Paris afetada pela apatia
Gilles Lapouge
Sabemos então o nome dos dois
finalistas da eleição francesa: o presidente Nicolas Sarkozy e o socialista
François Hollande. Podemos ir mais longe nas previsões? De acordo com as
pesquisas, o jogo está feito: Hollande sai como vencedor do primeiro turno,
além de ter reservas suficientes (os votos da extrema esquerda de Jean-Luc
Mélanchon, dos ecologistas e outros) para derrotar Sarkozy na segunda rodada.
Não nos arriscaremos a fazer
prognósticos. Até o último momento, os mais bizarros desdobramentos, as
reviravoltas mais incoerentes, podem ocorrer. É a virtude, a honra e o charme
vertiginoso da democracia. Quanto à campanha, Sarkozy foi mal. Marcado por cinco
anos durante os quais irritou, exasperou, humilhou todo mundo, tanto seus
próprios ministros como também pecuaristas, operários e juízes.
Na campanha de 2007, Sarkozy
foi um orador inspirado. Este ano foi medíocre. Grunhiu, falou mal de todos,
fez galanteios a Carla Bruni, fez propostas ridículas como uma reforma das
normas para tirar a carta de motorista ou o pagamento das aposentadorias com
oito dias de antecipação. Do Sarkozy estrondoso, inspirado, franco e direto de
2007, o que restou foi apenas um reflexo, um eco que mal se ouve.
Hollande foi normal, até a
insignificância. Nem bonito nem feio; gordo, mas emagreceu; insípido, com um
discurso pobre e mal enunciado; inteligente, mas sem brilho, Hollande sempre
pareceu ter se enganado de papel.
Mas talvez seja um gênio. Sua
figura que não impõe, sua falta de carisma, sua placidez, tudo isso talvez seja
uma estratégia digna de Napoleão, uma maneira de obrigar o feroz boxeador que é
Sarkozy a dar golpes no vazio, a perder o controle, a se apagar como uma vela
privada de oxigênio.
Claro que o talento não ficou
ausente nessa campanha, mas ele se refugiou no segundo pelotão: Mélanchon
mostrou-se um tribuno formidável, estilo Revolução Francesa. E teve também
Marine Le Pen, da extrema-direita, uma bela mulher, voz poderosa, um enorme
talento teatral. Tudo isso diz respeito à forma. Mas e quanto ao conteúdo?
Quase nada.
Houve um acordo dos dois
principais candidatos para evitar os reais temas, em particular os problemas
econômicos. Uma impressão de irrealidade: a França, como toda a Europa, está
esmagada pelas dívidas, o desemprego se multiplica, o setor industrial e
agrícola se decompõe. Mas continua a se manifestar pretensiosamente como se
fosse o centro do mundo. A França, tanto a de Sarkozy como a de Hollande,
parece afetada pelo autismo.
Título e Texto: Gilles Lapouge, Estado de S. Paulo, 23-04-2012
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