sexta-feira, 2 de maio de 2025

Oeste está no ar!

Revista Oeste, Edição 267

O escandaloso assalto aos aposentados e a dura vida dos brasileiros que assinaram o acordo oferecido pelo procurador-geral estão entre os destaques desta edição


Em 2011, Carlos Lupi, então ministro do Trabalho de Dilma Rousseff — cargo que já exercia no governo Lula —, perdeu o emprego, enrolado em numerosos escândalos. As patifarias incluíam a liberação de recursos para ONGs em troca de propinas. Também se descobriu que Lupi praticava o milagre da onipresença. Durante cinco anos, ele ocupou ao mesmo tempo dois cargos separados por quase 1,2 mil quilômetros. Fora simultaneamente assessor parlamentar na Câmara dos Deputados, em Brasília, e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.  

Passados quase 15 anos, novamente ministro de Lula, Carlos Lupi reapareceu nas páginas político-policiais a bordo de mais um escândalo: o sumiço de R$ 6,3 bilhões, arrancados de ao menos 6 milhões de aposentados e pensionistas, que eram descontados direto na folha de pagamento. Na reportagem de capa, Silvio Navarro conta que os criminosos selecionaram vítimas preferenciais: moradores de áreas rurais (com dificuldade para acessar a internet ou que viviam longe de postos da Previdência Social), além de deficientes físicos e analfabetos.  

Navarro, que morou em Brasília entre 2004 e 2008, armazena na memória excepcional incontáveis informações sobre a história política recente do país. Nas reuniões de pauta que ocorrem às segundas-feiras, é capaz de citar de cor extensas listas de parlamentares envolvidos em alguma espécie de escândalo. Autor do livro Celso Daniel: Política, Corrupção e Morte no Coração do PT, por exemplo, ele conhece como pouquíssimos profissionais o modus operandi do partido comandado por Lula.  

Desde 2023, nessa mesma escola de Navarro vem se formando o repórter especial Cristyan Costa, que acompanha o dia a dia da capital federal para Oeste. Aos 29 anos, ele já é o maior especialista da imprensa brasileira nos conflitos do 8 de janeiro e suas consequências. Apegado a hábitos, modos e valores cultivados por veteranos, prefere andar com os amigos, e não com colegas de profissão, não perde um único evento que possa render uma boa reportagem e, surpreendido com fatos inesperados, interrompe qualquer descanso para retomar o trabalho.

Nesta edição, Costa detalha a vida dos presos na manifestação em Brasília que aceitaram assinar o acordo de não persecução penal oferecido pela Procuradoria-Geral da República. Nesse caso, “acordo” é codinome de “extorsão”. Mesmo que sejam inocentes, os “beneficiados” têm de confessar a autoria dos crimes de que são acusados, pagar uma multa de R$ 5 mil, prestar serviços comunitários e fazer um curso de democracia. Em tese, isso lhes garante a completa liberdade. A realidade, contudo, colide com a teoria.  

Essa é uma das provas de que o Brasil vive hoje o que J.R. Guzzo chama de “ditadura meia-boca”. Não tem coragem para ser uma Coreia do Norte ou Cuba, mas, para grande parte dos efeitos práticos, funciona como ditadura. “Quem manda não aparece como o clássico Hitler, Fidel Castro ou Luís XV de escola de samba”, compara Guzzo. “É uma espécie de ‘coletivo’ de magistrados que não foi eleito por ninguém, como um conselho de pajés de alguma tribo primitiva que morre de medo deles”. Uma ditadura que só consegue amarrar o país “porque tem diante de si a classe política mais covarde que já se viu por aqui desde o governador-geral Tomé de Sousa”.  

Esse tipo de político aceita passivamente interferências ilegais do Supremo nas suas atribuições. Ou assiste calado ao julgamento pelo STF de brasileiros sem foro privilegiado ou à condenação de uma mulher a 14 anos de prisão por escrever “perdeu, mané” com batom numa estátua. Baixa a cabeça diante da libertação de corruptos ou traficantes e da prisão de brasileiros inocentes. Não abre a boca, mesmo quando um juiz resolve julgar um caso no qual também é a vítima. Acha natural transformar batom em “substância inflamável”. E finge acreditar que uma manifestação que tinha como arma das mais perigosas um estilingue foi uma tentativa de golpe de Estado. Fora o resto.  

Assim o Brasil segue, como resume o título do artigo de Alexandre Garcia: “De exceção em exceção”. Essa espécie de rota jamais levou ao porto seguro.

Boa leitura.

Branca Nunes, Diretora de Redação, Revista Oeste, 2-5-2025 

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