Maria Lucia Victor Barbosa
Em que pese os sinais de
modernização havidos em alguns países da América Latina, especialmente a partir
dos anos 90, as marcas da colonização que plasmaram a mentalidade dos seus
povos nunca deixaram de existir. São mantidos ou emergem como nos viejos
tiempos: instabilidade política, crises econômicas, incompetência
governamental, corrupção, populismo, nepotismo, patrimonialismo, autoritarismo,
impunidade, hipertrofia do Poder Executivo, ausência de cultura cívica.
Além disto, como afirmei em um
dos meus livros, América Latina, em busca do paraíso perdido,
latino-americanos possuem uma estranha mescla de altivez e sentimento de inferioridade.
Para se livrarem da síndrome do fracasso, das mazelas, das fraquezas, cujas
raízes se prendem ao passado colonial, descarregam sua frustração em possíveis
culpados, especialmente, nos Estados Unidos por conta do insuportável progresso
daquele país. Latino-americanos só se esquecem de perguntar o que fizeram a si
mesmos.
O recente ato de populismo
desvairado e nacionalismo irracional da presidente da Argentina, Cristina
Kirchner, ao expropriar a YPF, maior empresa petrolífera do país adquirida pela
Repsol espanhola em 1999, relembra viejos tiempos da era Perón.
Adorado até hoje por muitos
argentinos, cultuado como uma espécie de deus, admirado como herói, Juan
Domingo Perón tem também os que o relembram como déspota odiado, causa de todos
os males da Argentina. De todo modo, cabe acentuar alguns elementos marcantes
do governo peronista, os quais contribuíram de forma decisiva para o declínio
do país que chegou a ser chamado de “Colosso do Sul”. Derivados de toda uma
evolução histórica, social e política esses elementos encontraram em Perón as
condições ideais de expansão e foram justamente eles que Cristina Kirchner
ressuscitou: a falsa democracia, o nacionalismo xenófobo, a demagogia
exacerbada. Um filme que a Argentina já viu várias vezes e que nunca teve um
final feliz.
Recentemente, com o mesmo
intuito de desviar as atenções dos argentinos da situação econômica, na qual
avulta uma inflação da ordem de 25% e a fuga de bilhões, sendo que neste ano já
deixaram o país US$ 22,5 bilhões, a presidente Kirchner voltou aos viejos
tiempos do General Leopoldo Galtieri e simulou desencadear outra
guerra das Malvinas.
Naquela aventura ao mesmo
tempo grotesca e trágica, o General Galtieri chegou a afirmar: “Não cremos que
a Grã-Bretanha se mobilize pelas Malvinas”. Ao contrário, na Inglaterra houve
imediato sentimento de defesa dos kelpers que, segundo os britânicos
tinham o direito de decidir seu futuro e se livrar de um despotismo estrangeiro
arbitrário e brutal.
Na guerra que durou setenta e
dois dias, levaram a pior os mal preparados recrutas argentinos diante de um
pequeno grupo de tropas de elite enviado pelos britânicos às ilhas Falklands
que incluía marines, paraquedistas e mercenários ghurkas. O
fracasso fez a frustração popular se voltar contra o governo Galtieri e, ao
contrário, deu ao governo de Margaret Thatcher estrondosa vitória eleitoral.
Possivelmente essas recordações fizeram Kirchner desistir da estapafúrdia ideia
de invadir as Falklands passando, então, a fabricar algo que contivesse também
forte apelo nacionalista: a expropriação que só faltou ter o mote: “o petróleo
é nosso”.
Enquanto nos Estados Unidos e
na Europa, a expropriação da YPF foi duramente criticada, a presidente Dilma e
o ministro de Minas e Energia Edison Lobão, seguindo a arenga do ex-presidente
Lula da Silva, correram para acudir o governo argentino dizendo que o ato do
país vizinho é uma questão de soberania. Esqueceram que romper tratados não é
próprio da soberania, mas da selvageria, pois não é civilizado romper acordos
internacionais.
O ministro Lobão, disse crer
que a Petrobrás não será expropriada na Argentina. Já o foi, na província de
Neuquén, em princípio de abril. Também esqueceu ou ignora que a presidente
Kirchner tem mantido congelados os preços dos combustíveis nos postos da
Petrobrás, apesar da inflação, talvez, um detalhe menor porque o Brasil está
fazendo o mesmo.
Como era de se esperar, na
medida em que o governo argentino não tem condição de bancar os investimentos
que a Repsol fazia, a presidente Kirchner enviou o ministro de Planejamento da
Argentina, Julio de Vido, para conversar com nosso ministro de Minas e Energia.
O primeiro propôs o aumento da participação da Petrobrás de 8% para 15% do
mercado de produção, processamento de petróleo e distribuição. Lobão respondeu
que fará de tudo para ajudar o país vizinho. Já vimos um filme parecido na
Bolívia. São viejos tiempos que sempre voltam, aqui e em toda
América Latina.
Título e Texto: Maria Lucia
Victor Barbosa, socióloga, 22-04-2012
Colaboração: Francisco Vianna
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-