Rui A.
A primeira, que hoje comemora
43 anos, derrubou um regime velho e caduco, que não se soubera modernizar e,
pior que tudo, que não foi capaz de resolver politicamente uma guerra com treze
anos e sem solução militar à vista. A guerra colonial foi, muito mais do que a
questão democrática, o motivo principal que fez com que as Forças Armadas
executassem um golpe de estado que, quase imediatamente, se transformou em
revolução. Com excepção da tentativa do golpe de Botelho Moniz, em 61, Salazar
conseguira sempre assegurar a lealdade das chefias militares, o que Marcello
Caetano não foi capaz. A perda de Spínola e Costa Gomes, que surgem, na noite
de 24 para 25 de Abril, como os chefes do movimento militar, foi fatal para o
regime. A revolução só foi pacífica porque o regime deposto estava anquilosado
e não teve reação. Envelhecido por quarenta anos de salazarismo e por uma
sucessão que se mostrou incapaz de cumprir a renovação que prometera e o país
aguardava, já nem aqueles que o dirigiam acreditavam nele. O regime foi
derrubado, mas não caiu: desfaleceu.
A segunda revolução só
surpreendeu os incautos. Teve duas datas: o 28 de Setembro de 1974 e o 11 de
Março do ano seguinte. Verdadeiramente, principiara logo uma semana depois do
dia em que Marcello Caetano foi preso no Largo do Caldas, quando, no Dia do
Trabalhador, o Dr. Cunhal explicou ao Dr. Soares e ao país que o entendeu,
aquilo que ele queria dizer com «as mais amplas liberdades». Quem
não ignorar a história, sabe que em qualquer revolução democrática, após o
romantismo das primeiras intenções, conhece inevitavelmente um momento de
radicalização para fazer triunfar a «verdadeira» revolução e partir os dentes
aos «reacionários». É esse o momento em que a escumalha tenta assaltar
violentamente o poder e onde, se não houver reação forte, se fazem os banhos de
sangue. Sempre em nome das mais belas intenções e dos mais honestos propósitos.
A Revolução Francesa, logo após 89, explica bem como é que essas coisas se
fazem. E como infelizmente terminam. Para todos.
A reação forte aos planos do
Dr. Cunhal veio de dentro e de fora do país, e corporizou-se no 25 de novembro
de 1975, verdadeiramente, o terceiro 25 de Abril, e aquele que instituiu a
democracia e o Estado de direito em Portugal. De fora – pasme-se! – da própria
União Soviética, que já tinha conseguido o que queria – as independências
africanas – e não estava disposta a ceder aos ímpetos leninistas do seu agente
em Lisboa, e provocar, com isso, um casus belli de
consequências imprevisíveis com os EUA. O retângulo peninsular não valia esse
risco, e quem duvidar das verdadeiras intenções do Dr. Cunhal (que a pequena
história tem feito passar por um poço de moderação e sensatez nestas alturas)
que leia o livro do José Milhazes intitulado Cunhal, Brejnev e o 25 de
Abril… A segunda reação veio de dentro, do país profundo, e devemo-la a
Mário Soares, Jaime Neves, Ramalho Eanes, Sá Carneiro, Emídio Guerreiro,
Salgado Zenha, os homens que travaram o Partido Comunista e a radicalização
revolucionária. Só com eles – e graças a eles – os propósitos iniciais da
revolução foram cumpridos.
Título, Imagem e Texto: Rui A., Blasfêmias,
25-4-2017
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