Rafael Nogueira
É uma direita viva, pulsante,
que emerge das calçadas, das igrejas, das cozinhas, dos grupos de WhatsApp e
das urnas. E o que fazem os donos do microfone? Chamam isso de “ultradireita”.
De “extrema”. Não é diagnóstico, é xingamento. Um palavrão de quem perdeu o
argumento e quer ganhar no grito.
Funciona assim: você diz que
prefere família a orgias pedagógicas e vira fascista. Diz que acha esquisito o
governo regular o pronome com que chamam seu filho e pronto, lá vem a pecha:
extremista. O truque é velho. Demonize primeiro, ataque depois. Com sorte, a
vítima se cala. Com azar, ela se elege.
Na Argentina, Milei não apenas
se elegeu, mas prometeu pintar o país todo de violeta, enterrando 16 anos de
domínio amarelo (do PRO) e chutando o peronismo escada abaixo, com a elegância
de um rinoceronte de colete. A lista de Milei obteve 30,13% dos votos. Um
barulho e tanto para quem era tratado como piada. Piada é quem não entendeu
nada e ainda escreve papers sobre a dialética da macarronada.
No Brasil, por sua vez, a
direita apanha da toga e ainda assim sobrevive. Bolsonaro continua na frente.
De todos. E os seus, Michelle Bolsonaro, Tarcísio, Eduardo, estão todos com
gasolina no tanque e farol alto para 2026. Em 2022, a direita já ocupava 37% da
Câmara. A tendência é crescer. Sul e Centro-Oeste são seus quartéis-generais.
Mas a força é onipresente. E a esquerda, sem projeto, sem povo e sem poesia,
sonha com a volta da censura, desde que venha em nome do bem.
Falar em valores cristãos, defender o óbvio ou rejeitar o esgoto cultural virou, veja só, ameaça à democracia. A nova patrulha diz que, se você não crê em 72 gêneros e acha que bebê tem direito a nascer, você é o perigo. O truque é pintar o cidadão comum como bicho-papão. E depois dizer que é preciso eliminá-lo por segurança.
A Europa sempre deu o tom, mas
agora é seguidora nossa. O Chega, em Portugal, foi de um deputado em 2019 para
58 em 2025. Giorgia Meloni governa a Itália. Le Pen cresce entre as mulheres,
aquelas que cuidam de filhos, de casa e de marido, e que não se reconhecem no
feminismo de sapatênis e bolsa de tela. A direita europeia entendeu o que a
esquerda esqueceu: mulher de verdade quer liberdade e proteção, não palestra e
cobrança.
E os dados não mentem, embora
os colunistas tentem. Em 2010, a “extrema direita” tinha 7% dos assentos na
União Europeia. Em 2024, passou de 18%. O AfD alemão marca 21% nas pesquisas.
Na Hungria e na Polônia, já são governo. Na Suécia, estão no poder com outros.
E nos Estados Unidos, Trump voltou em 2024, não só com votos, mas com projeto.
Liderado pela Heritage Foundation, a nova direita americana busca reestruturar
o Estado, concentrando poderes no Executivo, substituindo servidores por
aliados políticos e revertendo políticas progressistas, especialmente em temas
como diversidade, meio ambiente e direitos civis.
A verdade é simples. O povo
não é doido. Não está pedindo por tanques nas ruas, mas por paz no bairro. Quer
escola boa, não sarau erótico-pedagógico. Quer comida boa, não panfleto. Quer
rezar a sério, não revolucionar. E, por tudo isso, é chamado de monstro. A
esquerda não apenas perdeu a conexão com o povo, perdeu a vergonha. E, ao fazer
da divergência um crime, prepara a guerra que finge temer.
Há muitos estudos publicados
sobre a direita, e nunca vi nenhum que presta. Tem que ir além da superfície,
dos ódios e rancores, para entender alguma coisa. Há na direita, como em todo
movimento amplo, correntes distintas que se reforçam, disputam e se combinam. O
conservadorismo clássico, como exposto por pensadores como Roger Scruton e
Robert Nisbet, defende a continuidade, a ordem evolutiva, a liberdade sob
responsabilidade. Valoriza as instituições intermediárias, a exemplo de
família, igreja, comunidades longevas, como pilares da coesão social. Não quer
o caos nem sonha com um passado redivivo. Quer o possível. Reforma para
conservar. Sustenta o que nos sustenta.
Ao lado dele, há correntes
libertárias, que enfatizam a liberdade individual quase como valor absoluto,
desconfiando do Estado e de toda ordem imposta. E há os reacionários, que, não
raro, querem restaurar uma ordem que já não existe, e o fazem com o inferno na
boca e a Constituição no bolso de trás, já amassada.
Há de tudo. E tudo isso é
direita. Confundir as partes com o todo é má-fé. Ou burrice.
O Brasil, em 2026, será o
próximo campo de batalha. E, se o governo atual continuar tropeçando em
escândalos e censuras, o fim será melancólico. A direita não virá como fúria,
mas como resposta. E não virá para quebrar, mas para restaurar.
Chamá-la de “extrema” é não
entender nada. Ou fingir que não entende. É um ato de desespero, de quem quer
transformar o relógio numa roleta. Mas o tempo é implacável. E o despertador já
tocou. Quem não acordar será governado por quem já levantou, escovou os dentes
e pegou o volante.
Título e Texto: Rafael Nogueira, O Dia, 21-5-2025, 0h
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