João Marques de Almeida
Parece
cada vez mais que o período político do PT e de Lula acabou. Mas o fim pode ser
violento (não foi Lula que disse que é o único com poder para “incendiar o
Brasil”?) e muito negativo para o país
Nas últimas 48 horas, o PT acusou uma suposta aliança entre “juízes” e a
“direita” por tentar derrubar Dilma Rousseff e, ainda, enviar Lula para a
prisão. O argumento “petista” rapidamente atravessou o Atlântico e foi adoptado
pelas esquerdas radicais portuguesas, o BE e o PCP. É impressionante como estas
esquerdas nunca perdem uma oportunidade para se colocarem no lado errado da
História.
Mas voltemos à tese do “golpe” da “direita”. O partido mais à direita no
sistema político brasileiro, o PSDB, tem estado dividido em relação ao
“impeachment” contra Dilma – e continua dividido. O seu líder histórico,
Fernando Henrique Cardoso, tem afirmado inúmeras vezes que não é salutar para a
democracia brasileira impugnar um Presidente pela segunda vez no espaço de
menos de 25 anos. Aécio Neves, o candidato presidencial de 2014, tem sido o
mais assertivo a favor do “impeachment “, mas tem hesitado em relação à
realização de eleições antecipadas. Outros dirigentes do PSDB, como José Serra
e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, são contra eleições antecipadas.
Estas posições correspondem obviamente aos seus interesses políticos, mas o
ponto a sublinhar aqui é que não fazem parte de uma conspiração para “derrubar”
ilegalmente Rousseff.
A principal preocupação do PSDB tem sido com a hipótese de Lula concorrer
às eleições de 2018, e não com o derrube de Dilma. Os Congressistas do PMDB
(partido aliado do PT no governo) são que têm liderado o processo de impugnação
contra a Presidente Rousseff. Ou seja, mais do que o resultado de uma
estratégia da “direita”, o “impeachment” foi a consequência do início da
fragmentação da coligação que apoiava Dilma.
A afirmação de que os “juízes” estão a preparar um “golpe” contra o PT é
ainda mais caricata. O juíz Sérgio Moro – o “inimigo” a abater pelo PT – tem o
apoio da maioria dos juízes brasileiros, da Ordem dos advogados e do Supremo
Tribunal. As escutas que fez a Lula, e a sua publicação, foram aprovadas pelo
Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, e pelos juízes do Supremo
Tribunal Federal.
Moro faz parte de uma geração de magistrados bem preparada, que fez parte
dos seus estudos fora do Brasil e que está farta de ver o seu país a sofrer com
a corrupção. Desejam viver num país democrata, onde se respeite o estado de
direito. O confronto a que estamos a assistir no Brasil é entre uma geração de
magistrados que se inspira nas prácticas democráticas e jurídicas da Europa
ocidental e dos Estados Unidos e um partido político da esquerda radical e
populista, que se sente mais próximo dos regimes de partido único como a China
e a Rússia do que das democracias ocidentais.
Moro e os seus pares fazem parte de uma classe média educada que aspira a
viver num país sem corrupção generalizada. Dizer que são aliados dos “poderosos”
e dos “ricos” contra o partido dos “trabalhadores” e dos “pobres” é ridículo e
falso. Não são eles que passaram os últimos anos a viajar em aviões privados e
a conviver com milionários. Foi Lula. A verdade incomoda mas é clara. O PT e
Lula são especialistas a conquistar os votos dos pobres, mas depois passam o
tempo com os ricos, e fazem negócios com os milionários.
O PT acusou a oposição de estar a preparar um “golpe” para derrubar uma
Presidente eleita democraticamente. Mas o verdadeiro golpe foi a tentativa de
colocar Lula como ministro. Seria de facto, e de novo, o Presidente (sem ter
sido eleito) e no poder começaria a preparar a campanha para as eleições de
2018. Dilma é uma personagem secundária e uma criação de Lula. O poder esteve
sempre com ele. Lula julgou-se um “semi-Deus” e o dono do Brasil. Nunca julgou
que os brasileiros o abandonariam. Enganou-se.
Lula quis ir para o governo para fugir à jurisdição de Sérgio Moro e ser
investigado pelo Supremo Tribunal, achando que teria vantagens. Pelo menos,
atrasaria o processo e ganharia tempo. Ora foi precisamente um juíz do Supremo
que considerou a decisão de Lula um golpe. Anulou a sua nomeação como ministro
e enviou-o de volta para Moro. Se o colégio do Supremo confirmar a decisão do
juíz Gilmar Mendes, Lula não regressará ao governo.
Parece cada vez mais claro que o período político do PT e de Lula acabou.
Mas o fim poderá ser violento (não foi Lula que disse que é o único com poder
para “incendiar o Brasil”?) e muito negativo para o Brasil. Neste momento, a
questão central é a seguinte: qual será a alternativa política que irá emergir?
A resposta ainda está longe de ser evidente.
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