Cada vez mais as pessoas não conseguem
desgrudar do smartphone e esse hábito pode trazer consequências físicas e
psicológicas
José Alexandre Crippa
Desde a metade dos anos 1990,
o uso de aparelhos eletrônicos tem aumentado cada vez mais rapidamente. Segundo
a União Internacional de Telecomunicações (UIT) já são mais de 7 bilhões de aparelhos celulares em
uso no mundo, sendo esta a maneira mais usada para acessar a internet.
Com o advento dos smartphones, o aparelho já traz diversas
facilidades muito além da câmera fotográfica e filmadora de alta resolução,
como ampla acessibilidade a e-mails e redes sociais, pesquisas on-line,
visualização de filmes e programas de TV, músicas, realização de transações
financeiras e diversas outras possibilidades. Apesar de todas estas vantagens,
algumas pessoas podem apresentar um padrão de uso problemático.
Imagem: iStock/Getty Images |
Antes da popularização do
celular, outras dependências comportamentais haviam sido descritas: alimentar,
exercícios, compra, trabalho (workaholics), jogo, internet e sexo. Mais
recentemente, o termo nomofobia (uma abreviação, do inglês,
para no-mobile-phone phobia) foi criado no Reino Unido para
descrever o pavor de estar sem o telefone celular disponível. Na realidade,
este neologismo atualmente tem sido muito utilizado para descrever a dependência (também
conhecida como uso problemático ou compulsão) do telefone móvel.
As prevalências descritas do
uso abusivo do celular variam amplamente, muito em decorrência da diversidade
dos critérios diagnósticos utilizados e da variabilidade dos indivíduos
estudados. As taxas estimadas de dependência de celular podem chegar até a 60%
nos seus usuários. Um estudo brasileiro realizado pela pesquisadora Anna Lúcia
King, da UFRJ, verificou que 34% dos entrevistados afirmaram ter alto grau de
ansiedade sem o telefone por perto. Assim, com a enorme quantidade de pessoas
com pleno acesso ao aparelho, estes índices são extremamente preocupantes.
Dependência precoce
Neste sentido, o ponto que
mais chama a atenção aqui é que cada vez mais cedo inicia-se o uso do celular,
com milhões de crianças (várias com cerca de dois ou três anos de idade!) e
adolescentes com acesso livre, total e irrestrito. Sabe-se que o quanto antes
ocorre uma dependência, piores são suas consequências físicas e psicológicas em
longo prazo. Em termos comportamentais mais amplos, têm sido observado nestes
jovens uma falta de habilidade nos relacionamentos interpessoais, com
dificuldades no estabelecimento de vínculos de amizade e/ou afetivos plenos e
duradouros.
Em nível neurobiológico,
sabemos que existe um “sistema de recompensa cerebral” (SRC) que tem como
função estimular comportamentos que colaboram com a manutenção da vida (como
sexo, alimentação e proteção). Quando o SRC é ativado, com a liberação do
neurotransmissor dopamina, isto proporciona imediatas sensações de prazer e
satisfação. Tal qual para as drogas de abuso, as dependências comportamentais
(incluindo a nomofobia), são capazes de levar a uma hiperatividade do constante
SRC, podendo causar alteração no funcionamento cerebral. Entretanto, as
consequências de longo prazo do funcionamento alterado pelo excesso do uso do
celular ainda são incertas.
Além disso, as pessoas que
apresentam uso abusivo do celular têm maior chance de
desenvolver transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão e sintomas de
impulsividade, embora a relação de causa-efeito nem sempre seja fácil de ser
estabelecida. Problemas físicos frequentemente ocorrem, incluindo fadiga,
patologia ocular, dores musculares, tendinites, cefaleia, distúrbios do sono e
sedentarismo. Além disso, é evidente a maior propensão em se envolver em um
acidente automobilístico e de sofrerem quedas ao andar.
Sintomas da nomofobia
Portanto, as pessoas com uso
problemático do celular apresentam diversos sinais e sintomas muito parecidos
com a dependência de drogas:
Fissura: a)
usa o telefone celular para se sentir melhor, quando está pra baixo.
Abstinência:
a) quando não está com o aparelho fica preocupado e ansioso em perder chamadas
ou mensagens; b) acha difícil desligar o aparelho em situações obrigatórias,
como no avião ao decolar;
Consequências
negativas para a vida: a) atrasa em compromissos por ficar muito tempo no
celular; b) gasta valores elevados na compra do aparelho e nas contas; c)
ocupa-se demasiadamente com o celular quando deveria estar fazendo outras coisas;
d) a produtividade no estudo e/ou trabalho reduz como resultado direto deste
padrão de uso do celular; e) recebem mais multas de trânsito.
Perda de
controle: a) os amigos ou familiares reclamam do padrão de uso do celular,
podendo atrapalhar os relacionamentos; b) permanece conectado ao celular por
períodos muito maiores do que gostaria;
Tolerância:
a) aumento progressivo no tempo que fica usando o celular; b) incapacidade de
gastar menos tempo usando o aparelho.
Dicas
Então, se a primeira coisa que
você faz quando acorda é olhar o seu celular; se checa o seu telefone de cada 5
a 30 minutos; se dorme com o celular no seu quarto (pior ainda se for do lado
da cama); se sempre arranja uma desculpa para levar o celular para o banheiro
(para o chuveiro, é mais grave!) e, se anda com ele na mão a maior parte do
tempo, você pode ter dependência do celular. Assim, aqui vão algumas sugestões
que poderão te ajudar:
Não perca o
seu sono
Jamais leve o celular para a cama. Desligue-o e deixe ele fora do seu quarto. Se a sua desculpa é que você usa ele para despertar, compre um despertador.
Acordou?
Use a regra dos primeiros 45 minutos*
Ao acordar, você deve se preparar para o dia que terá pela frente, ir no banheiro, preparar o seu café da manhã, se alongar, se vestir e arrumar. Se for casado (a), beije seu parceiro (a). Os primeiros 45 minutos são seus. Não cheque o celular antes disso.
* Se você for mulher, amplie para 60 minutos.
Carro
ligado, celular desligado
Você vai economizar em multas e reduzir drasticamente a chance de ter um acidente sério. Proteja você e os outros, motoristas e pedestres.
Desligue o
celular no seu período mais produtivo
Ao longo de algumas horas, desligue o seu celular e coloque longe do seu alcance (numa bolsa ou gaveta). Só ligue quando completar o seu trabalho.
Ao longo de algumas horas, desligue o seu celular e coloque longe do seu alcance (numa bolsa ou gaveta). Só ligue quando completar o seu trabalho.
Fique
atento à criança com celular
Fique atento ao padrão de uso e conteúdo que a criança acessa no celular e imponha limites com disciplina. Estabeleça os momentos e o tempo de uso que seu filho pode se dedicar esta atividade.
Saia da
Matrix
Não deixe aquela máxima ser verdadeira para você: “O celular aproxima quem está longe, mas afasta quem está perto! ”. Em qualquer reunião; nas refeições; brincando com seus filhos; confraternizando com os amigos, tudo isso é mais importante que o seu celular. Viva no mundo real e dê atenção ao que há a sua volta e a quem te ama e se importa contigo.
Agora, se nada disso ajudar,
talvez você precise de uma avaliação de um profissional de saúde mental. Mas
neste caso, não se esqueça! Desligue o celular antes de entrar no consultório…
Título: José Alexandre Crippa, VEJA,
4-4-2017
Colaboração: José Manuel
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