Youtuber anda de madrugada pelas ruas do
Rio de Janeiro e registra tudo o que vê através de uma câmera
Felipe Lucena
Há cerca de dois anos,
um “trabalhador correria, pai de família”, como se define o
responsável pelo Madrugada RJ começou a postar vídeos de
ruas do Rio de Janeiro quando a maioria das pessoas está em casa, dormindo.
Diferentemente de praticamente todos os youtubers, quem comanda o canal prefere
não aparecer. A ideia é que as imagens sejam os olhos de quem assiste, como se
fosse você mesmo passeando por vias desertas nas mais altas horas da calada
noite.
O sucesso do canal e das redes
sociais está tendo tanta repercussão que ele foi chamado para ser tema de um
filme feito por uma dinamarquesa e pretende se aprofundar na área
cinematográfica.
“Quero começar a
transformar os vídeos que faço em documentários e mostrar a situação das
pessoas nas ruas, de madrugada“, contou.
Acostumado a chegar do trabalho tarde da noite, ele decidiu que começaria a filmar as ruas e postar na Internet. “A madrugada não é novidade para mim. Sempre trabalhei na madrugada. Não tinha vagas de emprego para mim de dia, então acabava trabalhando à noite. Desde quando servi o quartel, comecei a passar a noite de plantão, reparando em detalhes que durante o dia passam batidos e me apaixonei pela madrugada. Numa das minhas andanças, voltando para casa do trabalho, de madrugada, refleti sobre e decidi criar o canal. Eu pensei ‘imagina se outras pessoas vissem o que eu vejo à noite?’ Me lembro de ter falado com minha mãe que eu me via falando para muita gente, mas não me via em um púlpito de igreja. Essa é minha forma de falar com muita gente”.
De fato, muita gente tem
escutado o ensurdecedor silêncio da madrugada nos vídeos do canal. Uma das
postagens, mostrando o bairro da Pavuna tem quase 300 mil visualizações no
YouTube. São mais de 96 mil inscritos. A decisão por não aparecer veio dos
próprios seguidores, que pediram para que a lente livre, registrando tudo o que
for possível, seja o padrão de conteúdo, que também vai para o Instagram, TikTok, Facebook e Twitter.
“Não apareço claramente nas
imagens e quando dei algumas entrevistas até usei máscara para continuar com
esse mistério. Mas quando estou gravando, atrás da câmera, faço questão de ser
visto por quem cruza meu caminho”.
A provável primeira ideia que
vem à mente de quem assiste um vídeo do canal é “e o medo?”. Pois bem, o
responsável pelo Madrugada RJ garante que não teme o que pode cruzar seu
caminho mesmo sabendo dos riscos. “Uma vez, um rapaz até comentou em
uma postagem que eu deveria ter muita fé para fazer esses registros. E é isso
mesmo. Eu sei que vivo em um estado perigoso com altos índices de crimes e tudo
mais, mas eu não sinto o medo, porque eu tento sempre andar certo na minha
vida, com meus filhos, minha esposa, meus amigos, familiares. Eu sei que
estando certo, andando certo, não serei cobrado por nada e poderei andar
tranquilo, protegido, seguindo meu caminho e respeitando a madrugada e as
pessoas que estão nela. Eu peço proteção, permissão e não sinto o medo”.
Apesar da tranquilidade, os
olhos e a lente não deixam de ver situações tensas, assustadoras e
preocupantes. Ele conta que uma vez registrou uma briga entre uma travesti e um
taxista. O vídeo, ainda no início do canal, chegou a ser bastante visto, mas foi
retirado a pedido de uma das pessoas envolvidas na confusão.
“Teve um dia que eu vi um
vulto em um beco entre dois cemitérios de Vila Rosali, em São João de Meriti.
Sei que ali é uma rua pesada onde mulheres foram estupradas, gente foi morta.
Além do cemitério em si, tem a energia própria dessa rua. E lá, eu vi o vulto
que parecia uma pessoa, mas não era ninguém. Olhei outra vez e não vi ninguém.
A câmera não pegou, mas eu vi. Tem uns lugares que passo e chego em casa leve,
mas tem uns que chego cansado, como se tivesse corrido uma maratona, de tão
pesada que é a carga do lugar”.
Os próximos passos do canal
podem ser fora do Rio de Janeiro. O Madrugada RJ já esteve em São Paulo e
deseja conhecer todas as capitais do Brasil para fazer vídeos, começando por
Curitiba, onde tem muitos seguidores e inscritos.
Morador da Baixada Fluminense,
mais precisamente Nova Iguaçu, o responsável pelo canal Madrugada RJ, enquanto
falava sobre seu trabalho com a reportagem do DIÁRIO DO RIO, se
preparava para o próximo rolé, desta vez na Zona Norte da cidade. Disse o que
tinha que dizer e foi, seguiu seu caminho, afinal, a noite é longa e a
madrugada mais ainda.
Título e Texto: Felipe
Lucena, Diário do Rio, 24-4-2024
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