Paulo Hasse Paixão
Tucker Carlson publicou ontem um post no X sobre a questão iraniana que pode ser entendido como uma mensagem diretamente endereçada a Donald Trump, de quem tem sido um apoiante leal, desde 2016
Mark Levin was at the White House today, lobbying for war with Iran. To be clear, Levin has no plans to fight in this or any other war. He’s demanding that American troops do it. We need to stop Iran from building nuclear weapons, he and likeminded ideologues in Washington are…
— Tucker Carlson (@TuckerCarlson) June 5, 2025
Pela virtude dos seus
argumentos, que o Contra subscreve inteiramente, vale a pena traduzir o texto
para português.
Mark Levin esteve hoje na
Casa Branca, a fazer lobby a favor da guerra com o Irão. Para ser claro, Levin
não tem planos de lutar nesta ou em qualquer outra guerra. Ele está a exigir
que as tropas americanas o façam. Precisamos de impedir o Irão de construir
armas nucleares, argumenta agora ele e ideólogos com ideias semelhantes em
Washington. Estão a apenas algumas semanas de distância.
Se isto soa familiar, é
porque as mesmas pessoas têm feito a mesma afirmação desde, pelo menos, a
década de 1990. É uma mentira. Na verdade, não há nenhuma dado de inteligência
credível de que sugira que o Irão esteja perto de construir uma bomba ou tenha
planos para tal. Nenhuma. Qualquer pessoa que afirme o contrário é ignorante ou
desonesta. Se o governo dos EUA soubesse que o Irão estava a semanas de possuir
uma arma nuclear, já estaríamos em guerra.
O Irão sabe disso, e é por isso que não está a construir uma. O Irão também sabe que não é sensato desistir completamente do seu programa de armas. Muammar Gaddafi tentou isso e acabou sodomizado com uma baioneta. Assim que Gaddafi se desarmou, a NATO matou-o. Os líderes do Irão viram isso acontecer. Eles aprenderam a lição óbvia.
Então, porque é que Mark
Levin está mais uma vez a hiperventilar sobre armas de destruição massiva? Para
nos distrair do verdadeiro objectivo, que é a mudança de regime — jovens
americanos voltando ao Médio Oriente para derrubar mais um governo. Quase ninguém
dirá isto em voz alta. O histórico dos Estados Unidos de derrubar líderes
estrangeiros é tão embaraçosamente contraproducente que a mudança de regime se
tornou sinónimo de desastre. Oficialmente, ninguém a apoia. Então, em vez de
dizerem a verdade sobre os seus motivos, eles criam histeria: “Um país como o
Irão nunca pode ter a bomba! Eles vão bombardear Los Angeles! Temos que agir
agora!”
Eles não estão realmente a
falar a sério, e dá para perceber isso pelo que omitem. Pelo menos dois
vizinhos do Irão — ambos países islâmicos — já têm armas nucleares. Esse facto
deveria assustar Mark Levin. No entanto, por alguma razão, ele nunca menciona
isso. Porquê? Porque não são as armas que ele odeia. É a ideologia do governo
iraniano, e é por isso que ele está a fazer lobby para derrubá-lo.
Não é preciso dizer que há
muito poucos eleitores de Trump que apoiariam uma guerra para mudar o regime no
Irão. Donald Trump manifestou-se veementemente contra loucuras imprudentes como
essa. Trump concorreu à presidência como um candidato pela paz. Foi isso que o
diferenciou dos republicanos convencionais. Foi por isso que ele venceu. Uma
guerra com o Irão seria uma profunda traição aos seus apoiantes. Acabaria com a
sua presidência. Isso pode explicar por que tantos inimigos de Trump estão a
defender essa guerra.
E depois há a questão da
guerra em si. O Irão pode não ter armas nucleares, mas tem um arsenal temível
de mísseis balísticos, muitos dos quais apontados para instalações militares
dos EUA no Golfo, bem como para os nossos aliados e infraestruturas energéticas
críticas. A primeira semana de uma guerra com o Irão poderia facilmente matar
milhares de americanos. Também poderia colapsar a nossa economia, uma vez que o
aumento dos preços do petróleo provocaria uma inflação incontrolável. Considere
os efeitos da gasolina a 30 dólares [o galão].
Mas a segunda semana da
guerra poderia ser ainda pior. O Irão não é o Iraque, a Líbia ou mesmo a Coreia
do Norte. Embora seja frequentemente descrito como um Estado pária, o Irão tem
aliados poderosos. Agora faz parte de um bloco global chamado BRICS, que
representa a maior parte da massa terrestre, população, economia e poder
militar do mundo. O Irão tem laços militares extensos com a Rússia. Vende a
esmagadora maioria das suas exportações de petróleo para a China. O Irão não
está sozinho. Um ataque ao Irão poderia facilmente tornar-se numa guerra
mundial. Nós perderíamos.
Nenhuma dessas previsões é
exagerada. A maioria delas está de acordo com as próprias estimativas do
Pentágono: muitos americanos morreriam durante uma guerra com o Irão. Pessoas
como Mark Levin parecem não se importar com isso. Não é relevante para elas. Em
vez disso, insistem que o Irão desista de todo o enriquecimento de urânio,
independentemente de sua finalidade. Sabem perfeitamente que o Irão nunca
aceitará essa exigência. Lutarão primeiro. E, claro, esse é o objectivo da
insistência: encurralar a administração Trump numa guerra de mudança de regime
no Irão.
A única coisa que pessoas
como Mark Levin não querem é uma solução pacífica para o problema do Irão,
apesar dos benefícios óbvios para os Estados Unidos. Eles denunciam qualquer
pessoa que defenda um acordo como traidor e intolerante. Dizem-nos com toda a
seriedade que Steve Witkoff, natural de Long Island, é um instrumento secreto
das monarquias islâmicas. Dirão ou farão o que for preciso. Não têm limites.
São pessoas assustadoras. Rezem para que Donald Trump os ignore.
Tucker está, claro, carregado
de razão. E até no sentido em que a própria Tulsi Gabbard, a directora dos
serviços de inteligência da Casa Branca, já afirmou perante o Senado que não existe qualquer
indício de que o Irão está a construir armas nucleares.
Neste contexto, como no
contexto da guerra da NATO contra a Rússia, o objectivo dos poderes
oligárquicos profundamente instituídos em Washington é o de criar condições
para o apocalipse, mesmo que uma guerra contra o bloco BRICS não possa ser
ganha, como bem ressalva Tucker Carlson. Porque a ideia não é ganhá-la. A ideia
é reduzir a cinzas.
Porque só reduzindo o mundo a
cinzas haverá condições para a Fénix globalista.
Título e Texto: Paulo Hasse
Paixão, ContraCultura,
11-6-2025
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