Eduardo Oliveira Silva
É uma conquista que temos de
saudar e continuar a cultivar
![]() |
Miguel Portas, foto: José Pedro Tomaz |
A imagem de Miguel Portas
pairou sobre o aniversário do 25 de Abril. A homenagem geral vinda de todos os
quadrantes para com esta figura fundadora do Bloco de Esquerda foi uma prova
substantiva da tolerância que a sociedade portuguesa conhece, 38 anos depois da
revolução.
Essa tolerância tornou-se um
valor e uma marca do nosso país que não encontramos expressa do mesmo modo na
Europa, para falar só do continente em que Portugal se insere.
Esta convivência de ideias é
uma conquista que temos de saudar e que devemos continuar a cultivar.
No entanto, uma coisa é a
tolerância e outra é a autonomia. Ora, nesse ponto já Portugal não vive
propriamente dias saudáveis. A crise para que o país foi arrastado por dois
períodos de grave irresponsabilidade governativa (primeiro Guterres e depois
Sócrates) limitou a capacidade de sermos donos do nosso destino.
O peso da dívida e as
obrigações que contraímos com o exterior conduziram depois a uma espécie de
suspensão dessa capacidade. Por isso é estranho ouvir políticos como Carlos
Zorrinho afirmarem-se zelosos defensores do Estado social e das “conquistas das
últimas décadas” e invocarem até rupturas democráticas em sua defesa quando
contribuíram para a sua destruição com uma ruinosa política pública
expansionista.
Zorrinho diz ter gostado do
discurso positivo de Cavaco, mas acrescentou ter pena de que noutras
circunstâncias (ou seja, no tempo de Sócrates) não tenha feito o mesmo. Ora, se
alguém apoiou esse governo socialista foi Cavaco, que até pecou por não ter
percebido a catástrofe que se adivinhava.
É verdade que ontem o Chefe de
Estado optou por excluir palavras mais radicais como crise, utilizando
eufemisticamente expressões como “a complexidade do momento”.
Ver aí uma tolerância para com
o governo pode até fazer sentido, mas não interessava o Presidente causticar
mais do que já fez noutros momentos quem herdou uma situação sem a ter criado,
mais a mais numa cerimónia em que o primeiro-ministro não fala.
É certo que se poderia
certamente governar melhor, mas este não é ainda o tempo de balanços
presidenciais.
Da intervenção de Cavaco é de
ressaltar o esforço que fez para que cada um de nós seja um mensageiro dos
sucessos das tecnologias (como a Via Verde), da inovação, da enorme
potencialidade do nosso idioma como veículo, do sucesso da educação ao mais
alto nível, da expressão de uma arquitectura de qualidade e de um valor
cultural como o cinema.
É verdade. O Presidente tem
razão. Todos devemos ajudar. Todos, certamente, queremos ser embaixadores dessa
realidade portuguesa. Mas como fazer quando, logo que cruzamos a fronteira para
comprar caramelos em Badajoz, somos assediados por um conjunto de hermanos que
nos saltam ao caminho, afirmando “hombre, mira, aquela coisa de os estrangeiros
terem de fazer fila para conseguir andar nas auto-estradas nunca se viu”.
O simples facto de essa
situação persistir anula todo e qualquer discurso positivo que se pretenda
fazer lá fora e cobre-nos de ridículo – em Espanha e não só.
Título e Texto: Eduardo Oliveira Silva, jornal “i”,
26-04-2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-