meter à besta, enfie os dedos de sua mão na boca do motorista. Nunca compre cigarros. Fume o dos amigos que jamais deixaram você na mão a ver fumaça saindo da boca torta de um bêbado.

Crie o hábito de fazer coisas boas pelas pessoas sem que elas descubram que foi você o autor: à sua sogra, por exemplo, mande uma perereca assada com farinha de mandioca. Ao seu vizinho chato, nada melhor que uma cobra dessas bem venenosas numa caixa de sapatos... e, para o marido da sua vizinha gostosona, que costuma andar pelada em frente à janela do quarto, encomende à funerária local que lhe faça entrega de um caixão mortuário acompanhado com uma coroa de flores. Não esqueça o cartão de “boa viagem” ao extinto. À sua tia pegajosa, empurre a longeva para dentro da piscina. Nunca leia a Constituição Federal. Você não vai entender nada mesmo. Deixa que os engravatados de Brasília façam isso sem que você canse as suas vistas lendo aquilo que não existe em nossa realidade.

Apesar dessas máquinas de escrever antigas estarem fora do mercado, aprenda a datilografar numa saudosa Remington. Depois compre um computador de última geração e contrate uma digitadora de pernas bonitas que deixe a calcinha à mostra e a sua esposa furiosa. Tenha grandes ambições: assalte um banco, belisque o “folgadão” que namora a sua filha adolescente, derrube café quente no vestido da beldade que trabalha na farmácia do bairro, e, se quiser fazer história, jogue uma bomba num ônibus cheio de menores infratores ou, se pretender ir além, alcançando o estrelato, encaminhe para o espaço, com passagem só de ida, um desses políticos safados que vivem agarrados nos cabelos encaracolados de nossos sacos escrotais.

Mantenha o foco em esvaziar os pneus dos carros estacionados ao longo das ruas do seu bairro. Mire as ambulâncias, os caminhões dos bombeiros e as viaturas policiais. Faça careta e mostre à língua quando ver mulheres feias e homens destituídos das benesses de um corpo saradão. Mantenha um botijão de gás reserva na cozinha do seu apartamento. Provoque um incêndio. Mas atenção, muito cuidado. Se algo der errado, corra e se esconda imediatamente na geladeira do amante da sua “cara metade” ou melhor dito, salte, em contínuo, pela janela e abrace a primeira enfermeira que encontrar pela frente no Postinho de Saúde. Caso a sua casa não tenha janela, ou saída de emergência, ou você não consiga agarrar a enfermeira, se ajoelhe e rogue à Deus que lhe perdoe os pecados quando bater na porta do céu fantasiado de “p-i-c-a-d-i-n-h-o.”

Esclarecimentos importantíssimos:

1) ‘João Bafo’, nome do saudoso João Manoel Xavier do Nascimento, vulgo ‘João Bafo de Onça.’ João veio ao mundo no banco traseiro de um Chevrolet Opala-taxi 1970, quando a sua mãe se dirigia a uma maternidade em Realengo. Atualmente esse simpático senhor repousa tranquilo e sem pagar aluguel numa cova abandonada no Cemitério de Irajá. 

2) Mantive a grafia original conforme foi escrita no livro.

tulo e Texto: Carina Bratt, da Represa de Guarapiranga, em São Paulo, 9-6-2024


Anteriores: 
Na solidão das almas despedaçadas 
Eu sozinha, comigo mesma 
Ele 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-