quarta-feira, 11 de junho de 2025

Tucker Carlson e a fraude das armas nucleares iranianas

Paulo Hasse Paixão

Tucker Carlson publicou ontem um post no X sobre a questão iraniana que pode ser entendido como uma mensagem diretamente endereçada a Donald Trump, de quem tem sido um apoiante leal, desde 2016

Pela virtude dos seus argumentos, que o Contra subscreve inteiramente, vale a pena traduzir o texto para português.

Mark Levin esteve hoje na Casa Branca, a fazer lobby a favor da guerra com o Irão. Para ser claro, Levin não tem planos de lutar nesta ou em qualquer outra guerra. Ele está a exigir que as tropas americanas o façam. Precisamos de impedir o Irão de construir armas nucleares, argumenta agora ele e ideólogos com ideias semelhantes em Washington. Estão a apenas algumas semanas de distância.

Se isto soa familiar, é porque as mesmas pessoas têm feito a mesma afirmação desde, pelo menos, a década de 1990. É uma mentira. Na verdade, não há nenhuma dado de inteligência credível de que sugira que o Irão esteja perto de construir uma bomba ou tenha planos para tal. Nenhuma. Qualquer pessoa que afirme o contrário é ignorante ou desonesta. Se o governo dos EUA soubesse que o Irão estava a semanas de possuir uma arma nuclear, já estaríamos em guerra.

O Irão sabe disso, e é por isso que não está a construir uma. O Irão também sabe que não é sensato desistir completamente do seu programa de armas. Muammar Gaddafi tentou isso e acabou sodomizado com uma baioneta. Assim que Gaddafi se desarmou, a NATO matou-o. Os líderes do Irão viram isso acontecer. Eles aprenderam a lição óbvia.

Então, porque é que Mark Levin está mais uma vez a hiperventilar sobre armas de destruição massiva? Para nos distrair do verdadeiro objectivo, que é a mudança de regime — jovens americanos voltando ao Médio Oriente para derrubar mais um governo. Quase ninguém dirá isto em voz alta. O histórico dos Estados Unidos de derrubar líderes estrangeiros é tão embaraçosamente contraproducente que a mudança de regime se tornou sinónimo de desastre. Oficialmente, ninguém a apoia. Então, em vez de dizerem a verdade sobre os seus motivos, eles criam histeria: “Um país como o Irão nunca pode ter a bomba! Eles vão bombardear Los Angeles! Temos que agir agora!”

Eles não estão realmente a falar a sério, e dá para perceber isso pelo que omitem. Pelo menos dois vizinhos do Irão — ambos países islâmicos — já têm armas nucleares. Esse facto deveria assustar Mark Levin. No entanto, por alguma razão, ele nunca menciona isso. Porquê? Porque não são as armas que ele odeia. É a ideologia do governo iraniano, e é por isso que ele está a fazer lobby para derrubá-lo.

Não é preciso dizer que há muito poucos eleitores de Trump que apoiariam uma guerra para mudar o regime no Irão. Donald Trump manifestou-se veementemente contra loucuras imprudentes como essa. Trump concorreu à presidência como um candidato pela paz. Foi isso que o diferenciou dos republicanos convencionais. Foi por isso que ele venceu. Uma guerra com o Irão seria uma profunda traição aos seus apoiantes. Acabaria com a sua presidência. Isso pode explicar por que tantos inimigos de Trump estão a defender essa guerra.

E depois há a questão da guerra em si. O Irão pode não ter armas nucleares, mas tem um arsenal temível de mísseis balísticos, muitos dos quais apontados para instalações militares dos EUA no Golfo, bem como para os nossos aliados e infraestruturas energéticas críticas. A primeira semana de uma guerra com o Irão poderia facilmente matar milhares de americanos. Também poderia colapsar a nossa economia, uma vez que o aumento dos preços do petróleo provocaria uma inflação incontrolável. Considere os efeitos da gasolina a 30 dólares [o galão].

Mas a segunda semana da guerra poderia ser ainda pior. O Irão não é o Iraque, a Líbia ou mesmo a Coreia do Norte. Embora seja frequentemente descrito como um Estado pária, o Irão tem aliados poderosos. Agora faz parte de um bloco global chamado BRICS, que representa a maior parte da massa terrestre, população, economia e poder militar do mundo. O Irão tem laços militares extensos com a Rússia. Vende a esmagadora maioria das suas exportações de petróleo para a China. O Irão não está sozinho. Um ataque ao Irão poderia facilmente tornar-se numa guerra mundial. Nós perderíamos.

Nenhuma dessas previsões é exagerada. A maioria delas está de acordo com as próprias estimativas do Pentágono: muitos americanos morreriam durante uma guerra com o Irão. Pessoas como Mark Levin parecem não se importar com isso. Não é relevante para elas. Em vez disso, insistem que o Irão desista de todo o enriquecimento de urânio, independentemente de sua finalidade. Sabem perfeitamente que o Irão nunca aceitará essa exigência. Lutarão primeiro. E, claro, esse é o objectivo da insistência: encurralar a administração Trump numa guerra de mudança de regime no Irão.

A única coisa que pessoas como Mark Levin não querem é uma solução pacífica para o problema do Irão, apesar dos benefícios óbvios para os Estados Unidos. Eles denunciam qualquer pessoa que defenda um acordo como traidor e intolerante. Dizem-nos com toda a seriedade que Steve Witkoff, natural de Long Island, é um instrumento secreto das monarquias islâmicas. Dirão ou farão o que for preciso. Não têm limites. São pessoas assustadoras. Rezem para que Donald Trump os ignore.

Tucker está, claro, carregado de razão. E até no sentido em que a própria Tulsi Gabbard, a directora dos serviços de inteligência da Casa Branca, já afirmou perante o Senado que não existe qualquer indício de que o Irão está a construir armas nucleares.

Neste contexto, como no contexto da guerra da NATO contra a Rússia, o objectivo dos poderes oligárquicos profundamente instituídos em Washington é o de criar condições para o apocalipse, mesmo que uma guerra contra o bloco BRICS não possa ser ganha, como bem ressalva Tucker Carlson. Porque a ideia não é ganhá-la. A ideia é reduzir a cinzas.

Porque só reduzindo o mundo a cinzas haverá condições para a Fénix globalista.

Título e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 11-6-2025

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