terça-feira, 4 de abril de 2017

América do Sul em desencanto

Cesar Maia
               
1. Na Venezuela não há fundo para o seu poço. Como se não bastasse a situação econômica crítica, a situação política ganhou novos – e mais graves - contornos. Maduro não tem mais pejo de expor a ruptura com a democracia. E no limite, a corte suprema – que vinha desconstituindo decisões do Congresso - agora resolveu intervir no legislativo num autogolpe de estado. A reação internacional teve tamanha amplitude que, sem cuidados ou justificativas, o ato de intervenção no legislativo foi sustado. Em seguida, a maioria do legislativo de oposição a Maduro decidiu entrar com um processo de “impeachment” da corte suprema, iniciando a destituição de seus ministros.
              
2. O Equador realizou o segundo turno de sua eleição presidencial. Os institutos de pesquisa, sérios e com credibilidade técnica internacional, realizaram amplas pesquisas de boca de urna, dando a vitória ao candidato da oposição por quatro pontos. A surpresa veio quando o tribunal eleitoral oficial iniciou a contagem dos votos. No final, o candidato de Correa foi apresentado como vencedor por uma diferença de dois pontos. Ou seja, um “erro” sobre a pesquisa de boca urna de seis pontos. Algo sem precedentes. A oposição não aceitou os resultados e pediu recontagem voto a voto com ampla fiscalização, mantendo inteiras as cédulas eleitorais.
               
3. O Paraguai não permite reeleição do presidente. Depois de um ciclo de mudanças constitucionais em vários países do continente, esse ciclo se esgotou. Qualquer iniciativa nesse sentido passou a ser considerada atropelo à constituição. Surpreendentemente, o presidente do Paraguai e o ex-presidente patrocinaram mudança constitucional com vistas à reeleição. O senado aprovou. A mobilização foi imediata, inclusive com manifestantes iniciando o incêndio do parlamento. A Câmara de Deputados suspendeu a votação. Em seguida, realizou-se uma enorme manifestação pressionando o congresso para que não conclua a votação.

4. O caso Odebrecht espalhou-se pela continente. País a país foi sendo demonstrado envolvimento de empresários, políticos e funcionários. A empresa reconheceu os desvios que propiciaram escândalos em série, do qual nenhum país da América do Sul (e Panamá) escapou.
               
5. A impopularidade crescente da presidente do Chile levou ao surgimento de candidaturas dentro de sua própria coligação. Pesquisas mostram nome avulso, na liderança da corrida presidencial no campo do governo. O ex-presidente anterior, que ressurgiu das cinzas, hoje é apontado como favorito. Protestos multitudinários em relação ao sistema previdenciário.
               
6. Na Argentina, as dúvidas sobre as políticas públicas do governo do atual presidente crescem e com elas a impopularidade do governo. A ex-presidente e principais auxiliares respondem a processos por desvios comprovados e flagrados.
               
7. Ex-presidente do Peru prefere a cobertura através de sua permanência no exterior. Atual presidente da Colômbia reconheceu financiamento irregular em sua campanha, mas garante que não tomou conhecimento nem autorizou.
               
8. No Brasil, a política econômica do governo vem acertando o alvo, só que a lenta velocidade da recuperação mantém as dúvidas e a impopularidade do presidente. As leis sobre os sistemas previdenciário e trabalhista antecipam desgaste. O governo, com ampla maioria parlamentar, aposta em novas vitórias, mas algumas concessões serão inevitáveis. No final de abril virão as aberturas das delações dos dirigentes da Odebrecht, quando se poderá conhecer a hierarquia e responsabilidade delas – doação legal, caixa 2 e corrupção.
Título e Texto: Cesar Maia, 4-4-2017

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