Diego Muguet
No teatro farsesco da política brasileira, há um personagem que não informa — ele milita. Seu nome é Brasil 247, mas poderia muito bem se chamar Pravda de Higienópolis. E é importante explicar essa analogia. Pravda era o jornal oficial da União Soviética, um instrumento de propaganda do Partido Comunista. Tudo que saía ali era filtrado, aprovado, moldado. Só publicavam o que interessava ao poder, e o resto era apagado da história. Já Higienópolis é o bairro paulistano símbolo da elite intelectual que consome “verdades alternativas” embrulhadas em narrativa revolucionária, sem abrir mão do ar-condicionado, do iPhone e da bolsa da Gucci. Quando você une a propaganda soviética com a bolha progressista brasileira, o que você tem? Um portal como o Brasil 247: ideologicamente fechado, sustentado por militância cega, e disfarçado de jornalismo independente.
A verdade é que o Brasil 247 não é imprensa. É um centro de blindagem político-partidária. Não há crítica real ao PT, ao contrário: há uma defesa compulsiva, automática, sistemática. Denúncias contra Lula? Eles transformam em “perseguição judicial”. Escândalos do INSS? A culpa é do governo anterior. Delações premiadas que envolvem líderes da esquerda? Inventam que são conspirações da elite. Tudo vira narrativa. Tudo é filtrado. Tudo é manobrado para caber no roteiro de mocinhos e vilões onde o PT é sempre a vítima iluminada pela justiça social, e todos os outros são golpistas, fascistas ou entreguistas.
Leonardo Attuch, editor do site, já apareceu em delações da Lava Jato como beneficiário de recursos de Pascowitch, operador do petrolão. Contrato fictício, sem prestação de serviço, mas com dinheiro de verdade. E o que o site fez? Nada. Silêncio absoluto. Nenhuma linha. Nenhuma retratação. Quando a lama chega à redação, eles cobrem com carpete vermelho e dizem que é arte militante. O Brasil 247 foi irrigado por anos com dinheiro de estatais — Banco do Brasil, Petrobras, Caixa — durante os governos petistas. E não era pouca coisa. Milhões. Pagos com dinheiro público para manter um megafone ideológico funcionando a pleno vapor. Agora, se diz financiado por assinantes. Mas o perfil dos financiadores continua o mesmo: militantes ideológicos que não querem jornalismo, querem confirmação de crenças.
O Brasil 247 é especialista em moldar manchetes. Repare: nunca informa. Sempre interpreta. Nunca expõe. Sempre enquadra. Não diz “Lula foi condenado em três instâncias”. Diz “Lula resiste à perseguição jurídica promovida por elites antidemocráticas”. Não diz “governo do PT envolvido em fraude no INSS”. Diz “tentativa da direita de sabotar programas sociais”. O problema não está apenas no que dizem, mas — sobretudo — no que omitem. Omissão, nesse caso, não é erro. É tática.
E isso nos leva à essência da coisa: o Brasil 247 não é um veículo de comunicação. É um partido político informal, sem registro no TSE, mas com militância ativa. Atua como braço de propaganda, defensor incondicional, repetidor de slogans, doutrinador digital. Ataca adversários. Persegue juízes. Distorce fatos. E ainda tem a audácia de se dizer “alternativo”, como se fosse o último bastião da imprensa livre. Livre de quê? Da verdade?
Num tempo em que a informação
virou arma, o Brasil 247 não é imprensa — é munição. Alimenta o tribalismo,
cultiva a guerra cultural, empobrece o debate público. O mais perverso é que se
vende como solução para o “jornalismo hegemônico”, quando na prática é só mais
um tentáculo do sistema, só que com camiseta vermelha e discurso de
resistência. E o mais trágico? Muita gente que se acha rebelde por seguir o 247
está apenas engolindo a nova coleira com gosto de liberdade.
Título e Texto: Diego
Muguet, X,
11-5-2025
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