Carina Bratt “De repente, das lágrimas dos meus olhos, meu mundo se fez pequeno dentro do beijo que você me deu”.
Aparecido Raimundo de Souza (de Viagem imersiva)
Quase carnal
Na noite silenciosa a lua, em
desespero, fustigou o bambu.
Morte
A chuva no asfalto refletia luzes
vermelhas sem ninguém por perto.
Amanhã sem talvez
Meu grito derreteu no vazio da
madrugada um porvir obscuro.
Sem eira nem beira
Suas palavras cortantes no
silêncio que sangrou me tiraram do sério.
Elevador
A porta se fechou, rostos se
prenderam no abismo. Desci sem saber.
Nuvem passageira
Uma sombra ao acaso desliza sobre meu rosto distraído.
Tempo roubado
A mesa estava pronta. Os pratos
alinhados. Copos desfalecidos refletiam o silêncio que ocupava uma cadeira.
Nascitura
O quarto ainda guarda o cheiro
dos brinquedos e o som do choro de uma criança que sempre se repete.
Rotina enervante
Tudo por aqui vive num instante
que não volta, mas também não se vai.
Quase eterno
Na mesa o lugar continua posto.
Não por hábito, mas por uma esperança teimosa de que o impossível se desfaça.
Acredite se quiser,
mas...
Aqui, mesmo, no luto que me
invade, há uma memória que pulsa. Não é consolo. É presença invisível que
insiste em ser amor.
A dor de não ser vista
Seu olhar me atravessa como se eu
fosse feita de vidro. Virei uma espécie de ausência imorredoura.
Ad aeternum
O seu adeus sem raiz cresceu em
solo árido do meu silêncio.
Ausência sentida
Mãos acolhedoras não vieram no
dia do meu tropeço. Nem mesmo o vento...
Fatal
No escuro da solidão não ouvi a
voz amiga para me dizer: ‘vai ficar tudo bem.’
Eco sem adeus
No rosto envolto da lembrança o
relógio da sala parou cedo...
Pergunta vã
Cadeira vazia entre risos
disfarçados – cadê você?!
Prematura
Morte inesperada. Faltou alguém
no velório.
Em vão
Choro sem colo no vazio da
madrugada. Ninguém me ouviu.
Ainda assim...
Estou aqui, mas não me vejo. Meus
passos ficaram sem som, meus gestos não deixaram sinais. Virei presença sem
impacto, me fiz ausência viva.
Aconteceu bem assim...
Tarde demais, veio o brilho
enfeitar teus olhos – como primavera exausta.
Parede calada
Na moldura vazia o tempo não quis
te lembrar...
Meio que inesperado
Seus olhos se fecharam e o meu mundo
desmoronou em silêncio. Minha alma virou vertigem.
Como se fosse algo irreal
Na brisa da manhã as folhas dançaram
na varanda. E o sol afugentou meus medos.
Saudade
É como algodão. Paira leve sobre
meu peito sem pedir licença.
No lençol amassado
Teu perfume insiste em não deixar
meu corpo.
Meu amor que partiu
Deixou meu olhar preso na janela
olhando o tempo.
Raios no escuro
O futuro se desenha sem revelar cores.
De uma semente no chão
O meu amanhã já respira antes de nascer.
Destino traçado
Tentei fugir de mim. Tropecei em nós dois.
Título e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 7-9-2025
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Diferenças distintas entre o ‘estar só e ‘sozinha’
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