Telmo Azevedo Fernandes
Numa recente entrevista,
António José Seguro disse que se for eleito uma das suas prioridades enquanto
Presidente da República será a questão demográfica e o problema da baixa
natalidade que deve ser atalhado através de políticas públicas. Conversa
redonda e pastosa a que ele, e outros já nos habituaram.
Mas a questão é que se discute
a natalidade como se fosse um problema técnico, económico ou fiscal. Porém, na verdade, nenhuma política pública conseguiu inverter o declínio
demográfico. Subvenções, licenças parentais, creches subsidiadas — tudo isso
tem impacto mínimo. No máximo podem antecipar uma gravidez que já estava
planeada, mas não criam o desejo de gerar nova vida. Ninguém decide ter filhos
por decreto do Estado.
Mesmo os países ricos, com
amplas redes sociais, veem as suas populações encolher. Por quê? Porque o modo
como olhamos a vida mudou. Ter filhos deixou de ser uma necessidade e passou a
ser uma escolha existencial. E essa escolha tem um preço, um custo de
oportunidade gigantesco. Cada filho representa tempo, energia, renúncia, e uma
interrupção do percurso profissional.
À medida que aumenta o nível
de instrução e se adia a primeira gravidez, o custo de oportunidade cresce —
não apenas em dinheiro, mas em projetos, ambições e sonhos adiados.
O colapso demográfico não é
económico. É cultural, espiritual e moral. É esta a conclusão de uma
investigadora norte-americana cuja argumentação procurei resumir num artigo
meu de agosto passado no Observador. Uma sociedade que não acredita no
transcendente, que vê a maternidade como opressão, não gerará vida nova.
Se se quiser romper com a narrativa anti-natalista e inverter o declínio, precisamos de recuperar a dimensão espiritual da família, a liberdade de escolher uma escala de valores diferente e desalinhada da norma e a coragem de dizer que a vida é um bem em si mesma. Deve-se defender as causas profundas da natalidade, não paliativos fiscais ou políticas públicas inconsequentes e até contraproducentes.
Portanto, ao contrário do que
deixou entender Seguro, ao Presidente da República não cabe desenhar nem
promover políticas natalistas, mas sim restaurar o horizonte moral e simbólico
em torno da família e da transmissão da vida. Cabe-lhe recordar à sociedade que
a natalidade não é uma estatística, mas um sinal de esperança e continuidade
civilizacional. Deve inspirar um quadro cultural que revalorize o casamento e
devolva dignidade pública à maternidade e à paternidade.
Um Presidente da República
deve desafiar o Estado a criar um ambiente de liberdade, segurança e confiança
onde as famílias possam florescer, sem dependência nem medo do futuro.
A minha crónica-vídeo de
ontem, aqui:
Título, Texto e Vídeo: Telmo Azevedo Fernandes, Blasfémias, 23-10-2025
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