Aproveitar a oportunidade de alguém estar a sofrer para a educar acerca de dimensões e proporções de dor é a melhor definição da antítese da empatia
Ana Moniz
– «Desde que o meu cão morreu
que não consigo sair de casa…»
E começam a aparecer as
respostas que de tão familiares até parecem empáticas:
– «Eu percebo, gostavas muito
dele, mas a vida continua!»
– «Precisas é de ir viajar!»
Há quem abdique de lamechices
e opte por dar uma ajuda prática sugerindo:
– «Porque é que não arranjas
outro?»
E por vezes aparece:
– «É só um cão, não é uma
pessoa!»
Aproveitar a oportunidade de alguém estar a sofrer para a educar acerca de dimensões e proporções de dor é a melhor definição da antítese da empatia. E aqui está a nossa maior dificuldade: somos próximos uns dos outros, mas somos intrusivos, emaranhados e intrincados. Temos muitas opiniões e gostamos de as fazer saber. Em vez da tal experiência de calçar os sapatos e ver da perspectiva do outro, calçamos-lhes uns sapatos à força e arrastamo-los para verem da nossa perspectiva e fazer o que “é óbvio” que está certo.
Viktor Frankl, psiquiatra,
psicoterapeuta e sobrevivente do Holocausto, escreveu no seu livro O homem em
busca de um sentido:
«O sofrimento de um homem é
semelhante ao comportamento do gás. Se uma certa quantidade de gás for bombeada
para uma câmara vazia, ela preencherá a câmara completa e uniformemente, não
importa o tamanho da câmara. Assim, o sofrimento preenche completamente a alma
humana e a mente consciente, não importa se o sofrimento é grande ou pequeno.
Por isso o “tamanho” do sofrimento humano é absolutamente relativo». E por
isso, sobretudo nos nossos tempos e nas grandes cidades existe dor e luto
independentemente de ser por uma pessoa ou um chihuahua.
Mas o que fazer às nossas
opiniões e juízos de valor? É que temos tantos sobre tanta coisa.
A minha sugestão seria: não
diga assim e não diga agora. É que a confiança em alguém vem de, nos momentos
de maior sofrimento, podermos estar só a contar o que se passa conosco, sem
críticas nem receitas para a vida.
Título e Texto: Ana Moniz, SOL, 24-10-2025, 9h30


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