Carlos Eduardo Luna
Quantas vezes não se vai a
Espanha, principalmente a Badajoz, vindo-se de Lisboa, Évora, Estremoz,
Portalegre, e passando por Elvas, para fazer compras, ou passear, ou em busca
de divertimento, perdendo-se por algumas horas, ou até por alguns dias, o contacto
com Portugal?
Se em Badajoz, por fim,
decidimos em voltar a Portugal, a primeira idéia que nos ocorre, se viemos de
Elvas, é fazer dez quilómetros e regressar a esta cidade.
Talvez haja alternativas. Se
regressar a Elvas, não o faça de imediato. Vá 20 Quilómetros para o Sul.
É claro que poderá ter seguido
outro caminho. Poderá ter vindo do Sul, pela fronteira de São Leonardo, 70 Km a
Sul de Badajoz. Ou poderá ter vindo directamente de Elvas, pela nova Ponte da
Ajuda, sem ir a Badajoz. Mas, porque a ida a esta mesma Badajoz é, de longe, a
mais comum, prossigamos o nosso roteiro como se estivéssemos a vir da Grande
Urbe Extremenha, de Norte para Sul.
Neste caso, atenção! A partir
do quilómetro 17 da Estrada que liga Badajoz a Alconchel, começa uma região que
merece uma visita. A partir da Ribeira de Olivença, está a entrar no Território Histórico de Olivença. São cerca de 453,61 Km.2, até às Ribeiras de Táliga (ou
de Alconchel) e de Alcarrache. Segundo a perspectiva diplomática oficial
portuguesa, é um território legalmente português, administrado de facto pela
Espanha. Uma região que foi, na época franquista principalmente, sujeita a uma
descaracterização que se pode classificar de dramática. Durante mais ou menos
quarenta anos.
Sendo Democracias actualmente,
Portugal e Espanha, aproveitando até o facto de ambos estarem na União
Europeia, podem agora encarar este litígio de forma aberta, sem complexos, com
um mínimo de traumas, sem pôr em causa princípios e interesses legítimos nem
planos de cooperação noutros domínios. As boas relações facilitam a discussão
de todos os assuntos, principalmente os melindrosos. Os preconceitos passam a
ter muito menos sentido. Só por isso, a Democracia vale a pena!
Igreja de Santa Maria do Castelo (Olivença). Foto: Tagido
|
Mas... voltemos à Ribeira de
Olivença. Ao lado da Ponte Nova, está uma mais antiga, que deixou de ser usada
em 1994. Para já, informa-se que está a um quilómetro do local onde foram
assassinados o General Humberto Delgado e a sua secretária, em 1965. Mesmo a
Norte da Ribeira de Olivença, a Leste, nas proximidades da herdade de "Los
Almerines". Se veio do Sul, ou de Elvas pela nova Ponte da Ajuda, que
muitos querem, pelo episódio histórico referido, que se chame "Ponte
General Humberto Delgado", terá de percorrer três ou quatro quilómetros
para norte, a partir da Terra das Oliveiras.
Mas siga, se vindo do Norte. Está
próximo, muito próximo mesmo de Olivença. Acabará por avistar a cidade, donde
se destaca uma Torre de Menagem. Avance, vire à direita, e terá chegado a um
mundo que o surpreenderá... se tiver olhos para ver. Continue a ler, e
dar-nos-á razão... esperamos.
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A antiga e a nova ponte da Ajuda, Olivença. Foto: Hermínio |
Verá muitas casas alentejanas,
principalmente em ruas pequenas, e até em algumas grandes. Principalmente
algumas artérias simples poderão surpreender, mesmo porque é nelas que
eventualmente poderá ouvir falar português "alentejano", por vezes
com surpreendente pureza. Pode mesmo tomar a iniciativa.
Sem dúvida que os nomes das
ruas parecem, e são, espanhóis. E, daí, talvez não. Os nomes antigos, que os
precederam, são bem portugueses, e muita gente os conhece, principalmente os
mais idosos. Rua dos Oleiros. Rua das Atafonas. Rua do Poço. Rua da Caridade.
Rua da Pedra. Rua dos Saboeiros. Há tantas, tantas!
Mas... vamos à parte turística "consagrada. Comece pela Torre de Menagem, construída por volta de 1488, por ordem de D. João II de Portugal. Encontrará, num mesmo complexo, um Museu Etnográfico... que já foi Municipal... e que é algo de admirável. Está ali todo um passado, quase sem barreiras. Há Pré-História. Há mundo rural. Há mundo urbano. Há coisas que nunca pensou ver num museu... mas que devem mesmo lá estar. Aprenderá algo, seguramente.
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Foto: TravelJLC |
Porque estamos na parte
dionisina, visite a Igreja de Santa Maria do Castelo, que seria a mais antiga
(século XIII)...se não tivesse sido toda reconstruída no final do século XVI e
recebido acrescentamentos posteriores. Por isso, nela encontrará talha barroca.
E também uma belíssima árvore genealógica da Virgem Maria. Entre outras coisas.
Saiamos da zona dionisina
pelas Portas do Espírito Santo, e examinemos a Porta Manuelina da Câmara
Municipal. É um exemplar valioso.
Já que falamos em Manuelino...
vamos à Igreja de Santa Maria Madalena, a 20 metros de distância. Eis uma
espantosa Catedral Gótica- Manuelina. As colunas toscanas imitam cordas na
perfeição. E podemos ver azulejos. E Talha Barroca.
Não há que espantar. O templo
foi sede do Bispado Português de Ceuta. O seu primeiro bispo, Frei Henrique de
Coimbra, está lá sepultado. Trata-se (as voltas que a História dá!) do homem
que rezou a Primeira Missa no Brasil, em 1500.
Voltemos a passar em frente da
Câmara Municipal, e viremos à esquerda, percorrendo parte da Rua da Caridade.
Eis-nos diante da Misericórdia de Olivença. Vejamos os mármores em torno da
belíssima porta. Os Escudos Nacionais, um deles picado. Entremos, e visitemos a
Igreja/Capela. Tantos azulejos portugueses! Dir-se-ia uma versão menor da
Igreja da Madalena. E há talha em madeira para todos os gostos...
Sigamos depois pela Rua
Espírito Santo, ou pela sua paralela, a Rua Fernando Afonso Durão
("Fernando Alfonso"), ou das Parreiras. Desembocaremos na Plaza de
España, antigo Terreiro ou Passeio Velho. E... para quem pensa que a presença
histórica portuguesa se esgotou lá pelo sèculo XVII, veja o Palácio dos
Marçais, pombalino, do Século XVIII. Aí chegados, se houver tempo, não é má
idéia visitar-se o Convento de São Francisco (Séculos XVI/XVII), porque fica a
menos de 100 metros.
Mas... existem muitas
alternativas ainda! Podemos visitar alguns troços, de incontestável beleza, das
muralhas dos séculos XVII-XVIII (estilo "Vauban"; iniciadas a
propósito da Guerra da Restauração), e, andando um bocado mais, ver as Portas
do Calvário, que delas fazem parte, em mármore, iguaizinhas às que se
encontram, por exemplo, em Elvas e Estremoz.
À direita das Portas do
Calvário, encontraremos o Convento de São João de Deus (Século XVI).
Se, depois, seguirmos pelas
ruas de Santa Luzia e de Santa Quitéria, encontraremos uma pequena Igreja, de
Nossa Senhora da Conceição (ou de Santa Quitéria), e, sempre andando, uma
dependência das já destruídas Portas de Santa Quitéria, ou Porta Nova,
companheiras das Portas do Calvário (ainda que sem mármores). Mais acima, o
antigo Quartel de Cavalaria dos Dragões de Olovença (século XVIII) dá-nos as
boas vindas. Em frente deste, nas antigas cavalariças, um Centro de Lazer para
Idosos ("Hogar del Pensionista") poderá ensinar-lhe muita coisa!
A menos de 50 metros, está o
novíssimo Centro Cultural de Olivença/Casa da Cultura/Universidade Popular. A
cultura tem lugar de destaque na Moderna Olivença.
Em todas estas
"voltas", poderão observar-se os muitos "Passos" da Paixão
de Cristo de que Olivença dispõe. Estão um pouco por todo o lado, alguns com
azulejos novos, executados por artistas/profissionais das Caldas da Rainha.
Há muita coisa para ver. É difícil
dizer tudo!
Se, de facto, se pensa que a
Cultura não são só monumentos, e nem só cidades, então, para além das Ruas
Antigas já sugeridas, podemos visitar as aldeias dos arredores. Como, por
exemplo, São Jorge de Alôr, cinco quilómetros para Leste. Veremos casas
alentejaníssimas, e chaminés meridionais portuguesas de estonteante altura.
Podemos, em alternativa, visitar São Bento da Contenda (7 Km. a Sudoeste), com
o mesmo tipo de arquitectura, uma das povoações onde a Língua Portuguesa se
mantém como língua comum.
Podemos ainda visitar Vila
Real, 10 Km. a Oeste, frente a Juromenha, de cujo extinto Concelho foi parte
até 1801. As características linguísticas e arquitectónicas continuam a
surpreender... ou, nesta altura, talvez já não! Ainda que, em Vila Real, em
2004 e 2005, muita coisa tenha mudado, com umas obras em várias das suas velhas
casas. Pelos vistos, não se está a preservar como devia a velha traça popular
na região...
Mas... vamos a São Domingos de Gusmão, 4 Km. a sudeste, aldeia quase abandonada por causa da emigração. Prosseguindo pela estrada que a esta conduz, a 20 Km. de Olivença, encontra-se Táliga, ou Talega, uma antiga aldeia que é hoje um Concelho independente da Terra das Oliveiras. Embora não tanto como noutras povoações, o Português alentejano ainda por lá subsiste... e é muito bem entendido... ainda que o possa não parecer à primeira vista!
Mas... vamos a São Domingos de Gusmão, 4 Km. a sudeste, aldeia quase abandonada por causa da emigração. Prosseguindo pela estrada que a esta conduz, a 20 Km. de Olivença, encontra-se Táliga, ou Talega, uma antiga aldeia que é hoje um Concelho independente da Terra das Oliveiras. Embora não tanto como noutras povoações, o Português alentejano ainda por lá subsiste... e é muito bem entendido... ainda que o possa não parecer à primeira vista!
Poderemos ainda visitar as
aldeias novas de São Francisco e São Rafael de Olivença, 7Km. a Norte de
Olivença, a primeira, e 9 a nordeste, a segunda. Só existem desde 1954. Claro,
por isso as suas características arquitectónicas são diferentes, mas há por lá
umas chaminés não previstas nos planos iniciais, e a população também vai
falando e compreendendo a lusa fala... em versão planície.
Já que andamos por estradas
várias, visitemos a velha Ponte da Ajuda (10 Km a noroeste da urbe
transodiana), destruída desde 1709. Não foi reparada depois, e a ocupação
espanhola de Olivença em 1801 veio dificultar ainda mais as coisas. É um impressionante
Monumento Manuelino (mais um!), que tem cerca de 450 metros, 19 arcos, e um
largo tabuleiro de quase seis metros... o suficiente para se cruzarem duas
carroças. Não se sabe quando, ou mesmo se será reconstruída. O que se fez nesse
sentido esteve e está envolvido em acesa polémica.
Mas... desde 11 de Novembro de
2000, a cem metros ao sul da ruína, temos uma nova Ponte. A tal que há quem
queira que se chame "General Humberto Delgado". Construída depois de
quase uma década de desntendimentos diplomáticos. Ela lá está, ligando
directamente a Elvas (e a mais lado nenhum!), sendo considerada como
infra-estrutura local ou municipal, e não internacional. Aliás, o Estado
Português pagou-a integralmente. Uma história que teve e tem tantos episódios e
condicionantes estranhos, que deveria merecer um livro...
Claro que, para quem sai de
Elvas e se dirige somente a Olivença, a Ponte constituirá o primeiro local a
visitar quando entrar na Região...
Voltemo-nos para outras
coisas... ou outros pontos de interesse. Por exemplo, na estrada para São Jorge
de Alôr há a Quinta de São João, ou da Marçala, ou dos Marçais... que esconde
um Convento de Frades Franciscanos do Algarve, fundado talvez em 1500.
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Aqueduto de Elvas, foto: Henrique Matos |
Encontramos muitos
"montes" rurais alentejanos. Em número superior a uma centena.
Encontramos...
Vamos a deter-nos com as
indicações. Quem quiser, vá a Olivença. Descubra mais coisas. Escreva sobre
isso, ou relate aos amigos. Parece-nos que já demos pistas suficientes!
Não caia no erro de querer
visitar coisas entre as catorze e as dezassete horas locais, pois, durante três
horas, tudo fecha. É a inevitável "Siesta"... a Sesta, que já se usou
no Alentejo. Agora, dizem que vai acabar. Esperemos, para ver.
Ah, e procure visitar as
Igrejas de manhã, pois de tarde só por acaso estarão abertas.
Por aqui ficamos. Visitou o
que procurava. Ou, se veio de Badajoz, talvez tenha feito menos compras do que
esperava, ou pelo menos, não onde as pensava fazer. Seja como for, foi decerto
interessante descobrir Portugal... a pouco mais de 20 Quilómetros ao Sul de Badajoz!
Título e Texto: Carlos Eduardo da Cruz Luna, Estremoz,
texto revisto em 25 de Fevereiro de 2006
Edição: JP
Edição: JP
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