Rafael Nogueira
Barroso fez a confissão
pública de um projeto de poder que avança há mais de uma década. O nome é
Judiciarismo.
Judiciarismo é uma forma
degenerada de regime, nascida da hipertrofia de um segmento de um dos poderes
em detrimento dos demais. No Brasil, é conhecida a doutrina segundo a qual o
Judiciário não deve apenas interpretar a Constituição, mas conduzir a sociedade
em nome dela, mesmo sem ela pedir.
Com a derrocada moral e
funcional do sistema político, em 2013 abriu-se um vácuo de autoridade. A
revolta popular era o clamor por representação, ordem e justiça. Cada poder
passou por reformulação. E parte do Judiciário viu ali uma oportunidade: ocupar
o lugar da política e assumir a tutela do país.
A Lava Jato foi o instrumento
que fez com que a corrupção fosse, enfim, perseguida. Mas é acusada de excessos
que, mesmo que não o sejam, ou que se justifiquem à luz do desafio que tinha à
sua frente, envolveram intensamente política e mídia, preparando o terreno para
abusos posteriores. O Supremo viu a brecha, aproveitou sua posição privilegiada
no jogo de poder e passou a assumir protagonismo, proatividade e exposição
midiática estranhas ao seu espírito.
O Supremo empolgou-se: ora
redentor moral da nação, ora legislador informal, ora censor ilustrado. A
Constituição deixou de ser limite e virou alavanca. A toga, antes provocada
para se pronunciar, armou-se com espada e foi para a arena.
Barroso é o principal ideólogo dessa mutação. Em sua visão, o juiz constitucional deve funcionar como “vanguarda iluminista”, não apenas garantindo direitos, mas “empurrando a história”. Uma concepção messiânica da magistratura, em que a legitimidade decorre não do sufrágio, mas da consciência do intérprete da Constituição.
O que temos hoje é um
Judiciário que não apenas julga — ato que lhe parece tedioso — mas determina
quem pode falar, concorrer, existir publicamente. Um poder que não aceita
limites nem críticas, que se vê como a encarnação do Estado de Direito, embora
atropelando o devido processo, reinterpretando leis, prendendo sem julgamento e
censurando sem constrangimento.
Quando um ministro declara que
“quase tudo” pode ser decidido por ele e seus pares, está reivindicando poder
absoluto. Diz que nada escapa à Corte, nem ao seu ativismo, nem ao seu papel
legiferante. E que a sociedade deve, ao fim, curvar-se a ela.
Nada mais coerente, portanto,
do que o que lemos ontem: um jantar entre ministros do STF e autoridades do
Executivo foi encerrado com uma frase atribuída ao chefe do Executivo: “O
governo fará o que ele [Moraes] preferir.” Assim se fecha o círculo: o juiz
governa. E o governante executa a vontade judicial. A inversão da ordem
republicana é completa, e assumida.
Esta é a democracia que querem
nos impor.
Democracia de verdade supõe
pluralidade, alternância, contestação. Supõe poderes que se controlam e, acima
de tudo, o direito do povo de decidir por si.
O judiciarismo faz o
oposto: em nome de bens ditos superiores, retiram-se a liberdade, a
propriedade, por vezes, até a vida. A mesma Corte que se diz garantista permite
inquéritos infindáveis, prisões sem sentença, punições por opinião e exclusões
políticas por suspeita moral.
Barroso não está errado ao
dizer que o STF ocupa um lugar “único no mundo”. Apenas confunde singularidade
com virtude. O Supremo brasileiro é único porque é excessivo, desproporcional,
descontrolado. Em nenhuma democracia liberal madura se admite grau semelhante
de interferência judicial.
Chega da ilusão de que a
democracia está sendo protegida. Ela está sendo sabotada. Proteger a democracia
hoje é reequilibrar os poderes, restaurar os direitos, soltar presos que jamais
deveriam ter sido presos, investigar abusos togados, reconduzir o STF ao seu
lugar.
Supremo forte não é o que
governa, mas o que julga dentro de seus limites. Juiz justo não é o que molda a
sociedade à sua imagem, mas o que se curva à lei comum. Constituição viva não é
a que justifica tudo, mas a que limita todos.
Enquanto houver um homem preso
sem sentença, uma ideia censurada sem motivo, um candidato banido por
convicção, não há Estado de Direito. Há Estado de Exceção.
A única resposta é o
restabelecimento imediato das liberdades. Isso não é atacar o Judiciário. É
salvá-lo. E ele, a nós — e ao país.
Título e Texto: Rafael Nogueira, O Dia, 6-8-2025
Relacionados:6-8-2025: Oeste sem filtro – PT e TSE dão golpe na democracia com ajuda do governo Biden + Tarifaço começa hoje, Lula acha que ligar para Donald Trump seria humilhação
5-8-2025: Oeste sem filtro – Prisão de Bolsonaro racha STF e encurrala Moraes
Quem vai parar Moraes?
GloboLixo!
4-8-2025: Oeste sem filtro – Moraes decreta prisão domiciliar de Bolsonaro + Manifestações populares dão o seu recado em todo o país + Lula confessa que o sonho da esquerda no poder é a implantação do socialismo + Moraes ignora pedido de atendimento médico urgente para Daniel Silveira
Discurso de Silas Malafaia, Avenida Paulista, São Paulo, 3 de agosto de 2025:
Ana Paula Henkel denuncia o que tem ocorrido no Brasil
"Nas últimas décadas, tudo se agravou e vivemos hoje num verdadeiro totalitarismo muito mais implacável que o nazismo ou o comunismo, para os espíritos verdadeiramente livres e críticos. Vivemos, na verdade, numa pseudodemocracia e pseudoprogresso onde ou nos homogeneizamos ou somos exterminados de várias formas."
ResponderExcluirJoão Brás