Carlos José Marques
Não há um único brasileiro
hoje minimamente informado que não esteja a se perguntar: em que País estamos?
Onde foram parar as instituições? Um colossal conjunto de provas de bandidagem
explícita veio a público. Áudios entre o ex-presidente Lula e a presidente
Dilma dão claros sinais de tentativa de obstrução da justiça, em várias etapas
e de maneira sistemática, no processo de investigação da Lava-Jato, como já
vinham demonstrando testemunhos de inúmeros investigados na Operação.
Por si só, tais atos já serviriam
para o imediato impedimento da presidente em qualquer lugar do mundo
civilizado. Os diálogos das gravações – especialmente entre o líder petista e a
mandatária - são estarrecedores, repletos de achincalhe, ironias e agressões
aos poderes constituídos. A grosseria extrema e os insultos em tom de deboche
presentes nas conversas dessas autoridades traduzem de maneira cristalina e
inequívoca a podridão por trás do poder na era petista e o tamanho da crise
moral que se abateu sobre o País.
O ex-presidente Lula –
embolado numa posse seguida de destituição em tempo recorde da Casa Civil, na
última semana - chega a tachar de “acovardado” o próprio Supremo Tribunal
Federal. Diz o mesmo do Superior Tribunal de Justiça. Qualifica de “fodidos” os
presidentes da Câmara e do Senado Federal e não poupa nem o Procurador Geral da
República, Rodrigo Janot, a quem reclama uma dívida de gratidão e diz que ele
teria “tomado no c.” se não o ajudasse. Fala esse festival de barbaridades
diretamente à presidente da República.
E avança ainda mais! Junto com
ela trama um desavergonhado ardil para não ser preso. Dilma corre a lhe dar um
papel de “termo de posse” como ministro para ele “usar em caso de necessidade”.
A presidente age com pressa, quebrando o rito protocolar no qual esse documento
é entregue e assinado por ambas às partes no dia da cerimônia. Após a
divulgação do estratagema para safar o padrinho da cadeia, a própria presidente
busca dar explicações que não se sustentam diante dos fatos.
Além de adiantar a papelada a
Lula, Dilma fez rodar uma edição extraordinária do Diário Oficial, formalizando
a nomeação, e antecipou a posse. Lula havia escutado de um interlocutor que ele
estava “condenado efetivamente” e que a alternativa era um ministério. No
conjunto de diálogos grampeados, tanto quanto nas articulações e pressão para
influir em vários escalões da justiça, o vício de fuga de foro foi amplamente
caracterizado. E se o episódio não se trata de afronta criminosa, passível de
condenação dos envolvidos, é grande o risco de a maioria dos brasileiros deixar
de acreditar no primado das leis.
Ainda nos idos dos anos 80, o
próprio Lula chegou a definir: “No Brasil, quando um pobre rouba, vai prá
cadeia; quando um rico rouba, vira ministro”. Ele parece tentar cumprir a
própria profecia. Típico de mentes desprovidas de qualquer senso de respeito
aos demais é a ideia de que podem enganar a todos o tempo todo. Erro crasso! A
atuação do governo e de aliados no caso assemelha-se à ação de gangsters. Tal
qual uma quadrilha de mafiosos chegaram a tentar comprar o silêncio do delator
Delcídio Amaral através do ministro Mercadante, tido como de maior confiança da
chefe da Nação.
A ética evaporou naquele
ambiente! Transformaram o governo em um comitê de operações partidárias nada
republicanas e procuraram ferir de morte o estado democrático de direito. Eles,
sim, estão engolfando a lei com essas manobras que horrorizam a sociedade. O
ministro Jaques Wagner, em um dos diálogos com o presidente do PT, Rui Falcão,
chega ao limite do impensável de mandar a militância “sair na porrada!”, numa
atitude de pura bandidagem. Decerto a esplanada ministerial não pode se
converter num covil de salafrários.
Muito menos a Presidência da
República deve se prestar ao papel de agenciadora de atos que deponham a favor
da improbidade administrativa. E nesse tocante, no que se refere a atual
mandatária, transbordam evidências de que ela incorreu diversas vezes na
prática. Não se restringe mais apenas a um caso de caixa dois e maquiagem de
contribuições em sua campanha eleitoral - por si só gravíssimo, passível de
cassação no TSE – o problema que enfrenta e que tem sido reiteradamente
demonstrado nos depoimentos e provas documentais já em mãos da polícia.
Há de tudo! De interferências
em investigações às pedaladas fiscais, culminando com o amparo imoral a
acusados de lavagem de dinheiro e outros crimes, visando blindá-lo. Assim Dilma
se colocou no centro do maior escândalo de corrupção da história nacional. E
agora perde definitivamente as condições de governar. O amontoado de
irregularidades, em atos e palavras, leva ao limite do insuportável a aceitação
de sua continuidade no poder. Para agravar o quadro, somam-se ainda a sua
incapacidade gerencial e a perda de sustentação política.
Imprudente – para dizer o
mínimo! –, Dilma forneceu caudalosos fundamentos para o impeachment. O povo não
a quer mais. Está claro! A dimensão oceânica das manifestações, que não param,
deveria levá-la a um gesto de grandeza: renunciar ao cargo pela perda de representatividade.
Retirando-se imediatamente, com uma abdicação minimamente honrosa, daria sua
contribuição patriótica, deixando o Brasil seguir seu rumo de reconstrução.
Ela, como todos ali, já deveriam ter entendido que chegou o fim! Basta! Do
contrário, o resultado pessoal dessa chicana deixará marcas negativas para o
resto da vida tanto dela, Dilma, como de seus apaniguados.
Há de se registar nesse
espetáculo grotesco, a cena que selou a revolta nacional: a da presidente dando
posse a Lula, cercada apenas pela claque oficial, com militantes sindicais
selecionados para aplaudir à porta do Planalto, enquanto a população era
barrada por policiais, numa distância estratégica. Ali esteve estampado o
retrato da decadência. Dilma e seus poucos interlocutores estão agora sitiados
no Planalto. Não podem sair às ruas sob pena de ouvirem os apupos. Hoje ela é
um arremedo de mandatária que nada manda. Figura decorativa odiada pela
sociedade. Restam-lhe os militantes fiéis à seita petista, turbinados por
recursos partidários e aparato digno de gangues, que continuam a tumultuar o
ambiente. Mas o processo é irreversível.
Dilma precisa ser apeada do
poder freando essa marcha de insensatez que, junto com Lula e o PT, vem
trilhando em nome de uma insaciável sanha de controle da máquina e do dinheiro
público, cujo desfecho pode ser a destruição completa do Estado. Há um clamor
generalizado de socorro emitido pela sociedade e os poderes constituídos,
especialmente Judiciário e Legislativo, devem atender de pronto. Parem, na
letra da lei, o descalabro praticado no Executivo! Os rumos da Nação estão em
xeque e é preciso urgentemente providências que não são outras que não o
impeachment ou deposição da mandatária.
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