Péricles Capanema

Em síntese, os manifestantes,
fartos da roubalheira, queriam o PT fora do governo. O ronco das multidões
iradas ecoou longe, simbolicamente despejou a inquilina do Planalto. Renúncia, impeachment ou
cassação do mandato pelo TSE são as saídas constitucionais. Fala-se também,
ainda com pequena probabilidade de êxito, na instauração do semiparlamentarismo
(ou semipresidencialismo), em que Dilma Rousseff se arrastaria, com poderes
diminuídos, até 2018. De outro lado, o juiz Sérgio Moro saiu das manifestações
como o grande herói anticorrupção. Simplificar no caso permitiu comunhão de
sentimentos, viabilizou o impacto, deu ao Brasil a necessária sensação de luz
no fundo do túnel.
Agora o day after,
o complemento. Passado o momento da síntese acalorada, chegou a hora da análise
fria, e assim salvar a esperança.
Um primeiro ponto. Sei, a
partir de agora, posso a alguns parecer pesado, paciência; prefiro a
impopularidade passageira à desmoralização perene. Nas manifestações do último
domingo o Brasil esbravejou um basta aos corruptos. É a mais compreensível,
louvável, comum e fácil das raivas na cena pública, facilmente caminho para
desastres, se for apenas madeira para incendiários juízos precipitados. Em
1930, a grande denúncia foram os “carcomidos”, os políticos da República Velha.
Em 1964, a corrupção e a subversão, mais a primeira que a segunda, foram as
grandes denúncias. Ponho à luz aspecto quase nunca comentado: a partir de
então, pouco de sério efetivamente se fez no campo ideológico e das
mentalidades. O Brasil, na calmaria das superfícies, pela atuação multifacética
das esquerdas por seguidos lustros foi preparado a fundo para o período da
República Nova, inaugurada em 1985. O PT surfou nesta onda. Quem não se
recorda, durante anos para larga faixa do público foi o partido da ética (O PT
não rouba, nem deixa roubar). Neste aspecto, o 13 de março, representou golpe
forte na esquerda; de fato foi mais antigoverno que antiesquerda. E seria mais
tranquilizador a atenção de fundo também fixada na ameaça totalitária, no
perigo do hegemonismo, na expansão do coletivismo. Tudo isso não vai parar, se
a opinião do povo brasileiro não parar o PT.
Os protestos antipetistas do
13 último foram apenas começo promissor, ainda muito ameaçado. Virá reação
implacável, muita gente obcecada sente-se ameaçada em seus mais importantes
planos. O PT tem na direção, posições decisivas, adeptos fanatizados de seita
ideológica, cuja meta é, pelo projeto de poder, ir até seu objetivo, a saber,
criar um tipo humano ateu, igualitário, libertário. Salvo casos raros, seus
adeptos são inamovíveis em suas convicções e em seus objetivos. Esse grupo só
se preocupa com a generalização da pobreza provocada pelas políticas petistas,
na medida em que, no momento, prejudica seu caminho para o objetivo final.
Lançará mão de todos os recursos para preservar as possibilidades de chegar
logo que possível ao objetivo. Dilma Rousseff certa vez disse: “Nós
podemos fazer o diabo quando é hora de eleição” E Aloízio
Mercadante há pouco, na mesma direção, sentenciou:“Em política, tudo
pode”. O mais recente golpe foi a posse de Lula no cargo de
ministro-chefe da Casa Civil. As jararacas (não é só Lula, é muito mais) vão
fazer o diabo, sem escrúpulos, para virar o jogo. Mesmo acordos com as forças
oposicionistas e o desembarque de Dilma Rousseff.
A Paraná Pesquisas realizou
levantamento sem critérios seletivos (Só dois, maiores de 16 anos, 56% de
homens, 44% de mulheres) entre o público que protestou na Paulista no dia 13,
tendo sido perguntadas 1.200 pessoas das 12 às 18 horas. Voto para presidente:
Aécio 29%; Bolsonaro, 16%, Marina 12%, Caiado 4%, Ciro Gomes 4%, Cristóvão
Buarque 3%, Lula 2%, nenhum 21%. Avaliação acerca da oposição 42% a julgam
omissa, 38% a consideram branda/passiva.
O que sai do retrato
momentâneo? Um dado pisca vermelho: 80% do público não se vê representado pela
oposição. É terreno de si saudável, evidencia exigência muito maior de energia
antiesquerdista; de outro lado, facilmente podem medrar aventureiros portadores
de propostas desastrosas. Ainda se vê enorme dispersão de opiniões. Em resumo,
a exasperação popular manda avisos para todo mundo. Entre outros, de grande importância:
para a direita, falta cristalização e enraizamento de princípios; para a
esquerda, o esquerdismo triunfante na imprensa em geral esconde conservadorismo
latente. É perigoso cutucar a fera adormecida, sobretudo com crise econômica
brava. Tem caminho? Sem dúvida, depende fundamentalmente não dos políticos, nem
do Judiciário, nem da imprensa, mas do rumo da inconformidade popular.
Título e Texto: Péricles Capanema, ABIM,
19-3-2016
Fotos: Paulo Ricardo Campos
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