Marcos Paulo Candeloro
O Reino Unido, berço do parlamentarismo moderno, da liberdade de imprensa e do liberalismo clássico, vive hoje sob uma ordem pós-democrática. O nome do novo regime é eufemístico — Online Safety Act — mas seus efeitos são brutais: censura algorítmica prévia, repressão policial a postagens, vigilância digital de dissidentes e, agora sabemos, um esquema de imigração clandestina patrocinado pelo próprio governo e acobertado por mecanismos judiciais de invisibilização da verdade.
Esse último escândalo, chamado por alguns veículos independentes
de “Watergate britânico”, acaba de ganhar contornos ainda mais inquietantes.
Descobriu-se que o Ministério da Defesa, sob ordens tanto do governo anterior
quanto do atual, realocou secretamente milhares de estrangeiros— sobretudo
afegãos — em hotéis e bases militares pelo país ao longo dos últimos dois anos.
O detalhe aterrador: tudo isso foi feito sem informar o público, e sob o manto
de uma “superinjunction”.
Para quem nunca ouviu o termo,
trata-se de uma figura legal perversa: uma ordem judicial que não apenas proíbe
a imprensa de noticiar determinado assunto, como também proíbe qualquer menção
à existência da própria ordem judicial. Ou seja, uma espécie de apagamento
institucional da realidade. Jornalistas foram ameaçados de prisão caso ousassem
sequer reconhecer que havia uma ação judicial em curso. A censura, aqui, deixou
de ser apenas um risco — tornou-se protocolo.
O pretexto da “emergência humanitária” serviu para justificar um vazamento de dados descrito como o mais grave da história britânica e a posterior concessão de asilo automático a cerca de 24 mil pessoas. O parlamento nada sabia, a população menos ainda. A ruptura entre governantes e governados nunca foi tão explícita.
Esse quadro escancara o grau
de degeneração institucional do Reino Unido. O mesmo Estado que criminaliza
cidadãos por “tweets ofensivos”, que prende pessoas por usarem pronomes
“errados”, acoberta em silêncio a instalação de enclaves normativos religiosos,
como os mais de 85 tribunais da Sharia hoje em operação. O duplo
padrão é flagrante: para o cidadão comum, censura, vigilância e punição. Para
minorias ideológicas e religiosas, impunidade garantida por medo de represálias
identitárias.
A erosão dos pilares
democráticos britânicos é dupla: por dentro, pelo totalitarismo digital
progressista; por fora, pela islamização institucional informal. O primeiro
suprime liberdades sob o pretexto da segurança e da inclusão. O segundo,
rejeita os valores ocidentais e impõe normas paralelas, com a cumplicidade
covarde das autoridades.
O resultado é um país
irreconhecível. Um regime de censura judicial digna de ditaduras asiáticas,
somado à abdicação do monopólio legal em zonas dominadas pela lei religiosa. Em
nome do multiculturalismo, sacrifica-se a soberania jurídica. Em nome da segurança,
destrói-se a liberdade. E em nome da empatia, impõe-se o silêncio à imprensa e
à cidadania.
A tirania moderna não chega
com tanques ou censores de farda. Ela se apresenta com linguagem neutra,
protocolos de segurança e plataformas de conformidade. O que o Reino Unido vive
hoje não é exceção: é modelo exportável.
E se essa distopia anglófona
nos parece distante, vale lembrar: as mesmas ideias, os mesmos grupos e os
mesmos interesses já operam no Brasil — no Congresso, no STF, nos gabinetes da
moderação algorítmica e nas universidades.
O Watergate britânico não é
apenas um escândalo. É um alerta.
E, como dizem hoje em dia os
britânicos, Allahu Akbar.
Título, Imagem e Texto: Marcos Paulo Candeloro, ContraCultura, 31-7-2025
Distopia do Reino Unido: 'Lei de Segurança Online' impõe censura draconiana às redes sociais.
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