Henrique Pereira dos Santos
Em 2012, no auge da sanha da imprensa contra Passos Coelho, entra em cena Artur Baptista da Silva, apresentado pelo Expresso e por tutti quanti na imprensa portuguesa como um economista, professor numa universidade americana (que não existia), consultor das Nações Unidas (a credibilidade das Nações Unidas é tal que ninguém estranha que tenha consultores daquele calibre), do Banco Mundial e coordenador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ver comentário anterior sobre a credibilidade das Nações Unidas), que a imprensa acolheu efusivamente dando-lhe palco para falar de "um relatório inexistente sobre Portugal elaborado também pelo inexistente Observatório Económico e Social das Nações Unidas para a Europa do Sul." (não há como a wikipédia para fazer sínteses).
O então diretor adjunto do
Expresso, Nicolau Santos, reconheceu ter sido embarretado.
O facto de um jornalista ser embarretado por um burlão, com um longo cadastro criminal, não terá tido grande influência negativa na carreira do jornalista, que foi depois presidente da LUSA e da RTP, numa demonstração de como a responsabilização pelos erros cometidos é levada mesmo a sério, no jornalismo.
Note-se que, o mais provável é que Nicolau Santos não quisesse "embarretar" os seus leitores, ele simplesmente foi vítima de uma característica da natureza humana (o viés de confirmação) por não ter cumprido regras básicas do jornalismo.
Há regras básicas da atividade
jornalística que existem exatamente para limitar os problemas criados pela
natureza humana, em que se inclui o viés de confirmação, ou a tendência que
todos temos de acrescentar um ponto ao que contamos, sobretudo quando sabemos
que a identidade de quem acrescenta o ponto não é revelada.
É por causa dessas características da natureza humana que a confirmação dos factos e a identificação das fontes (com excepção das situações em que a revelação da identidade da fonte a pode pôr em risco real) são coisas sagradas para se poder fazer jornalismo sério.
A generalidade da imprensa em Portugal
está-se completamente nas tintas para estas regras e vou dar o exemplo do
editorial do Público de ontem sobre a Spinumviva, história que a imprensa quer,
à viva força, trazer para a campanha.
Como a imprensa investiu muito
nesta história e, afinal, aquilo é uma mão cheia de nada, passaram a explicar
que não se passa nada, legalmente, mas há uma questão ética qualquer que, de
maneira geral, quem escreve não se dá ao trabalho de explicar qual seja (um dos
títulos de primeira página do Correio da Manhã de hoje, e que o Expresso
imediatamente reflete, criando uma situação "suficientemente estranha para
dar títulos de online" (a justificação de David Pontes para dar
importância a uma resposta sem qualquer relevância, de Montenegro, é o de que a
sede da Spinumvia continua a ser a casa de Montenegro)).
Na boa escola da promoção de
Artur Baptista da Silva, que domina a imprensa, David Pontes diz, mais uma vez,
que "Há certamente interrogações sobre o facto de o primeiro-ministro ...
ter passado de uma empresa que se destinava a gerir património agrícola
familiar para uma empresa dedicada à aplicação do RGPD e acabar na consultoria
empresarial", quando as únicas interrogações relevantes se prendem com a
repetição desta mentira, inegavelmente mentira, que se pode verificar
facilmente ser mentira.
David Pontes, para além deste
evidente viés de confirmação que o faz acreditar no que escreveu, que é
manifestamente falso, chega ao ponto de falar "de um político achar que
pode manter uma atividade paralela, mesmo de forma indireta", sem explicar
aos seus leitores o que é uma atividade indireta de alguém.
Não me parece que haja
esperança enquanto for esta gente, que na verdade tem Artur Baptista da Silva
como padroeiro, a dominar a imprensa.
Título e Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 15-5-2025
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