Cesar Maia
1. Na Venezuela não há fundo para o seu poço. Como se não bastasse
a situação econômica crítica, a situação política ganhou novos – e mais graves -
contornos. Maduro não tem mais pejo de expor a ruptura com a democracia. E no
limite, a corte suprema – que vinha desconstituindo decisões do Congresso -
agora resolveu intervir no legislativo num autogolpe de estado. A reação
internacional teve tamanha amplitude que, sem cuidados ou justificativas, o ato
de intervenção no legislativo foi sustado. Em seguida, a maioria do legislativo
de oposição a Maduro decidiu entrar com um processo de “impeachment” da corte
suprema, iniciando a destituição de seus ministros.
2. O Equador realizou o segundo turno de sua eleição presidencial.
Os institutos de pesquisa, sérios e com credibilidade técnica internacional,
realizaram amplas pesquisas de boca de urna, dando a vitória ao candidato da
oposição por quatro pontos. A surpresa veio quando o tribunal eleitoral oficial
iniciou a contagem dos votos. No final, o candidato de Correa foi apresentado
como vencedor por uma diferença de dois pontos. Ou seja, um “erro” sobre a
pesquisa de boca urna de seis pontos. Algo sem precedentes. A oposição não
aceitou os resultados e pediu recontagem voto a voto com ampla fiscalização,
mantendo inteiras as cédulas eleitorais.
3. O Paraguai não permite reeleição do presidente. Depois de um
ciclo de mudanças constitucionais em vários países do continente, esse ciclo se
esgotou. Qualquer iniciativa nesse sentido passou a ser considerada atropelo à
constituição. Surpreendentemente, o presidente do Paraguai e o ex-presidente
patrocinaram mudança constitucional com vistas à reeleição. O senado aprovou. A
mobilização foi imediata, inclusive com manifestantes iniciando o incêndio do
parlamento. A Câmara de Deputados suspendeu a votação. Em seguida, realizou-se
uma enorme manifestação pressionando o congresso para que não conclua a
votação.
4. O caso Odebrecht espalhou-se pela continente. País a país foi
sendo demonstrado envolvimento de empresários, políticos e funcionários. A
empresa reconheceu os desvios que propiciaram escândalos em série, do qual
nenhum país da América do Sul (e Panamá) escapou.
5. A impopularidade crescente da presidente do Chile levou ao
surgimento de candidaturas dentro de sua própria coligação. Pesquisas mostram
nome avulso, na liderança da corrida presidencial no campo do governo. O
ex-presidente anterior, que ressurgiu das cinzas, hoje é apontado como
favorito. Protestos multitudinários em relação ao sistema previdenciário.
6. Na Argentina, as dúvidas sobre as políticas públicas do governo
do atual presidente crescem e com elas a impopularidade do governo. A
ex-presidente e principais auxiliares respondem a processos por desvios
comprovados e flagrados.
7. Ex-presidente do Peru prefere a cobertura através de sua
permanência no exterior. Atual presidente da Colômbia reconheceu financiamento
irregular em sua campanha, mas garante que não tomou conhecimento nem
autorizou.
8. No Brasil, a política econômica do governo vem acertando o alvo,
só que a lenta velocidade da recuperação mantém as dúvidas e a impopularidade
do presidente. As leis sobre os sistemas previdenciário e trabalhista antecipam
desgaste. O governo, com ampla maioria parlamentar, aposta em novas vitórias,
mas algumas concessões serão inevitáveis. No final de abril virão as aberturas
das delações dos dirigentes da Odebrecht, quando se poderá conhecer a
hierarquia e responsabilidade delas – doação legal, caixa 2 e corrupção.
Título e Texto: Cesar Maia, 4-4-2017
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