José Manuel
"O fim do
Terceiro Reich tem por tema um dos maiores enigmas históricos do
século XX. Como explicar a extraordinária coesão da sociedade alemã até ao
último minuto?
Como entender a ausência de
revolta, a pusilanimidade, as taxas relativamente baixas de deserção entre as
forças armadas e o controle tenaz e renitente do Estado pelo Partido Nazista, à
custa de pessoas comuns?"
Esse é o comentário de
contracapa, de Mark Mazower, The Guardian,
sobre o livro "O fim do Terceiro Reich", de Ian Kershaw
Esta semana revi o filme
"Os Caçadores de Obras-Primas" baseado no livro de Robert M.
Edsel, do resgate de obras de arte saqueadas pelos nazistas, e tendo entre
grandes atores Cate Blanchett, Mat Damon, Bill Murray e George Clooney.
Foram cinco milhões de itens
roubados e grande parte resgatados por um grupo do exército americano
especializado em obras de arte.
A Alemanha dos anos trinta foi
assaltada, nada mais, nada menos, do que por uma quadrilha que ia de simples
assassinos a ladrões refinados.
Foi talvez a maior tragédia
moderna da humanidade, mas como se pode ver pelo comentário acima de Mark
Mazower, o povo alemão não só participou ativamente, como também em nenhum
momento se rebelou claramente contra semelhante tirania e covardia.
É realmente um enigma que não
conseguimos entender como isso se passa em sociedades modernas.
A Alemanha em 1941 tinha
impressionantes noventa milhões de habitantes era uma sociedade moderna, e esse
assalto ao país durou de 1933 a 1945, portanto, doze anos. Um fato interessante
é que na olimpíada de Berlim em 1936, a bandeira usada no estádio olímpico não
foi a alemã e sim a bandeira do nacional-socialismo, partido nazista, tendo a
suástica como brasão.
A bandeira de um país dava
lugar ao símbolo de um partido e a partir daí todos conhecem a história.
Interessante como as histórias tendem a se repetir e a humanidade não aprende com os seus erros mais grosseiros.
Hoje no Brasil, setenta anos
após, em pleno século XXI, de conquistas tecnológicas, quando nunca houve tanta
fartura, e comunicações em segundos se fazem, também a bandeira nacional auriverde
vem sendo substituída lentamente por movimentos que se auto denominam
Bolivarianos com orientação escrita e falada por barbudos vagabundos, nada a
ver com as nossas raízes e ostensivamente portam bandeiras vermelhas, também
com o brasão estrelado do partido.
Comparativamente, há doze anos
nosso país foi assaltado por um outro tipo de quadrilha. Eles não roubam obras
de arte, até porque o intelecto não lhes facultou tamanha dádiva. São ladrões
mesmo, criados em comunidades carentes e o uso de uma gravata de seda ou uma
roupa de marca conhecida é para eles a obra-prima desejada. Suas aspirações
mais ardentes são a Disney World, um cabelo acaju, a Quinta Avenida e vários
carros importados na garagem.
Para satisfazer esses mimos a
si próprios e a toda uma penca de afilhados roubam cada vez mais e se apossam
de cargos públicos para continuar a sanha devoradora de divisas do país.
Conseguem colocar de rastro
gigantes petrolíferas, fundos de pensão de milhões de pessoas que acreditaram,
empresas estatais das mais variadas.
São bilhões de dólares
desviados desse patrimônio público para suas contas particulares em paraísos
fiscais.
E aí novamente somos obrigados
a fazer as mesmas perguntas que Mark Mazower faz.
"Como explicar a
extraordinária coesão da sociedade até agora?
Como entender a ausência de
revolta, a pusilanimidade, e o controle tenaz e renitente do Estado pelo
partido governista, à custa de pessoas comuns?"
Como entender que um Estado
é absolutamente quebrado em doze anos e o povo não vai às ruas
ininterruptamente até tirar do poder essa corja que faz o que quer com o povo,
sem uma forte contrapartida.
Como entender que o povo
permita que o homem que está desvendando essa quadrilha, repatriando milhões
roubados, colocando na cadeia os principais ladrões conhecidos, está sendo
arbitrariamente afastado de suas prerrogativas pela suprema corte do país, sem
que as ruas vejam um movimento sequer de solidariedade a esse herói?"
O primeiro enigma está sendo
desvendado pela história e sabemos como tudo terminou.
O segundo é absolutamente
indecifrável até ao momento e pode nos jogar num túnel do tempo nada agradável.
Lembrando que hoje nós somos
duzentos milhões e estamos longe de ser uma sociedade moderna.
Título e Texto: José Manuel, lendo a história, com
atenção. 26-9-2015
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