Madame Bovary, Gustave Flaubert, Círculo do Livro, São Paulo (por cortesia da Livraria Martins Editora), 266 páginas.
«Madame Bovary sou eu», disse uma vez
Flaubert, a quem o êxito do seu romance publicado em 1856 acabou por irritar,
de tal modo eclipsou os seus outros livros.
Ema Bovary persegue a imagem do mundo que lhe é dada por uma certa literatura
desligada da realidade. Arrastada pelas suas ilusões, a mulher do prosaico
Carlos Bovary imagina-se uma grande amorosa.
A realidade revela-se impiedosa. E, no entanto, Madame Bovary, na
época judicialmente perseguido devido à sua «cor sensual» e à «beleza
provocadora de Ema», está longe de ser essa lição de realismo que muitos nele
quiseram ver.
***
Ainda hoje, mais de 150 anos depois de
ter vindo ao mundo, milhões de Bovarys por essas cidades fora choram e
desesperam como chorou e desesperou a heroína deste romance. Atolada na
mediocridade da vida quotidiana, entre um marido com poucas qualidades e uma
solidão que a verga, Emma Bovary vai procurar no adultério a fuga de uma
existência entediante.
De sonho em sonho, de esperança em
esperança, até à ruína final. Quem nunca foi Bovary? Quando apareceu, rebentou
o escândalo, o autor chegou a sentar-se no banco dos réus, acusado de atentado
à moral. Não admira, a crítica aos costumes e à sociedade é impiedosa. Lida,
comentada e reverenciada deste então, Bovary foi posta ao lado de Hamlet,
Quixote ou Ulisses na galeria das grandes personagens da literatura universal.
É uma obra do cânone literário
ocidental, cujo impacto e influência foram de tal ordem, que acabou por
obliterar a restante obra do escritor.
***
Uma estória de uma mulher adúltera,
portanto, infeliz; ou, uma estória de uma mulher infeliz, portanto, adúltera.
👍👍👍
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