J.R. Guzzo
A Ordem dos Advogados do
Brasil tornou-se uma desordem. É mais uma, entre tantas outras organizações que
até pouco tempo eram consideradas sérias – e hoje fazem parte da frente
nacional que se dedica ao linchamento do sistema legal, das liberdades públicas
e dos direitos individuais, incluindo aí o direito de defesa. O que está
chamando a atenção, no caso, é o esforço dos comissários que dirigem a OAB para
ficarem na linha de frente da anarquia generalizada.
Seu comportamento é um escândalo, mas eles não se conformam que alguém, por meios inteiramente legais, exponha em público a sua conduta escandalosa. Resultado: estão levando à Justiça, logo eles, uma ação contra o deputado federal Marcel van Hatem [foto], que denunciou as responsabilidades da OAB no desmanche do ordenamento jurídico ora em execução no país. Milhares de advogados, ou muito mais, assinariam embaixo.
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados |
Quando é chamada de conivente, a OAB se enche de coragem e corre para se juntar ao pelotão de fuzilamento.
É uma aberração. A OAB deveria ser a última entidade da sociedade civil a atacar oficialmente a liberdade de expressão de um parlamentar brasileiro no pleno exercício do seu mandato. É um “desvio de função”, como está na moda dizer hoje: a OAB, pura e simplesmente, não pode fazer isso, pois a sua obrigação legal é fazer o contrário. “Os deputados e senadores são invioláveis, civis e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”, diz o artigo 53 da Constituição Federal. Ou seja: a OAB deveria correr à Justiça para impedir que o deputado van Hatem porventura fosse perseguido por fazer um discurso, da tribuna ou fora dela. Mas no Brasil de hoje quem faz a perseguição é a própria OAB. Não há precedentes de uma demência comparável a essa.
A OAB, como a polícia e o tribunal de inquisição que resulta dos inquéritos perpétuos do STF, recusa-se a entender o significado em português da palavra “quaisquer”. Não se trata de nenhuma questão avançada de gramática: isso quer dizer “todos”, muito simplesmente. É o que a Constituição estabelece que se faça. Todas as palavras ditas por um parlamentar brasileiro estão sob proteção legal expressa, e não podem ser objeto de punição. Imagine-se, então, o ponto de degradação a que se chegou no Brasil, em termos de integridade do arcabouço jurídico, quando é a Ordem dos Advogados, justamente, quem exige a anulação de uma evidente garantia determinada pelas leis.
A OAB, notoriamente, não
representa os 1,4 milhões de advogados hoje existentes no Brasil. As eleições
para a sua presidência, desde sempre, são falsificadas por regras que deixariam
constrangido o companheiro Maduro na Venezuela – dizer que a sua direção é
escolhida pelos advogados é o mesmo que dizer que os dirigentes da CUT são
escolhidos pelos trabalhadores brasileiros. Sua função essencial é arrecadar
contribuições compulsórias. Tornou-se uma das mais ativas cúmplices da ditadura
judicial atualmente em vigor no país. Ignora, de maneira grotesca, a violação
das prerrogativas dos advogados na defesa de seus clientes – e os direitos mais
elementares dos cidadãos no processo penal.
Tempos atrás andou resmungando
alguma coisa contra exageros especialmente agressivos na guerra do STF contra o
direito constitucional de defesa. Seus lamentos foram ignorados. A junta
judiciária de governo continua mantendo na prisão acusados que jamais sofreram
uma denúncia formal, negando acesso aos autos e mantendo inquéritos policiais
fora dos prazos fixados em lei. Daí, quando é chamada de conivente, a OAB se
enche de coragem e corre para se juntar ao pelotão de fuzilamento.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, 29-4-2024, 14h40
29-4-2024: Oeste sem filtro – Ministros do STF emendam feriado na Europa
Respondendo a Mônica Bergamo
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Lula e STF tornam Poder Legislativo dispensável, anulando suas decisões
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