quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Nenhuma política faz nascer um filho

Telmo Azevedo Fernandes

Numa recente entrevista, António José Seguro disse que se for eleito uma das suas prioridades enquanto Presidente da República será a questão demográfica e o problema da baixa natalidade que deve ser atalhado através de políticas públicas. Conversa redonda e pastosa a que ele, e outros já nos habituaram.

Mas a questão é que se discute a natalidade como se fosse um problema técnico, económico ou fiscal. Porém, na verdade, nenhuma política pública conseguiu inverter o declínio demográfico. Subvenções, licenças parentais, creches subsidiadas — tudo isso tem impacto mínimo. No máximo podem antecipar uma gravidez que já estava planeada, mas não criam o desejo de gerar nova vida. Ninguém decide ter filhos por decreto do Estado.

Mesmo os países ricos, com amplas redes sociais, veem as suas populações encolher. Por quê? Porque o modo como olhamos a vida mudou. Ter filhos deixou de ser uma necessidade e passou a ser uma escolha existencial. E essa escolha tem um preço, um custo de oportunidade gigantesco. Cada filho representa tempo, energia, renúncia, e uma interrupção do percurso profissional.

À medida que aumenta o nível de instrução e se adia a primeira gravidez, o custo de oportunidade cresce — não apenas em dinheiro, mas em projetos, ambições e sonhos adiados.

O colapso demográfico não é económico. É cultural, espiritual e moral. É esta a conclusão de uma investigadora norte-americana cuja argumentação procurei resumir num artigo meu de agosto passado no Observador. Uma sociedade que não acredita no transcendente, que vê a maternidade como opressão, não gerará vida nova.

Se se quiser romper com a narrativa anti-natalista e inverter o declínio, precisamos de recuperar a dimensão espiritual da família, a liberdade de escolher uma escala de valores diferente e desalinhada da norma e a coragem de dizer que a vida é um bem em si mesma. Deve-se defender as causas profundas da natalidade, não paliativos fiscais ou políticas públicas inconsequentes e até contraproducentes.

Portanto, ao contrário do que deixou entender Seguro, ao Presidente da República não cabe desenhar nem promover políticas natalistas, mas sim restaurar o horizonte moral e simbólico em torno da família e da transmissão da vida. Cabe-lhe recordar à sociedade que a natalidade não é uma estatística, mas um sinal de esperança e continuidade civilizacional. Deve inspirar um quadro cultural que revalorize o casamento e devolva dignidade pública à maternidade e à paternidade.

Um Presidente da República deve desafiar o Estado a criar um ambiente de liberdade, segurança e confiança onde as famílias possam florescer, sem dependência nem medo do futuro.

A minha crónica-vídeo de ontem, aqui:

Título, Texto e Vídeo: Telmo Azevedo Fernandes, Blasfémias, 23-10-2025 

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