Cesar Maia
1. Os jornais La Nacion (AR-Luisa Coradini) e El País (ES-Josep
Ramoneda), em avaliações das últimas eleições na Holanda, mostraram um quadro
muito diferente das manchetes da imprensa. A imprensa destacou a derrota do
populismo xenófobo de direita. Afinal, era esse o temor europeu que viesse a
obter a primeira maioria.
2. Ramoneda pergunta: Alívio ou insensatez? E lista as manchetes da
imprensa europeia: “Holanda derrota o populismo e a xenofobia”, “Holanda se
mobiliza contra o ascenso do populista Wilders”, “Holanda votou e a Europa pode
respirar tranquila”, “Holanda freia o auge do populismo xenófobo”, “Holanda dá
as costas ao populismo e a xenofobia e Europa respira”.
3. Se houve uma boa notícia na eleição foi uma participação recorde
de 86%. Wilders, em nenhuma pesquisa, apareceu como líder e alternativa de
governo. Wilders ficou abaixo de suas expectativas. Mas avançou 5 cadeiras num parlamento de 150, e elegeu 20 deputados.
O primeiro ministro Rutte, líder da direita, venceu as eleições elegendo 33 deputados, mas perdeu 8 cadeiras.
4. Os socialistas, que
tinham 38 deputados, desintegraram e elegeram 9. A direita tem conseguido
que as campanhas eleitorais girem em torno de sua agenda, afirma Ramoneda, e a
esquerda deixa de lado seus erros na gestão das crises e sobre as reformas
necessárias para recuperar a coesão social e as expectativas sobre o futuro.
Frear a extrema direita e garantir a vitória de uma direita mais liberal no
econômico e mais conservadora no ideológico não justifica esse triunfalismo.
5. Luisa Corradini, no La Nacion, diz que “políticos e analistas
obcecados pelo possível avanço da extrema direita não se deram conta dos
resultados efetivos das eleições na Holanda: a socialdemocracia europeia, que
foi uma das forças políticas dominantes do século XX, está em perigo de morte.”
6. Corradini chama de “estrepitoso fracasso da esquerda moderada
holandesa”. Passou de 28% dos deputados para 5,7%. Os socialdemocratas
participavam do governo em coalizão com os conservadores do primeiro ministro
Mark Rutte. A soma desses dois partidos, que controlavam a metade do
parlamento, agora ficou com pouco mais que 25%.
7. Corradini lembra que não é um caso único na Europa. “Ano passado
a esquerda moderada –socialdemocrata - europeia perdeu 12 das 18 eleições
nacionais, assim como os plebiscitos/referendos na Itália e na Grã-Bretanha.
"É toda a socialdemocracia que se desmorona", afirmou Laurent Bouvet,
da Fundação Jean-Jaurès. Um ciclo inaugurado pelo Pasok da Grécia, que em
poucos anos passou de 44% para 5%.
8. O analista Jean-Claude Guillebaud explica e diz que "nos
anos 1970 e 1980 a socialdemocracia encarnava a única alternativa crível aos
regimes comunistas. Mas quando estes desapareceram, seus grandes projetos de
economia regulada e Estado do Bem-Estar se haviam esgotado”. No início da
década passada, a esquerda moderada buscou integrar-se à onda liberal e assim
deixou de ter a iniciativa e para muitos adaptou-se e traiu seus compromissos”.
Título e Texto: Cesar Maia, 23-3-2017
Realces: JP
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