quarta-feira, 21 de maio de 2025

O delírio extremista da esquerda sensata

Rafael Nogueira

Há uma mudança em curso no mundo que, embora evidente, continua a ser tratada como aberração por aqueles que ainda creem monopolizar os limites do aceitável. A direita cresce. Alarga sua força eleitoral, sua sensibilidade cultural, sua presença simbólica, sua pulsação popular que rejeita, sem culpa, a decadência patrocinada pelos progressistas.

É uma direita viva, pulsante, que emerge das calçadas, das igrejas, das cozinhas, dos grupos de WhatsApp e das urnas. E o que fazem os donos do microfone? Chamam isso de “ultradireita”. De “extrema”. Não é diagnóstico, é xingamento. Um palavrão de quem perdeu o argumento e quer ganhar no grito.

Funciona assim: você diz que prefere família a orgias pedagógicas e vira fascista. Diz que acha esquisito o governo regular o pronome com que chamam seu filho e pronto, lá vem a pecha: extremista. O truque é velho. Demonize primeiro, ataque depois. Com sorte, a vítima se cala. Com azar, ela se elege.

Na Argentina, Milei não apenas se elegeu, mas prometeu pintar o país todo de violeta, enterrando 16 anos de domínio amarelo (do PRO) e chutando o peronismo escada abaixo, com a elegância de um rinoceronte de colete. A lista de Milei obteve 30,13% dos votos. Um barulho e tanto para quem era tratado como piada. Piada é quem não entendeu nada e ainda escreve papers sobre a dialética da macarronada.

No Brasil, por sua vez, a direita apanha da toga e ainda assim sobrevive. Bolsonaro continua na frente. De todos. E os seus, Michelle Bolsonaro, Tarcísio, Eduardo, estão todos com gasolina no tanque e farol alto para 2026. Em 2022, a direita já ocupava 37% da Câmara. A tendência é crescer. Sul e Centro-Oeste são seus quartéis-generais. Mas a força é onipresente. E a esquerda, sem projeto, sem povo e sem poesia, sonha com a volta da censura, desde que venha em nome do bem.

Falar em valores cristãos, defender o óbvio ou rejeitar o esgoto cultural virou, veja só, ameaça à democracia. A nova patrulha diz que, se você não crê em 72 gêneros e acha que bebê tem direito a nascer, você é o perigo. O truque é pintar o cidadão comum como bicho-papão. E depois dizer que é preciso eliminá-lo por segurança.

A Europa sempre deu o tom, mas agora é seguidora nossa. O Chega, em Portugal, foi de um deputado em 2019 para 58 em 2025. Giorgia Meloni governa a Itália. Le Pen cresce entre as mulheres, aquelas que cuidam de filhos, de casa e de marido, e que não se reconhecem no feminismo de sapatênis e bolsa de tela. A direita europeia entendeu o que a esquerda esqueceu: mulher de verdade quer liberdade e proteção, não palestra e cobrança.

E os dados não mentem, embora os colunistas tentem. Em 2010, a “extrema direita” tinha 7% dos assentos na União Europeia. Em 2024, passou de 18%. O AfD alemão marca 21% nas pesquisas. Na Hungria e na Polônia, já são governo. Na Suécia, estão no poder com outros. E nos Estados Unidos, Trump voltou em 2024, não só com votos, mas com projeto. Liderado pela Heritage Foundation, a nova direita americana busca reestruturar o Estado, concentrando poderes no Executivo, substituindo servidores por aliados políticos e revertendo políticas progressistas, especialmente em temas como diversidade, meio ambiente e direitos civis.

A verdade é simples. O povo não é doido. Não está pedindo por tanques nas ruas, mas por paz no bairro. Quer escola boa, não sarau erótico-pedagógico. Quer comida boa, não panfleto. Quer rezar a sério, não revolucionar. E, por tudo isso, é chamado de monstro. A esquerda não apenas perdeu a conexão com o povo, perdeu a vergonha. E, ao fazer da divergência um crime, prepara a guerra que finge temer.

Há muitos estudos publicados sobre a direita, e nunca vi nenhum que presta. Tem que ir além da superfície, dos ódios e rancores, para entender alguma coisa. Há na direita, como em todo movimento amplo, correntes distintas que se reforçam, disputam e se combinam. O conservadorismo clássico, como exposto por pensadores como Roger Scruton e Robert Nisbet, defende a continuidade, a ordem evolutiva, a liberdade sob responsabilidade. Valoriza as instituições intermediárias, a exemplo de família, igreja, comunidades longevas, como pilares da coesão social. Não quer o caos nem sonha com um passado redivivo. Quer o possível. Reforma para conservar. Sustenta o que nos sustenta.

Ao lado dele, há correntes libertárias, que enfatizam a liberdade individual quase como valor absoluto, desconfiando do Estado e de toda ordem imposta. E há os reacionários, que, não raro, querem restaurar uma ordem que já não existe, e o fazem com o inferno na boca e a Constituição no bolso de trás, já amassada.

Há de tudo. E tudo isso é direita. Confundir as partes com o todo é má-fé. Ou burrice.

O Brasil, em 2026, será o próximo campo de batalha. E, se o governo atual continuar tropeçando em escândalos e censuras, o fim será melancólico. A direita não virá como fúria, mas como resposta. E não virá para quebrar, mas para restaurar.

Chamá-la de “extrema” é não entender nada. Ou fingir que não entende. É um ato de desespero, de quem quer transformar o relógio numa roleta. Mas o tempo é implacável. E o despertador já tocou. Quem não acordar será governado por quem já levantou, escovou os dentes e pegou o volante.

Título e Texto: Rafael Nogueira, O Dia, 21-5-2025, 0h 

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