Aparecido Raimundo de Souza
DIVERTICULITE SE ENCONTROU com a amiga Vesícula, na feira de domingo. Embora morassem no mesmo bairro, se tornara difícil, ou quase impossível as duas se harmonizarem. Vez outra, se esbarravam dentro do ônibus lotado, em face da linha (que rodava e cobria a localidade), com a diferença que uma pegava a condução no ponto final e a outra, seis ou oito pontos depois, quando o “quarenta janelinhas” já se fazia saturado com gente saindo pelo ladrão. Depois da troca de abraços e beijinhos, rolou o papo de sempre.
Diverticulite: — E aí, miga como você está?
Vesícula: — Vou levando, miga, como sempre, tocando o barco pra frente, às vezes remando contra a mare, outras navegando em águas calmas.
Diverticulite: — E a Tininha mais o Gustavo, como estão?
Vesícula: — Do mesmo jeito. Gustavo estudando e Tininha trabalhando...
Diverticulite: — E o Metronidazol?
Vesícula: — De emprego novo, miga. Agora se juntou ao irmão Fusobacterium, meu cunhado e abriram uma empresa de “marido de aluguel.”
Diverticulite: — Como é que é, miga? “Marido de aluguel”?
Vesícula: — Sim miga. E estão se dando bem. A empresa está indo de vento em popa. Por qual motivo o susto?
Diverticulite: — Pareço espantada?
Vesícula: — Sua cara de assombro não deixa margens a dúvidas.
Diverticulite: — Sei lá. Me explica direitinho essa história de “marido de aluguel.” Eles fazem programas? Vão nas casas quando os respectivos cobertores de orelhas não estão e transam? Partem para o sexo? Credo, miga! E você concordou com isso? Não tem medo do Metronidazol contrair uma doença e infectar você?
Vesícula: — Que diabo você pensa que o meu Metronidazol é? “Marido de aluguel”?
Diverticulite: — E estou errada?
— Vesícula: — Claro que está, sua boba. Meu Metronidazol, como “marido de aluguel” é chamado nas casas aqui do bairro e também fora dele, para mexer com problemas de eletricidade, montar uma cama, abrir uma porta emperrada, verificar vazamentos de gás, refazer pinturas de paredes e até um simples trocar de uma lâmpada queimada. Sua mente suja de ameba, pelo visto sempre pensando besteiras. Creia, meu homem não vive por aí comendo rabos de saia em cada casa quando é solicitado.
Vesícula: — Erradíssima, miga. Metronidazol não me dá nenhum tantinho assim que seja de desconfiança. É do trabalho pra casa, de casa pro trabalho... vez em quando a gente sai junto com o irmão e a mulher dele, a Lolita pra curtirmos um cineminha, ou comermos alguma coisa na praça de alimentação aqui do shopping... e você mais o Tiroide?
Diverticulite: — Igual ao seu marido. De casa pro trabalho, do trabalho pra casa... domingo uma “peladinha” ali no campinho do ginásio, todo final de tarde um encontro no bar do Epifânio para uma cervejinha com os amigos...
Vesícula: — E segue na mesma profissão?
Diverticulite: — Sim, miga. Tiroide continua fazendo Uber. Começa a labuta às oito da manhã, vai até às cinco da tarde. Não sei se te falei, Tiroide comprou um carro novo. Graças aos céus está se dando bem...
Vesícula: — Benza Deus, miga, Benza Deus... e ai: acabou de fazer as compras? Tô vendo que está com um monte de sacolas...
Diverticulite: — O de sempre. Mais o básico pra passar a semana: banana, linguiça, pé de porco, miúdos de galinha, ovos, feijão, arroz, chuchu, cenoura, abóbora, carne seca... temperos e condimentos... aqui na feira, metade do preço do supermercado.
Vesícula: — Eu idem. Sem falar nas promoções. Com exceção para as misturas. Lá em casa ninguém come pé de porco, nem linguiça, nem miúdos de galinha. Mudando de pau pra cavaco... e aquele seu vizinho que vivia te cantando, miga?
Diverticulite: — O Tinhoso? Segue no mesmo ritmo. Não desiste. Parece praga. Outro dia me agarrou dentro do ônibus. Só que se deu mal. Quando entrei ela já se fazia embarcado. Como sempre, o buzu empanturrado. Ao passar a roleta, me viu. Saliente, com a sua mesura de “uma licencinha, madame, com licença, senhorita,” veio vindo, abrindo caminho e se esfregando, se achegando, e quando se pilhou bem perto, colou seu corpo rente ao meu traseiro...
Vesícula: — Nossa, miga. E daí?
Diverticulite: — Eu estava com uma sainha curta... apressada, tentei sair da beira dele, mas como nosso meio de transporte você sabe melhor que eu, anda sempre cheio, fui obrigada a ficar quieta pior que cadela assustada...
Vesícula: — E aí? Continue...
Diverticulite: — Sem escapatória, para onde eu tentava ir ele embrenhava no encalço... e tome gente entrando... nessa hora, nem um filho de Deus tocava a campainha pra descer...
Vesícula: — Por que não lhe deu um soco naquele lugar?
Diverticulite: — Bem que tentei, miga, bem que tentei... a certa altura, percebi que ele havia tirado a arma de artilharia pra fora e levantado um pouco o meu vestido...
Vesícula: — Credo, miga!... nessa hora você reagiu ou se fez de sonsa?
Diverticulite: — Espremida e encurralada como sardinha em lata, a bunda em pânico, sem ter para onde correr e não aguentando aquele volume grosso me machucando, tomei uma decisão “meia” drástica. Aperreada como se tivesse com um prego me incomodando no sapato... dei uma de louca. Subi nas tamancas. Peguei o troço cabeçudo do Tinhoso desde a base e apertei com toda minha força. Tipo assim, miga, enraivecida, soltando fogo pelas ventas, me vi obrigada a sacrificar, com vontade, o brinquedo dele. Furiosa, cheia de ódio... na verdade, num dado momento ele até quis sair, recuar, mas a força hercúlea com que atarraquei no bruto foi tanta e tamanha que ele...
Vesícula: — Fala, miga, ele... ele o quê?
Diverticulite: — Com os colhões e o pinto sem escapatória e devido as minhas unhadas e ao descomunal apetite que empreguei triturando todo o conjunto... o filho da puta, aos prantos e sentindo obviamente imensa dor —, primeiro se mijou todo, e, em seguida, gozou na minha mão...
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do Rio de Janeiro, 13-6-2025
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