A esquerda explora a bandeira do nacionalismo enquanto abre espaço para fundações internacionais, potências estrangeiras e organismos supranacionais ditarem a agenda do país
David Agape
Desde que o presidente Donald
Trump anunciou tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, o governo Lula e
parte do aparato político-judicial têm erguido a bandeira da “soberania
nacional” em tom estridente.
A justificativa americana
combina três pontos: retaliação política pelo julgamento de Jair Bolsonaro, que
Trump classificou como “caça às bruxas”; proteção do comércio americano contra
barreiras impostas pelo Brasil; e reação à censura ilegal de plataformas
digitais americanas por decisões do STF, citando diretamente o ministro
Alexandre de Moraes.
Sob a ameaça das sanções
Magnitsky, que paira sobre ministros das cortes superiores e diversas
autoridades, o Planalto e aliados intensificaram campanhas nacionalistas em
redes sociais, atos públicos e discursos inflamados. Palavras de ordem como
“Defenda o Brasil”, “#Respeita o Brasil” e “O Brasil é dos brasileiros” ecoaram
nas redes petistas. Até bandeiras brasileiras passaram a ser hasteadas no lugar
das tradicionais bandeiras vermelhas comunistas.
Nesta quinta-feira (25), a
Faculdade de Direito da USP foi palco de um ato em defesa da soberania
nacional, reunindo mais de vinte entidades. Juristas, acadêmicos, lideranças
sindicais, parlamentares e representantes do governo discursaram contra as sanções
e o tarifaço. Uma carta-manifesto afirmou: “Nossa soberania não está à venda e
não será negociada”.
Hoje, publiquei um “fio” no
X (antigo Twitter) mostrando que, por trás do site “soberanianacional.com.br”,
que hospeda e coleta assinaturas para esse manifesto, existe uma estrutura
cuidadosamente articulada. O site não traz em nenhuma área visível informações
sobre quem é seu proprietário ou responsável legal, descumprindo princípios
básicos de transparência e a própria LGPD, que exige a identificação do
controlador dos dados pessoais coletados.
Uma consulta simples ao Whois revelou que o domínio foi registrado há apenas sete dias pela empresa MSM Participações EIRELI (CNPJ 07.010.799/0001-46), cujo sócio-administrador é Miguel da Silveira Matos. Ele é proprietário do portal jurídico Migalhas, conhecido pela cobertura de temas políticos e jurídicos, e também adquiriu em 2024 o site Congresso em Foco, alinhado editorialmente à esquerda. Ambos os veículos publicaram matérias elogiosas ao ato na USP sem mencionar a ligação direta com a campanha do site.
Miguel Matos não é um nome
qualquer em Brasília. Em 2023, ele organizou um evento em Brasília que reuniu o
alto escalão do Judiciário e do Legislativo – de ministros do STF e STJ a
senadores, deputados e dirigentes da OAB. Sua esposa, Daniela Rodrigues Teixeira,
foi indicada por Lula ao STJ em novembro de 2023 após uma campanha intensa
articulada por grupos como o Prerrogativas e com apoio de ministros do Supremo.
Além disso, Miguel é
atualmente presidente do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional,
indicado pela OAB, de onde defende pautas como a regulação de plataformas
digitais e o “combate às fake news” – justamente as mesmas bandeiras que hoje
embasam o discurso de “soberania nacional”. Minha investigação mostrou que, no
fim, o discurso de “soberania nacional” tem por trás a mesma rede que decide o
país em salas fechadas, longe do povo, fazendo acordos de bastidor e
muito lobby. Tudo bem longe do orgânico que tentam vender.
Esse tipo de articulação não é
um caso isolado. No final de maio publiquei um relatório detalhando
a interferência americana nas eleições de 2022 no Brasil, revelando como a
pressão partiu dos Estados Unidos e de uma rede de ONGs e fundações
internacionais, atuando sob o pretexto de “defesa da democracia” para garantir
a eleição de Lula. A ofensiva incluiu visitas de altos funcionários do governo
Biden – William Burns (CIA), Jake Sullivan (Conselheiro de Segurança Nacional),
Victoria Nuland (Departamento de Estado) e Lloyd Austin (Secretário de Defesa)
– sempre reforçando a confiança nas urnas e sinalizando retaliações a qualquer
contestação.
Também descrevi como o
Complexo Industrial da Censura (CIC) atuou para enfraquecer Jair Bolsonaro e
movimentos de direita, articulando a remoção de conteúdos críticos, bloqueio de
contas em redes sociais e perseguição judicial seletiva. Essa engrenagem — que
envolveu Big Techs, laboratórios como o DFRLab, plataformas de checagem e o
próprio TSE — criou um ecossistema de vigilância e censura que blindou o
processo eleitoral e neutralizou qualquer resistência.
Ou seja, o discurso de
“soberania nacional” é pura encenação. Há quase um século, movimentos de
esquerda atuam sob forte influência internacional. Primeiro, vieram os
comunistas, diretamente subordinados à linha de Moscou; depois, o aparato
ONGueiro, que nos governos petistas se infiltrou profundamente em praticamente
todos os setores do Estado.
Panorama histórico
Desde o seu nascimento o
Brasil se viu guiado por ventos vindos do exterior: primeiro como colônia de
Portugal, depois como dependente da Grã-Bretanha. O discurso nacionalista,
porém, sempre serviu como ferramenta das elites para manipular as massas e manter
o controle político. Mesmo assim, o povo brasileiro soube preservar sua
identidade, resistir às imposições externas e afirmar sua cultura.
Embora hoje posem de
nacionalistas, militantes de esquerda sempre atuaram sob forte influência
soviética ao longo do século XX. Desde a fundação do Partido Comunista
Brasileiro, em 1922, passando pela Intentona Comunista de 1935 e pelas
diretrizes recebidas de Moscou durante a Guerra Fria, esses grupos seguiam
agendas externas travestidas de projetos nacionais.
A retórica patriótica era
apenas fachada. Enquanto pregavam “independência” e “defesa do Brasil”,
obedeciam ordens de fora, recebiam financiamento e treinamento ideológico de
organismos ligados ao Kremlin. Essa dependência moldou toda uma geração de lideranças
de esquerda e estruturou partidos, sindicatos e movimentos sociais em redes
alinhadas aos interesses estratégicos da URSS. Esse histórico ajuda a explicar
por que, ainda hoje, parte da esquerda brasileira mobiliza discursos
nacionalistas apenas quando lhe convém, sem jamais romper de fato com a lógica
de subordinação a agendas e financiadores internacionais.
Mas foi com a ascensão do
aparato globalista-ongueiro-ecológico que essa influência tomou proporções
nunca vistas. Financiadas por fundações internacionais e governos estrangeiros,
essas organizações ganharam poder político e acesso privilegiado aos recursos
públicos.
Além dos repasses públicos
bilionários, grandes fundações internacionais se tornaram fontes constantes de
financiamento. A Open Society Foundations, do bilionário George Soros, é um dos
exemplos mais emblemáticos: apenas em 2023, repassou US$ 19,9 milhões (R$ 107,2
milhões) para cerca de 100 ONGs brasileiras. Muitas dessas organizações
defendem pautas progressistas e ambientais, como o Instituto Clima e Sociedade,
o Instituto Alana e a Comissão Pastoral da Terra, organização que oferece
suporte para as atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST).
Esse aparato ganhou espaço
estratégico dentro do próprio governo. Em várias gestões, líderes de ONGs
ocuparam cargos-chave no Executivo e passaram a influenciar políticas públicas.
Um exemplo emblemático é o caso de Belo Monte, em que organizações indigenistas
participaram desde os estudos ambientais até campanhas midiáticas e lobby parlamentar,
resultando em um sistema no qual parte das indenizações foi convertida em
pagamentos para empresas ligadas a membros dessas ONGs.
Várias destas organizações
atuam como “consultoras” em políticas ambientais, de direitos humanos e de
desenvolvimento sustentável, mas, na prática, se são centros de pressão
política, capazes de barrar projetos de infraestrutura, interferir em
legislações e ditar a agenda nacional.
Nos governos petistas, essa
rede foi profundamente incorporada à máquina pública: ONGs passaram a gerir
programas federais, influenciar indicações em ministérios e órgãos reguladores.
Com a volta do PT ao poder em 2023, muitas dessas redes retornaram ao centro da
formulação de políticas ambientais e indígenas. Figuras como João Paulo
Capobianco e Marina Silva, ligadas historicamente a ONGs internacionais,
reassumiram posições de destaque, reforçando a ligação entre esses grupos e o
Estado.
Essa combinação de
financiamento externo, penetração institucional e apoio midiático permite que
as ONGs não apenas pautem o debate público, mas também interfiram diretamente
na formulação de políticas e na gestão de áreas sensíveis, como a Amazônia e as
terras indígenas. Críticos afirmam que o discurso de defesa ambiental e de
minorias muitas vezes serve de cortina para agendas internacionais que
comprometem a autonomia do país. Diversas CPIs já foram abertas para investigar
a atuação dessas organizações, mas quase sempre terminaram em pizza diante do
poder de articulação e lobby estrangeiro que sustenta o setor.
O grande golpe
Sem a menor dúvida, o maior e
mais bem-sucedido golpe contra a soberania brasileira foi a criação da Terra
Indígena Yanomami. Em minha reportagem “Cadê os Yanomami”, para o jornal Gazeta do Povo, detalhei os bastidores desse
processo e como ele foi conduzido sob forte pressão internacional.
A decisão, tomada no início
dos anos 1990, não foi fruto apenas de um debate técnico sobre a proteção dos
povos indígenas, mas de uma articulação cuidadosamente construída por ONGs
internacionais, fundações estrangeiras e organismos multilaterais. Essa rede
tinha como meta criar uma espécie de enclave autônomo no coração da Amazônia,
sob a justificativa de preservar a floresta e os povos originários, mas na
prática retirava do Estado brasileiro o controle sobre uma das áreas mais ricas
em minérios do planeta.
O jornalista mexicano Lorenzo
Carrasco, autor do livro Máfia Verde, sempre chamou atenção para
esse caso como o protótipo de uma estratégia mais ampla. Segundo ele, a
demarcação contínua da Terra Yanomami foi uma vitória da Survival
International, organização criada no Reino Unido, em 1969, com o objetivo
declarado de defender os direitos indígenas, mas que operava em alinhamento com
interesses estratégicos da oligarquia britânica.
Carrasco descreve como a
Survival, apoiada por outras ONGs e fundações europeias e americanas, financiou
campanhas midiáticas agressivas contra o Brasil, constrangeu autoridades e
influenciou diretamente decisões no Congresso e no Executivo.
A pressão foi tão intensa que,
em 15 de novembro de 1991, o então presidente Fernando Collor de Mello cedeu:
assinou o decreto que concedeu aos chamados Yanomami mais de 90 mil km² de
terras — um território gigantesco, equivalente a duas vezes o estado do Rio de
Janeiro ou três vezes a Bélgica, cujas populações de 11 e 17 milhões de
habitantes, respectivamente, superam com folga os apenas 27 mil Yanomamis que
habitam a área hoje. Mais grave ainda: a maior parte desse território está
localizada em área de fronteira com a Venezuela, o que, na prática, criou uma
unidade praticamente independente no coração da Amazônia.
Com exceção das ONGs
financiadas por recursos estrangeiros, nenhum brasileiro comum pode entrar
nesse território sem autorização — sob risco de ser atacado por flechas ou até
morto, já que os indígenas são considerados inimputáveis e, na prática, podem matar quem quiserem sem consequências legais. Essa configuração isolou
totalmente a região, transformando-a em um espaço inacessível para o próprio
Brasil, mas aberto para interesses e agendas de organizações internacionais que
se apresentam como defensoras dos povos indígenas.
Carrasco lembra que a escolha
do formato de área contínua, em vez de várias áreas menores, foi central para
os interesses internacionais. Essa configuração bloqueava a presença do Estado
brasileiro, isolava a região e facilitava o controle indireto de organizações
estrangeiras sobre uma das áreas mais estratégicas e ricas em recursos naturais
do país.
Ao mesmo tempo em que o
aparato ongueiro coopta comunidades indígenas para viver em eterna dependência
de recursos externos e de “projetos” controlados por ONGs, qualquer iniciativa
que busque autonomia é barrada e silenciada. Indígenas que defendem a mineração legalizada ou a produção agropecuária em suas terras são atacados por ONGs e pelo Ministério
Público, que tentam deslegitimá-los como “manipulados” por empresários. Em
muitos casos, enfrentam perseguições judiciais e multas milionárias.
A estratégia de
fragmentação da soberania brasileira por meio do “pluralismo jurídico indígena”
Segundo fontes ouvidas
por A Investigação, existe há muitos anos uma articulação
internacional silenciosa para criar, dentro do território brasileiro, algo
próximo a uma “nação indígena independente” — embora o termo oficial jamais
seja esse. A estratégia não fala em “independência” abertamente, mas opera por
meio de eufemismos como “autonomia plena”, “plurinacionalidade”, “governança
territorial indígena” e “pluralismo jurídico”.
Esses conceitos são promovidos
por ONGs financiadas por fundações estrangeiras, organismos internacionais como
a ONU e a OEA, e até pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
(OTCA), da qual o Brasil faz parte. O Equador, segundo as fontes, é o laboratório
mais avançado desse modelo.
“Primeiro querem ser
reconhecidas como unidades federativas, depois querem leis próprias. É isso que
eles chamam de pluralismo jurídico, como se as terras indígenas tivessem uma
constituição própria. No Equador e na Colômbia isso está avançado. No Chile,
tentaram fazer com os Mapuche — que nem são uma etnia originária. Em seguida,
eles atuam através das chamadas Equipe de Vigilância Indígena, que são milícias
que formam uma força de segurança paralela”, diz.
Como essa estratégia se
desenrola:
1.
Discurso progressivo: começa com apelos
como “respeito à cultura tradicional” e “consultas obrigatórias” (Convenção 169
da OIT), mas avança para exigências de autogestão jurídica, territorial e até
militar;
2.
Internacionalização jurídica: ao
classificar os territórios como “de interesse global”, ONGs e organismos
multilaterais criam brechas para pressões externas e decisões supranacionais;
3.
Modelo plurinacional: baseado nos casos
de Bolívia e Equador, onde indígenas têm direito a “sistemas normativos
próprios”, com tribunais e até forças policiais próprias;
4.
Judicialização estratégica: no Brasil, o
STF tem sido usado para impor interpretações amplas da Convenção 169 e
pressionar pela autonomia plena de territórios, sem passar pelo crivo do
Congresso Nacional.
Eles querem tudo
Em 2019, o presidente francês Emmanuel Macron declarou que a Amazônia era “o pulmão do mundo” e disse: “nossa casa está queimando”. Errou duas vezes. Primeiro, porque a floresta não é o pulmão do mundo — produz praticamente o mesmo oxigênio que consome. Segundo, porque a Amazônia não é a casa de Macron. Mas a frase revelou um sentimento real: a convicção de que a Amazônia pertence ao mundo e, portanto, poderia ser alvo de ingerência externa.
O discurso que vende o Brasil
como “nossa casa” esconde um jogo duplo. Enquanto se fala em respeitar a
soberania, potências e instituições internacionais — de governos europeus e
americanos à própria UNESCO — defendem a Amazônia como patrimônio global, justificando
regimes supranacionais de controle. Essa não é uma preocupação nova. Na década
de 1940, por exemplo, surgiu a proposta do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, apoiada pela UNESCO, que previa
governança compartilhada da floresta entre países amazônicos e potências
estrangeiras. O projeto foi rejeitado pelo Congresso brasileiro por ferir a
soberania nacional, mas a agenda nunca desapareceu. Décadas depois, em conferências
do G7 e cúpulas ambientais, Macron e outros líderes voltaram a defender o
status internacional para a floresta — discurso prontamente rechaçado por
Brasília como uma afronta à autonomia do país.
Consórcios e projetos
internacionais apresentam-se como soluções ambientais, mas muitas vezes acabam
institucionalizando formas de controle externo sobre o bioma. O receio da
chamada “internacionalização” da Amazônia não é paranoia: é a resposta correta a
um movimento constante que busca tratar a maior riqueza natural do Brasil como
um bem comum a ser gerido fora do arcabouço soberano brasileiro.
A hipocrisia, porém, salta aos olhos. Desde que Lula voltou ao poder, essas vozes se calaram. Não houve campanhas globais de indignação quando o governo petista bateu recordes de devastação. Em fevereiro de 2024, os alertas de desmatamento na Amazônia cresceram 62% em relação ao ano anterior, atingindo mais de 320 km² — alta de impressionantes 162% em comparação com 2021. As queimadas também avançaram, segundo os dados mais recentes do Inpe, superando as marcas registradas nos governos anteriores.
Soberania pero no mucho.
Título e Texto: David Agape, A Investigação, 26-7-2025
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