sábado, 19 de março de 2016

"A hora de se retirar"

Carlos José Marques

Não há um único brasileiro hoje minimamente informado que não esteja a se perguntar: em que País estamos? Onde foram parar as instituições? Um colossal conjunto de provas de bandidagem explícita veio a público. Áudios entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma dão claros sinais de tentativa de obstrução da justiça, em várias etapas e de maneira sistemática, no processo de investigação da Lava-Jato, como já vinham demonstrando testemunhos de inúmeros investigados na Operação.

Por si só, tais atos já serviriam para o imediato impedimento da presidente em qualquer lugar do mundo civilizado. Os diálogos das gravações – especialmente entre o líder petista e a mandatária - são estarrecedores, repletos de achincalhe, ironias e agressões aos poderes constituídos. A grosseria extrema e os insultos em tom de deboche presentes nas conversas dessas autoridades traduzem de maneira cristalina e inequívoca a podridão por trás do poder na era petista e o tamanho da crise moral que se abateu sobre o País.

O ex-presidente Lula – embolado numa posse seguida de destituição em tempo recorde da Casa Civil, na última semana - chega a tachar de “acovardado” o próprio Supremo Tribunal Federal. Diz o mesmo do Superior Tribunal de Justiça. Qualifica de “fodidos” os presidentes da Câmara e do Senado Federal e não poupa nem o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, a quem reclama uma dívida de gratidão e diz que ele teria “tomado no c.” se não o ajudasse. Fala esse festival de barbaridades diretamente à presidente da República.

E avança ainda mais! Junto com ela trama um desavergonhado ardil para não ser preso. Dilma corre a lhe dar um papel de “termo de posse” como ministro para ele “usar em caso de necessidade”. A presidente age com pressa, quebrando o rito protocolar no qual esse documento é entregue e assinado por ambas às partes no dia da cerimônia. Após a divulgação do estratagema para safar o padrinho da cadeia, a própria presidente busca dar explicações que não se sustentam diante dos fatos.

Além de adiantar a papelada a Lula, Dilma fez rodar uma edição extraordinária do Diário Oficial, formalizando a nomeação, e antecipou a posse. Lula havia escutado de um interlocutor que ele estava “condenado efetivamente” e que a alternativa era um ministério. No conjunto de diálogos grampeados, tanto quanto nas articulações e pressão para influir em vários escalões da justiça, o vício de fuga de foro foi amplamente caracterizado. E se o episódio não se trata de afronta criminosa, passível de condenação dos envolvidos, é grande o risco de a maioria dos brasileiros deixar de acreditar no primado das leis.

Ainda nos idos dos anos 80, o próprio Lula chegou a definir: “No Brasil, quando um pobre rouba, vai prá cadeia; quando um rico rouba, vira ministro”. Ele parece tentar cumprir a própria profecia. Típico de mentes desprovidas de qualquer senso de respeito aos demais é a ideia de que podem enganar a todos o tempo todo. Erro crasso! A atuação do governo e de aliados no caso assemelha-se à ação de gangsters. Tal qual uma quadrilha de mafiosos chegaram a tentar comprar o silêncio do delator Delcídio Amaral através do ministro Mercadante, tido como de maior confiança da chefe da Nação.

A ética evaporou naquele ambiente! Transformaram o governo em um comitê de operações partidárias nada republicanas e procuraram ferir de morte o estado democrático de direito. Eles, sim, estão engolfando a lei com essas manobras que horrorizam a sociedade. O ministro Jaques Wagner, em um dos diálogos com o presidente do PT, Rui Falcão, chega ao limite do impensável de mandar a militância “sair na porrada!”, numa atitude de pura bandidagem. Decerto a esplanada ministerial não pode se converter num covil de salafrários.

Muito menos a Presidência da República deve se prestar ao papel de agenciadora de atos que deponham a favor da improbidade administrativa. E nesse tocante, no que se refere a atual mandatária, transbordam evidências de que ela incorreu diversas vezes na prática. Não se restringe mais apenas a um caso de caixa dois e maquiagem de contribuições em sua campanha eleitoral - por si só gravíssimo, passível de cassação no TSE – o problema que enfrenta e que tem sido reiteradamente demonstrado nos depoimentos e provas documentais já em mãos da polícia.

Há de tudo! De interferências em investigações às pedaladas fiscais, culminando com o amparo imoral a acusados de lavagem de dinheiro e outros crimes, visando blindá-lo. Assim Dilma se colocou no centro do maior escândalo de corrupção da história nacional. E agora perde definitivamente as condições de governar. O amontoado de irregularidades, em atos e palavras, leva ao limite do insuportável a aceitação de sua continuidade no poder. Para agravar o quadro, somam-se ainda a sua incapacidade gerencial e a perda de sustentação política.

Imprudente – para dizer o mínimo! –, Dilma forneceu caudalosos fundamentos para o impeachment. O povo não a quer mais. Está claro! A dimensão oceânica das manifestações, que não param, deveria levá-la a um gesto de grandeza: renunciar ao cargo pela perda de representatividade. Retirando-se imediatamente, com uma abdicação minimamente honrosa, daria sua contribuição patriótica, deixando o Brasil seguir seu rumo de reconstrução. Ela, como todos ali, já deveriam ter entendido que chegou o fim! Basta! Do contrário, o resultado pessoal dessa chicana deixará marcas negativas para o resto da vida tanto dela, Dilma, como de seus apaniguados.

Há de se registar nesse espetáculo grotesco, a cena que selou a revolta nacional: a da presidente dando posse a Lula, cercada apenas pela claque oficial, com militantes sindicais selecionados para aplaudir à porta do Planalto, enquanto a população era barrada por policiais, numa distância estratégica. Ali esteve estampado o retrato da decadência. Dilma e seus poucos interlocutores estão agora sitiados no Planalto. Não podem sair às ruas sob pena de ouvirem os apupos. Hoje ela é um arremedo de mandatária que nada manda. Figura decorativa odiada pela sociedade. Restam-lhe os militantes fiéis à seita petista, turbinados por recursos partidários e aparato digno de gangues, que continuam a tumultuar o ambiente. Mas o processo é irreversível.

Dilma precisa ser apeada do poder freando essa marcha de insensatez que, junto com Lula e o PT, vem trilhando em nome de uma insaciável sanha de controle da máquina e do dinheiro público, cujo desfecho pode ser a destruição completa do Estado. Há um clamor generalizado de socorro emitido pela sociedade e os poderes constituídos, especialmente Judiciário e Legislativo, devem atender de pronto. Parem, na letra da lei, o descalabro praticado no Executivo! Os rumos da Nação estão em xeque e é preciso urgentemente providências que não são outras que não o impeachment ou deposição da mandatária. 
Título e Texto: Carlos José Marques, diretor editorial, IstoÉ, 19-3-2016

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