Nuno Escobar de Lima
Com um primeiro-ministro que
“luta pela reeleição com um registo de cooperação total com os credores
internacionais”, o Financial Times vê nas semanas que antecedem as legislativas
portuguesas “a antítese da campanha que terminou na Grécia”.
Num texto do seu
correspondente em Lisboa, Peter Wise, o diário britânico compara esta
terça-feira as corridas eleitorais em dois países resgatados pela troika. E diz
que Pedro Passos Coelho se quer tornar “o primeiro chefe de Governo da UE a ser
reeleito após um resgate”.
Uma tese defendida com “os
quatro anos de estabilidade governativa com Passos Coelho”, que contrastam com
a vida política grega, onde houve “cinco eleições nos últimos seis anos”,
fazendo com que a reeleição de Alexis Tsipras não seja contabilizada pelo
Financial Times como a de alguém que voltou a vencer apesar de se ver obrigado
a manter a austeridade.
E é nessa estabilidade que
reside a aposta do actual primeiro-ministro, que é citado a prometer “um futuro
bem diferente da Grécia, que infelizmente enfrenta um novo programa de resgate
e mais austeridade”. Também o vice primeiro-ministro da coligação “que foi a
primeira a sobreviver à totalidade de um mandato desde o regresso à democracia
em 1974” é referido no assinalar da distância face a Atenas: “Nós já dissemos
adeus à troika, que continua na Grécia”, diz Paulo Portas numa declaração vista
por Wise como uma “resposta à reeleição de Tsipras” que “reflecte a forma como
a Grécia se tornou uma pedra-de-toque na campanha portuguesa, outro país em
dificuldades no Sul da Europa onde dois partidos seguem lado a lado nas
sondagens”.
O diário cita ainda o analista
político António Barroso para confirmar que o facto de “Portugal ter sido capaz
de finalizar o seu programa de ajustamento dentro do prazo e estar a crescer
outra vez ser uma das ideias mais vendidas pela coligação”.
Outro comentário, do professor
de política António Costa Pinto, acrescenta que a candidatura que junta PSD e
CDS “tem vindo a fazer um grande esforço nas últimas semanas para colar o PS ao
Syriza, enquanto os socialistas têm tentado arduamente demarcar-se do exemplo
grego”. Uma tarefa dificultada pela “reação calorosa” à primeira vitória
eleitoral da esquerda grega, atitude que vem sendo “moderada desde então”, como
mostra a reação de António Costa ao segundo triunfo do Syriza. Defendendo que
os gregos “ratificaram uma solução negociada com a Europa” ao mesmo tempo que
“rejeitaram manifestamente o regresso a um governo de direita”, o líder
socialista disse esperar que reeleição de Tsipras “contribua para o virar da
página na crise da zona euro”.
Uma posição que é apresentada
pelo Financial Times como um dos
factores que impediram “partidos de protesto como o Syriza e o Podemos
espanhol de ter um impacto significativo no eleitorado português”.
Peter Wise diz que os
analistas nacionais consideram que o PS e o PCP serviram de “válvula de escape
política” para os eleitores que desejam pôr fim à austeridade.
São também recordadas as
críticas do líder socialista ao facto de o Governo que agora cessa funções ter
“ido além das medidas de austeridade acordadas em 2011 entre o Governo
socialista e os credores internacionais, infligindo uma recessão profunda
desnecessária, desemprego recorde e uma onde de emigração em Portugal”. Uma acusação
“rejeitada pelo primeiro-ministro”, que refere o terceiro programa de resgate
na Grécia como prova de que “não há alternativas benignas à austeridade quando
não há mais dinheiro”.
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