Aparecido Raimundo de Souza
Como disse, nunca cheguei até ele, não porque a sua rota seja inacessível. Ir até mavioso recanto, exige mais que passos físicos para ser alcançado. É uma espécie de Éden de serenidade acolhedora, onde o som das preocupações se queda inerte e abafado pelo suave da tranquilidade. As árvores, se vestem inteira de uma cor viva de alegria vívida e parecem acenar gentilmente, me convidando a sentar em uma de suas sombras e refletir com veemência sobre a beleza sabável do que foge aos sentidos. O barulho do nada é como um cristal que pode se quebrar, se a gente não souber como tocar nele. O ar também é diferente. Se faz carregado de fragrâncias profanas e heteróclitas. Geralmente traz lembranças e digressões de um futuro tipo uma província divinal que ainda não me foi possível vivenciar, a não ser em desvairamentos além da própria imaginação.
Quando entro em ansiedades meio que severas, desinquietações supliciosas, transes aperturados, me transporto para aquém do espaço que vivo agora, ou seja, me pego num mundo de rosto incógnito, de feições cerebrinas e abelhudas. Todavia, em paralelo, sinto na pele o calor das águas dos rios que por lá se espalham e correm seus leitos em amenidades. Tais águas são mornas, acolhedoras além de cristalinas e puras. Refletem o indumento do meu “eu” com uma clareza que muitas vezes não consigo vislumbrar. Quem por lá já esteve, conta que em cada nascer de um novo dia, aflora uma modorra plácida como um chão amavioso e feiticeiro, onde o tempo não tem pressa, permitindo que cada momento seja saboreado como um sorvete de chocolate, ou um vinho seco bem gelado. As montanhas, em derredor, se fazem majestosas e imponentes. Não são barreiras, mas sim guardiãs de segredos antigos, de relíquias inestimáveis esperando pacientemente por aqueles (como eu, repito), dispostos a escalar seus picos e descobrir as verdades, todas as verdades escondidas.
Ao cair da noite, as estrelas, brilham como chamas inquietas e com um fulgor que desafia a imensidão sem falar que, igualmente, são companheiras constantes, sussurrando histórias e contos de eras passadas, bem ainda de devaneios que percorrem com elevado impasse sendas que sequer imaginaram nascer. Em suma, um lugar, onde nunca me atrevi a ir, e, quem por lá passou, dá conta que os corações fadigados encontram repouso e as almas como se enlutadas, se enchem e se propagam de uma serenidade desconhecida. Talvez um dia, eu me possa permitir que a minha fantasiosidade transcenda, se expanda, se intensifique e vá além, e, mesmo primor, me guie, de verdade, até o seu recôndito. Certamente atravessarei as barreiras do real e do possível. E quando fizer isso, descobrirei, atônito, usque todo meu escondidinho em festa, que o efêmero de estupendo lugar sempre esteve aqui dentro de mim, esperando pacientemente para ser achado e revelado aos meus propósitos.
Sei que por lá existe o melhor de tudo – ou seja – o amor, esse sentimento profundo que nos une e nos faz querer explorar cada pedacinho desse lugar juntos. Imagino, um dia, quando encontrar a minha metade faltosa, nós dois, de mãos dadas, as nossas digitais se expondo em sintonia com a serenidade ao redor, certamente o aprazível lugar que ainda não achei onde é ou onde fica, se tornará ainda mais especial ao compartilhar o pitoresco da taciturnidade e, de roldão, a beleza ímpar com a “criatura-alma gêmea” que ainda não se faz presente em minha vida, embora saiba, quando se materializar verídica, o corpo físico inquestionavelmente a amarei despudoradamente. Evidentemente, os nossos olhares se encontrarão e falarão por nós. O corriqueiro se tornará desnecessário, pois o fogo ardente tanto de um, como do outro, será suficiente para preencher os espaços com a dualidade do amor angelical e imorredouro em todo o seu esplendor.
Nesse lugar, onde eu nunca fui, repetindo, incansável, só em sonhos, eu sei, os corações entristecidos encontrarão repouso e as almas se encherão de uma serenidade desconhecida. Talvez um dia, vou “redizer” o já dito acima, para que fique bem sintetizado, eu me possa permitir que a minha imaginação me guie junto com a pérola amada, e, uma vez lá, atravessando as barreiras do real e do possível, ou do irreal e do impossível, não sei, me veja repletado e imensamente realizado. O ápice acontecerá quando no meu paraíso inimaginável despir o âmago da minha cara metade das vestes e a deixar como veio o mundo. Nua. As partes pudentes expostas. Tresloucado, beijarei seu corpo, fustigarei canibalisticamente as suas reentrâncias e concavidades que nunca foram tocadas e então faremos amor. O Amor, atrelado ao Amar, entusiasmado de desejos em busca de sensações e trocas. Ao final, concluirei supremo lugar sempre esteve aqui dentro de mim, ou melhor dito, dentro de nós – e em nós, esperando pacientemente para ser revelado e vivido, lado a lado.
Oxalá, só me falta, agora, que a metade da minha malva maçã se achegue à minha beira. E se me ofereça inteira, sem melindres. Ao assim, sem mais delongas haverá o amor a se agigantar, o gostar de verdade, o sentimento profundo que nos unirá e nos fará querer explorar a estupefação do lugar juntos. Imagino, desde agora, nós dois, de mãos dadas, calçando as sandálias dos batimentos cardíacos acelerados, porém, em sintonia colossal com a lenidade ao nosso redor. Acredito, piamente, como disse no começo de minha crônica, esse lugar se tornará ainda mais especial ao compartilharmos o feérico e a beleza que nele habita. Em breve a hora especial chegará e os nossos universos se encontrarão e as palavras se tornarão desnecessárias, pois só a presença um do outro será suficiente para preencher a lacuna que em nos se fazia inerte e com o amor que florescerá num assombro que se perpetuará ad aeternum.
A cada passo que dermos, eu e ela, sentiremos a conexão se fortalecendo. O terreno, embora desconhecido, será percorrido com a segurança, aquela convicção que só o amor verdadeiro pode proporcionar. As paisagens, com suas belezas inexploradas, nos lembrarão que estamos embarcando em uma jornada de descobertas não apenas do lugar, mas também e sobretudo, de nós mesmos e do nosso relacionamento. Caminharemos juntos, sob um céu adornado por uma tapeçaria de estrelas que nos guiará e nos inspirará. E no silêncio compartilhado, encontraremos palavras não ditas, promessas silenciosas e um sentimento de pertencimento que transcenderá o tempo e o espaço.
Viveremos em um santuário onde seremos em lúcida altivez, vulneráveis, onde cada risada, cada suspiro e cada olhar serão expressões puras de amor e conexão. Também, nesse lugar, onde nunca fui, ou onde nunca fomos, os sentimentos mais sublimes se enrubesçam até encontrarem o repouso e as almas, as nossas, especificamente, se autoreferencializem até se fartarem de uma serenidade descomedida. Talvez, nesse dia, possamos permitir que a nossa imaginação nos guie até lá, atravessando as barreiras do real e do possível. Quando o fizermos, concluiremos que espetaculoso lugar sempre esteve dentro de nós, embutido num universo do sacro metafísico esperando pacientemente para ser revelado e vivido, lado a lado, ungido com o amor que estava quieto e adormecido dentro de nós só esperando o momento certo para aflorar. E como Tomasi di Lampeduza, eu me tornarei um LEOPARDO.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Governador Valadares, em
Minas Gerais, 14-3-2025
Rito pagão
A última maçã da cobra
A tristeza da lâmpada queimada
Rhayla
O laranja
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