quinta-feira, 31 de julho de 2025

O império em silêncio

Marcos Paulo Candeloro 

O Reino Unido, berço do parlamentarismo moderno, da liberdade de imprensa e do liberalismo clássico, vive hoje sob uma ordem pós-democrática. O nome do novo regime é eufemístico — Online Safety Act — mas seus efeitos são brutais: censura algorítmica prévia, repressão policial a postagens, vigilância digital de dissidentes e, agora sabemos, um esquema de imigração clandestina patrocinado pelo próprio governo e acobertado por mecanismos judiciais de invisibilização da verdade.

Esse último escândalo, chamado por alguns veículos independentes de “Watergate britânico”, acaba de ganhar contornos ainda mais inquietantes. Descobriu-se que o Ministério da Defesa, sob ordens tanto do governo anterior quanto do atual, realocou secretamente milhares de estrangeiros— sobretudo afegãos — em hotéis e bases militares pelo país ao longo dos últimos dois anos. O detalhe aterrador: tudo isso foi feito sem informar o público, e sob o manto de uma “superinjunction”.

Para quem nunca ouviu o termo, trata-se de uma figura legal perversa: uma ordem judicial que não apenas proíbe a imprensa de noticiar determinado assunto, como também proíbe qualquer menção à existência da própria ordem judicial. Ou seja, uma espécie de apagamento institucional da realidade. Jornalistas foram ameaçados de prisão caso ousassem sequer reconhecer que havia uma ação judicial em curso. A censura, aqui, deixou de ser apenas um risco — tornou-se protocolo.

O pretexto da “emergência humanitária” serviu para justificar um vazamento de dados descrito como o mais grave da história britânica e a posterior concessão de asilo automático a cerca de 24 mil pessoas. O parlamento nada sabia, a população menos ainda. A ruptura entre governantes e governados nunca foi tão explícita.

Esse quadro escancara o grau de degeneração institucional do Reino Unido. O mesmo Estado que criminaliza cidadãos por “tweets ofensivos”, que prende pessoas por usarem pronomes “errados”, acoberta em silêncio a instalação de enclaves normativos religiosos, como os mais de 85 tribunais da Sharia hoje em operação. O duplo padrão é flagrante: para o cidadão comum, censura, vigilância e punição. Para minorias ideológicas e religiosas, impunidade garantida por medo de represálias identitárias.

A erosão dos pilares democráticos britânicos é dupla: por dentro, pelo totalitarismo digital progressista; por fora, pela islamização institucional informal. O primeiro suprime liberdades sob o pretexto da segurança e da inclusão. O segundo, rejeita os valores ocidentais e impõe normas paralelas, com a cumplicidade covarde das autoridades.

O resultado é um país irreconhecível. Um regime de censura judicial digna de ditaduras asiáticas, somado à abdicação do monopólio legal em zonas dominadas pela lei religiosa. Em nome do multiculturalismo, sacrifica-se a soberania jurídica. Em nome da segurança, destrói-se a liberdade. E em nome da empatia, impõe-se o silêncio à imprensa e à cidadania.

A tirania moderna não chega com tanques ou censores de farda. Ela se apresenta com linguagem neutra, protocolos de segurança e plataformas de conformidade. O que o Reino Unido vive hoje não é exceção: é modelo exportável.

E se essa distopia anglófona nos parece distante, vale lembrar: as mesmas ideias, os mesmos grupos e os mesmos interesses já operam no Brasil — no Congresso, no STF, nos gabinetes da moderação algorítmica e nas universidades.

O Watergate britânico não é apenas um escândalo. É um alerta.

E, como dizem hoje em dia os britânicos, Allahu Akbar. 

Título, Imagem e Texto: Marcos Paulo Candeloro, ContraCultura, 31-7-2025 

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