Luciano Henrique
De que maneira rebater a fúria
psicopática da extrema-esquerda? Lobão fez uma carta aberta sensacional a Caetano, Gil e Chico:
Carta Aberta para Caetano, Gil e Chico
Caros amigos,
Decidi escrever uma carta aberta a vocês por inúmeros motivos, mas
confesso que dentre todos esses tais motivos que me moveram, estava lá, para
minha surpresa, no fundo do meu peito a me gritar, o maior e mais importante
deles todos: O meu amor por vocês.
Não poderia haver momento mais emblemático, um domingo de Páscoa, me
permitir (não sem alguma resistência) ser flagrado em minhas próprias
contradições. Pois bem: na madrugada de hoje, tomei fôlego e sintonizei o
programa do Serginho Groissmann no intuito (um tanto beligerante) de verificar
as declarações do Caetano que vazaram na imprensa sobre as passeatas, a
situação política etc e tal, imaginando colher não somente o que foi dito, mas
como foi dito, gesticulado e contextualizado. Até então, o clima era de afiar
unhas e dentes.
Contudo, algo muito possante tomou conta de mim, uma força estranha foi
me conduzindo para áreas da minha memória afetiva e quando dei por mim, estava
lá eu olhando para a TV inundado de carinho e amor, com um enorme sentimento de
parentesco por aquelas duas figuras (Caetano e Gil) que há tantos anos venho me
digladiando e divergindo.
Essa tal força estranha também dragou uma outra figura, na tela ausente,
para a ribalta do meu coração, o Chico.
E a partir daquele instante me vi numa tremenda sinuca de bico: se
estou eu, lutando pela verdade dos fatos, por alguma razoabilidade nos gestos,
por justiça, honestidade intelectual, tolerância e entendimento, cabe a mim
adotar esse rigor, antes de mais nada, a mim mesmo e por isso mesmo venho a
público pedir minhas desculpas por ter sido durante todos esses anos, desonesto
a diminuir o talento de vocês três por pura birra, competição, autoafirmação ou
até, vá lá, uma discordância genuína quanto a princípios ideológicos, políticos
e metodológicos.
Vocês três fazem parte, queira eu ou não, do meu DNA artístico e
afetivo, do meu imaginário poético e são sim, artistas muito fora da curva,
tanto na excelência das canções com na criatividade, na beleza e na inspiração
de seus versos. Portanto, peço humildemente o perdão de vocês, Caetano, Gil e
Chico.
Sendo assim, desde então , livre para vos amar, admirar e respeitar,
voltemos à vaca fria, a esse momento grave de colapso de governo, de ódio
generalizado entre os brasileiros.
Caetano, me corrija se eu estiver errado, mas ao observar seu
posicionamento sobre as passeatas e os movimentos sociais notei na sua mímica
(mais até no que você dizia) uma angústia cravada de dúvidas em relação a essa
torrente de acontecimentos insólitos, surpreendentes a nos deixar atônitos e
desnorteados. E havemos de acrescer de mais angústia ainda ao contabilizá-la,
uma vez que o programa já havia sido gravado duas semanas antes! Ou seja, há
priscas eras, quando nossas preocupações ainda eram criancinhas de pré primário
diante das atuais!
E a grande preocupação atual é o fato de todos nós sermos forçados a
concordar sem a menor sombra de dúvida que esse governo já não vigora mais como
tal, que ele mesmo se deliquesceu no esplendor duvidoso de sua ruína moral,
arrastado para a seara da pura e simples criminalidade e que será necessário de
agora em diante muita serenidade, sabedoria e união de todos nós para recomeçar
tudo de novo.
A minha proposta é simples e singela: nos concedermos a oportunidade de
revermos nossos pontos de vista, nossas metas, de conversarmos como pessoas
crescidas que estão nessa luta por um Brasil mais justo, cada um à sua maneira,
com toda disposição de melhorar as condições do país em todos os sentidos.
Começaríamos, como não poderia deixar de ser, pela nossa classe que
tanto precisa ser reavaliada, repensada e reorganizada não somente entre as
nossas relações pessoais enquanto colegas mas como também nas políticas culturais
(ou não).
Quem sabe, nesse momento sombrio esteja justamente a nossa brecha
cósmica de mudanças de paradigmas nefastos tão profundamente enraizados em
nossas almas, em nosso imaginário e principalmente , em nossa forma de agir.
E que ironia do destino, numa data tão emblemática como esses idos de
março, num fechamento de ciclo iniciado em 64 que se prenuncia ameaçador
latejando em nossos corações como uma tempestade a nos colher de hora marcada,
seja agora o instante de rechaçarmos de vez essa tenebrosa repetição de padrão
que nos condenaria para todo o sempre a criaturas imunes aos efeitos da
tentativa e erro.
Está em nossas mãos, enquanto
artistas sempre com forte penetração no coração da alma brasileira, não
permitir que sejamos reféns de nossa inépcia, de nossas paixões, dos nossos
cacoetes e de nossa vaidade.
Quem sabe seja nessa hora amarga de desmoronamentos de sonhos e
anseios, o terreno mais fértil para nos ouvirmos e nos desfrutarmos com mais
proveito, com mais sabor e daí surgir um oceano de novas revelações?
Portanto, meus caros amigos, clamo a vocês, de todo o coração, para que
conversemos, discutamos, discordemos que seja, mas encaremos essa crise com
determinação e confiança em cada um de nós, para que possamos descortinar novos
horizontes com a real possibilidade da elaboração de novas formas de pensar e
agir para fazer valer a pena tantas décadas de erros infantis, sempre com a
certeza de sermos homens de boa vontade, que sob os mais variados vieses de
pensamento, queremos mais justiça, mais fartura, mais amor, progresso a paz
nessa terra tão devastada por paixões e cacoetes infrutíferos.
A hora é essa, meus caros amigos, recebam pois o meu amor, meu carinho
e respeito convictos de que haverá em mim uma criatura plena de vontade de
cooperar com humildade e dedicação por um Brasil melhor e que não há razão nem
espaço para conflitos, convulsões sociais nem revoluções. Nossa transformação
será através do crédito moral, do afeto e dessa nova aliança que, tenho fé,
permeará esse novo e maravilhoso Brasil que se vislumbra. Topam?
Um beijo pra vocês três. Love, Love, Love !
Lobão (Sp.27 de março de 2016)
Há uma profundidade (real)
nessas palavras políticas. Deixo aberto o espaço aqui para as diferentes
interpretações. A meu ver, a carta foi sensacional.
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