Impressiona a velocidade da
deterioração do quadro econômico brasileiro
Rodrigo Constantino
Todo investidor sabe que o
momento bom de comprar é quando há “sangue nas ruas” e o de vender é quando
todos estão eufóricos, como estavam com o Brasil em 2010. Logo, o excesso de
pessimismo com o futuro do Brasil, agora, pode ser arriscado. O timing para
jogar a toalha pode ser inadequado. Afinal, há muita coisa ruim no preço dos
ativos, e vai que a Dilma cai mesmo…
Dito isso, e feito o alerta do
ponto de vista do investidor, o fato inegável é que a situação está muito ruim
para o cidadão brasileiro. Não só a crise econômica se agrava a cada
momento, como a questão da segurança piora a olhos nus, especialmente no meu
querido Rio de Janeiro. Cheguei hoje na “cidade maravilhosa”, após cinco meses
longe, e o impacto é muito cruel.
Nunca tinha ficado mais de um
ou dois meses fora do país, e confesso que é chocante ver o contraste
depois de um tempinho maior respirando ares mais civilizados. O Brasil testa ao
limite o patriotismo daqueles que, como diz o ditado, não desistem nunca.
Resta a nossa marca registrada
de sapo escaldado, que é fazer troça da desgraça, como fiz hoje no meu Facebook: “Estou no Rio há quase 5 horas e ainda não sofri nenhum assalto
nem vi nenhum arrastão. Estou no lucro! Posso me considerar um cara de sorte…”
Brincadeiras à parte, a triste realidade é que o Brasil todo, e o Rio em
especial, afundam rapidamente, e é fácil perceber isso.
Mas não posso contar, como
economista, apenas com a sensação, com o visual, com o que dizem por aí, com
esse clima de desesperança e violência. É preciso analisar os dados. E como
farei uma palestra em breve em São Paulo, tive que atualizar os gráficos que
normalmente utilizo em minhas apresentações, o que não fazia há meses. A
velocidade da deterioração é impressionante. Vejam, por exemplo, o PIB:
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Crescimento do PIB YoY, trimestral. Fonte: Bloomberg
|
Agora, se o PIB mergulhou de
vez, mais assustadora ainda é a expectativa para frente, dos principais
analistas do mercado. A ficha parece ter caído de vez, e ninguém mais espera
uma recuperação tão cedo. A recessão veio para valer, e podemos experimentar
uma queda de até 3% da atividade este ano, sem recuperação no ano que vem:
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Crescimento esperado do PIB para 2015. Fonte: Boletim Focus / Bloomberg |
Claro, o governo petista ainda
tenta alegar que se trata de uma crise mundial, o que gera apenas mais
insegurança nos agentes de mercado, pois eles sabem muito bem que não é nada
disso, e a negação do governo impede uma mudança de rumo mais efetiva. Quando
analisamos o crescimento dos principais países do G20, o resultado é lamentável
para o Brasil petista:
![]() |
Fonte: Bloomberg |
À exceção da Rússia, envolvida
numa guerra com a Ucrânia, extremamente dependente do petróleo e sob um governo
autoritário e populista, o Brasil é o grande patinho feio, e isso mesmo
incluindo países desenvolvidos em crise. Ou seja, a desculpa de que nossos
problemas são oriundos do resto do mundo não se sustenta por um segundo de
análise, mas o PT, sempre cara de pau, repete de forma cansativa essa ladainha,
para não ter que assumir a responsabilidade pelas trapalhadas que jogaram o
país nesse caos.
Mas como se isso não bastasse,
o Brasil não vive “apenas” uma grande recessão, e sim uma enorme estagflação,
já que a inflação segue em patamar absurdamente elevado, a despeito da queda da
atividade. Quando analisamos a inflação do G20, portanto, o resultado é
até mais assustador:
![]() |
Fonte: Bloomberg |
É inegável que a situação do
Brasil esteja terrível, assim como é impossível negar que ela não seja o
resultado de medidas do nosso governo. Mas a reação do governo Dilma é nula, é
um “ajuste fiscal” patético, calcado em aumento de impostos, tudo com a mesma
empáfia e arrogância de antes. A capacidade da presidente de liderar reformas é
totalmente inexistente, mas Dilma parece não se importar. E com isso vai
jogando o Brasil cada vez mais para o abismo.
Tenho vários outros gráficos
para mostrar, mas a mensagem já está bastante clara: o Brasil afunda cada vez
mais rápido, distanciando-se do restante do mundo, e o governo segue
paralisado, com propostas paliativas ou ruins, sem endereçar a raiz dos problemas.
O dólar, como efeito disso, chegou a R$ 4,00 hoje, assustando todo mundo. E a
nau continua sem rumo, ou por outra: rumo ao fundo do mar.
O senador Aécio Neves, que
havia identificado os perigos à frente durante a eleição, mas que foi
ridicularizado pelo PT, escreveu em sua coluna de hoje na Folha um bom resumo desse alarmante
quadro:
Contrariando a máxima de
que toda unanimidade é burra, vai se consolidando no país a convicção de que
vivemos um período de desgoverno sem paralelo, agravado pela reiterada
incapacidade de quem o comanda de se colocar à altura da complexidade da crise.
Crise, aliás, urdida e fomentada nas hostes do partido governista, sob as
bênçãos de suas maiores lideranças.
O que mais assusta é a
ausência de perspectivas. Não há uma agenda visível e factível para o país.
Para onde vamos, afinal? O
que estamos assistindo, entre assustados e indignados, é a erosão crescente do
nosso futuro. O presente, por sua vez, é uma incógnita que se sustenta na falta
de uma coordenação efetiva. Este é um governo que reage apenas a espasmos,
quando se sente acuado.
O senador tucano critica, em
seguida, o mesmo receituário de sempre, que é subir impostos, e questiona se a
presidente quer mesmo alguma mudança. Aponta para a total falta de confiança da
população em alguém que só fez mentir nas últimas eleições, praticando o maior
estelionato eleitoral da história. E cita os movimentos erráticos que desnorteiam
empresários e investidores em geral. Fica complicado esperar alguma saída
enquanto Dilma estiver no poder.
Aécio também termina
questionando por onde anda Guido Mantega, em um silêncio ensurdecedor depois
que ajudou a destruir o país. Os “desenvolvimentistas” inflacionistas da
Unicamp atearam fogo no paiol de pólvora, e agora assistem ao incêndio, às
labaredas consumindo cada ativo brasileiro, o legado todo do Plano Real, como
se não tivessem nada com isso. É espantoso!
Em suma, o Titanic Brasil
bateu num iceberg chamado PT, e começa a ver água por todo lado. Se vamos ou
não a pique ainda é cedo para dizer. Há alternativas, há boias de resgate. Mas
não são indolores, tampouco triviais. O problema é que sabemos que o PT não vai
nos levar nessa direção certa. Sabemos que Dilma não tem a menor capacidade
para tanto. E é isso que mais assusta: a crise, que não é apenas econômica, vai
se alastrando, vai destruindo esperanças, negócios, famílias, e não vemos luz
no fim do túnel.
Como disse no começo, esse
tipo de momento pode ser interessante do ponto de vista do investidor. É
justamente quando ninguém ama, ninguém quer mais o ativo, que ele pode estar na
bacia das almas e ser uma opção interessante de compra. Mas isso se houver
mudanças reais à frente, se os fundamentos podres que levaram o preço do ativo
ao fundo do poço mudarem. Será que mudam mesmo?
Não, repito, enquanto Dilma
estiver no poder. E sempre haverá o risco concreto de seguirmos na trajetória
trágica da Argentina ou da Grécia. É essa espada na cabeça que impede qualquer
alívio para os investidores. Eles, ao contrário dos petistas, sabem fazer
contas, e enxergam o tamanho do buraco logo ali na frente. Como o motorista é
cego por ideologia e se recusa a fazer uma curva drástica, o perigo só aumenta
com o passar do tempo.
Não está nada fácil apostar no
Brasil, insistir no país. Nem do ponto de vista do investidor, muito menos do
ponto de vista do cidadão, que precisa, além da crise econômica, encarar
diariamente a crise da segurança, dos serviços públicos, da educação pública,
da saúde pública… Brasileiro não desiste nunca, repetem por aí. Até o dia que
desistir, que cansar de vez.
Espero que isso não aconteça
nunca, mas é cada vez mais gritante a comparação de nosso “país do futuro” com
os “países do presente”, mais desenvolvidos, mais capitalistas, mais liberais,
mais civilizados. Que possamos escapar de mais essa tormenta e evitar o
naufrágio. A salvação passa, inevitavelmente, pela saída do PT do poder. Sem
isso, veremos o fundo do mar em breve, com todas as suas criaturas tenebrosas
que vivem nas sombras, onde a luz jamais chegou.
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