terça-feira, 3 de junho de 2025

[Aparecido rasga o verbo] Introspecção

Aparecido Raimundo de Souza

Meu ser:
— Vou confessar-te agora
a distância me apavora
sinto-me mal sem amor;
sem carinho, sem ternura...
caminho na desventura
duma senda de amargor...


sou barco vagando ao leu
nas ondas deste escarcéu
que se acercam de mim...
estou quase soçobrando
triste batel esperando
chegar, afinal, meu fim...

— Marinheiro sem guarida
tão só, ilha perdida;
sou proscrito de amor...
sente sede de afeto
este vil e pobre feto
neste mar de amargor.

E, quem eu não queria
que fizesse companhia
junto ao meu coração,
antes da sua estada,
deu seu nome na entrada:
—Eu me chamo “SOLIDÃO”.

SOLIDÃO (Soltando a voz):
— Eu trouxe também comigo
alguém pra ficar contigo
com quem terás amizade;
vai falar-te no passado
do que tenhas mais gostado
Seu nome é “SAUDADE...”

SAUDADE (Dando o recado):
— Serei tua amiga inglória
narrarei muitas histórias
de amor, de incertezas;
mas, se eu tiver que ir,
há de me substituir
minha irmã – a “TRISTEZA...”

TRISTEZA (Explicando a que veio):
— Serei o teu destino
e também teu desatino
quando estiveres a sós
principalmente agora
que o teu coração chora
embargando a tua voz...

EU:
— Ah, meu ser, que loucura
tamanha a desventura
pela qual tenho passado...
quisera morrer agora
exatamente nesta hora
estou abatido, acabado!

DOR (Entrando sem pedir licença):
— Espere, eu sou a Dor,
sinto imenso desamor
a corroer tua alma...
quero ao teu lado ficar
te dar a paz e a calma
mas preciso contigo morar...

EU (Em resposta):
— Assim falou-me a dor,
resoluta, com dulçor
implorando pra ficar
mas, ah, minha doce amada
não te posso dar pousada
se o meu amor regressar...

quisera ter em verdade
comigo a Felicidade
que se foi, sem um adeus...
deixou-me há muito tempo
dando lugar ao Tormento,
um dos parentes teus.

TORMENTO (Igualmente sem pedir permissão):
—Também quero me aconchegar,
ao teu lado... ser teu amigo,
fazer parte do teu mundo...
se não me deixares ficar,
posso até vir a soçobrar,
devido a desgosto profundo.

EU (Respondendo igualmente sem mais delonga):
— Não, Tormento, eu não te quero
fica bem longe, peço que vá
hoje, bem sei, estou perdido
mas não me pilhei, de todo, vencido,
minha Amada breve chegará.

AMADA (de fato, voltando):
— Que bom que acreditastes
na minha volta, paixão
se magoei teu coração
perdoa... eis-me aqui;
acabou a tua infelicidade
serei tua Felicidade: — eu voltei pra ficar.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de São Paulo, Capital, 3-6-2025

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