Aparecido Raimundo de Souza
SEU LIBÓRIO CARRANCUDO marcou uma consulta logo no início da semana, com a Rosilda Fumacinha, secretária do doutor Frestincheiquimerda da Silva Barata, um urologista renomado que toda sexta-feira se deslocava de São Paulo, na capital, para atender seus clientes numa clínica recém-inaugurada em Carapicuíba, ou mais precisamente num prédio construído na Avenida Celeste, diga-se de passagem, uma das principais vias de acesso existentes naquela localidade. Para não ir sozinho, levou a filha Mariazinha Pinga Fogo, de quinze anos, tendo em vista que a sua esposa, dona Chiquinha e as duas filhas maiores, a Pâmela de vinte e a Viviane, de 28 trabalhavam fora.
Assim que chegou, se dirigiu à Rosilda Fumacinha, a bela secretária, pagou a consulta, e em troca recebeu uma senha. De posse dela, teve que esperar por mais de duas horas, em pé, (apesar de ter chegado cedo), tudo pelo fato do especialista ser famoso e bastante conceituado em sua área e igualmente pelo fato de somente dar as caras por aquelas bandas, nas sextas-feiras. Com a sala de espera abarrotada, e poucas cadeiras para acomodar a massa de pacientes, Lisbório Carrancudo e a filha careceram de tomar vários copos de água e café para acalmarem os nervos. Finalmente atendido, o doutor Frestincheiquimerda da Silva Barata lhe deu um potinho pedindo que seu Libório fosse até o banheiro e colhesse o esperma.
Após isso, não deveria ir embora, ou seja, que voltasse para dar prosseguimento a entrevista. Assim seguiu as instruções, o velho Libório Carrancudo. Trancado no banheiro, tentou com a mão direta, em seguida com a esquerda e até com as duas. Nada. Bastante encabulado, chamou a secretária Rosilda Fumacinha. Ela também tentou com a mão direita, tentou com a esquerda, com as duas, todavia, sem alcançar o resultado esperado. Não conseguindo, seu Libório Carrancudo pediu encarecidamente a um dos pacientes que no mesmo barco, esperavam vez. Esse cidadão, o Alcides Cabeludo, obviamente querendo ajudar, não se fez de rogado. Foi.
Tentou com a mão direita, com a mão esquerda, depois com as duas. Sem graça, desanimado, pediu desculpas e se retirou, encabulado. Rosilda Fumacinha, intrigada com aquele entra e sai do banheiro e levando em conta o tempo da ocupação dentro do sanitário, pelo seu Libório Carrancudo, que não saia, nem desocupava a moita, pediu ao Eduardo Negão, motorista do esculápio que desse uma forcinha ao longevo. De pronto, o Eduardo Negão se prestou a ajudar, sem maiores problemas. Ingressou no banheiro, com o velhote. Como os demais, tentou com a mão direita, tentou com a mão esquerda, tentou com as duas, e, como os antecessores, se fez por terra, tudo em vão e sem sucesso.
Furioso, seu Libório Carrancudo abespinhado e furioso, às portas de desistir da empreitada, implorou quase aos prantos, que Rosilda Fumacinha voltasse a ter com ele. Rosilda Fumacinha, sem graça, sorriso forçado no rosto vermelho, prestes a explodir e mandar o idoso para a puta que pariu, assentiu:— Seu Libório, pelo amor de Deus, não posso largar a recepção. Eu tentei, fiz um favor, seu Eduardo Negão, o motorista idem, dois outros pacientes, enfim, ninguém conseguiu...
— Pede a minha filha Mariazinha, por favor, por favor, eu imploro...
— Vou perguntar ao doutor Frestincheiquimerda se ele autoriza.
Antes de se retirar do banheiro, acrescentou, muito séria:
— Afinal, sua filha é menor de idade. Não pega bem... vou ver com o doutor, se ele libera...
Outros pacientes que aguardavam vez para ocuparem o banheiro, potinhos na mão, começaram a reclamar:
— Vai, moça, deixa a garota entrar.
Um outro se atravessou na discussão:
— Pra que incomodar o doutor?
E mais cabeças, como se alcoolizadas:
— Faça vistas grossas, moça. Preciso voltar ao trabalho. Não tenho o dia todo...
Diante de tantos protestos, pacientes querendo o dinheiro de volta, meia dúzia ameaçando chamar a polícia, Rosinha Fumacinha permitiu que a filha do idoso entrasse: Mariazinha obedeceu. Como os demais, mesmo procedimento: uma mão, outra, as duas. Constrangida, pediu para o pai fechar os olhos. Meteu a boca. Incrivelmente as tentativas se fizeram infrutíferas. Colérico, enraivecido, exaltado, destilando um amontoado de palavrões, seu Libório Carrancudo invadiu, sem pedir licença a sala do doutor Frestincheiquimerda da Silva Barata. Nervos em frangalhos e bastante entropigaitado, rugiu:
— Doutor, dá para o senhor me ver um outro potinho? Nem eu, nem ninguém aqui, incluindo a sua secretária, a minha filha e também alguns dos seus pacientes aí fora, em espera, lograram êxito em abrir este desgranhento que o senhor me deu...
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 17-6-2025.
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