Vitor Cunha
Eu queria votar com
consciência mas esse voto seria nulo. A eleição de deputados não me diz grande
coisa: desconheço a grande maioria e, dos que conheço, a poucos reconheço
virtude para que representem a minha família, vizinhança e círculo de amigos em
qualquer decisão, ainda para mais com repercussões financeiras no meu peculiar
sentido de bem-estar sedimentado em laissez-faire. Eu queria era votar para o
chefe de governo, coisa que farei indirectamente por mera consequência de levar
com a cangalhada de inúteis de todas as gerações cuja jactância borra todos os
partidos, mais ainda os do imbecilmente denominado “arco da governação”.
Também não queria votar neste
governo. Assunção Cristas e o chove ou não chove, ambos subsidiados, que tanto
faz, desde que pingue; Moreira da Silva e a inarrável taxa sobre sacos de
plástico, provavelmente originada num sonho fetichista de asfixia; Barreto
Xavier, a figura mais sinistra da tenebrosa turba que alterna a chupar na
mangueira da dita cultura portuguesa, a que consiste em candelabros de tampões
e fagotes de bimbalhada com amor-próprio inflamado de golfadas em série na
alcova masturbatória do sistema contributivo; Nuno Crato e a cedência à
imbecilidade da escola como depósito de filhos, do inglês técnico para desgraçados
tão fracos de espírito que necessitam de pelo menos 7 anos obrigatórios para
que escrevam manifestos ao Louçã ou para bater o record mundial do uso contínuo
de “of the” numa única frase e, sobretudo, pela anuência perante o
poderosíssimo lóbi dos livros escolares, os que usam qualquer pentelho
normativo para sacar aos pais um salário médio para a compra de lixo anualmente
perecível; Mota Soares, o bom rapaz incapaz de perceber que a velha que se
queixa que não aguenta é a mesma que, chamando a atenção a si própria, oculta a
miséria da vizinha; o irrevogável Paulo Portas, que com a sua demissão (que foi
mesmo irrevogável, já que deixou de ser Ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros) obrigou o chefe de governo uma postura de interesse nacional, salvando
o país do pântano para o qual somos permanentemente compelidos, promovendo o
demissionário a segunda figura do governo e abdicando de um ministro cuja
capacidade e competência técnica estavam muito acima da norma do pantanoso
país.
Também não queria votar no
PSD. É o partido do ecumenicamente amorfo Marcelo, do calculista Rio, da
afectada Ferreira Leite, do ressabiado Pacheco Pereira, do
elitista-porém-anti-sulista-e-anti-liberal Menezes, do atrapalhado Duarte Lima
e da restante tralha cavaquista, não tão omnisciente como a tralha socrática
mas igualmente disruptiva. É o berço do patológico Capucho e inúmeros
troca-tintas que vêem o socialismo basal das suas convicções a esvair-se numa
repartição de recursos cada vez menos propícia para convencer o gado eleitoral
a receber os brioches através do seu voto Maria Antonieta.
Eu queria votar em Passos
Coelho. Porque assumiu como seu cálice o resgate, porque não vacilou perante os
abutres que pairam, para surpresa de todos; porque aguentou e persistiu sobre o
bafo bolorento de um Tribunal Constitucional que defende o bafio de uma
indefensável Constituição, mais rameira que mãe deste Estado; porque fez
política, não a que quis, a que lhe foi permitida, com muito esforço pessoal,
com muita resignação perante o imobilismo perro de um Estado construído com
ferrugem; porque aguentou, levou, deu a face e conquistou a confiança e
simpatia dos portugueses que, como ele, são só seres humanos perante as
dificuldades da vida; porque a alternativa a ele é o balofo do bolor, a
decadência abraçada, a parasitagem anunciada, o pântano, a areia movediça da
trampa socialista, o resgate e a eternização da confortável mediocridade que
nos atrai há 40 anos. Por isso voto o que quer que seja que reconduza Passos Coelho
para o cargo de Primeiro-Ministro.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias,
18-9-2015
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Texto excelente!
ResponderExcluirMe fez lembrar o discurso de Marco Antônio a seguir ao assassinato de Júlio César.
Você encontrará este discurso, pronunciado de forma inesquecível por Marlon Brando, no filme dirigido por Joseph L. Mankiewicz, em 1953, acessando este link:
https://youtu.be/VpSa_AHfkDg