Luciano Ayan
Para início de conversa, eu
quero parabenizar o esforço feito pelos grupos democráticos que hoje foram se
manifestar. Também entendo que priorizar a pauta da derrubada do voto em lista
fechada foi uma ótima ideia, ainda que tardia. Não quero que este post seja um
apontamento de culpas, mas um chamado à reflexão, pois entendo que
principalmente os movimentos deram uma resposta ao clamor de muitos de seus
seguidores. Tentaram fazer o melhor com o que tinham em mãos, mas se algo não
deu certo, é bom que todos façamos uma reflexão.
O fato é que as manifestações
deste 26/03 foram um fiasco, bem ao contrário das históricas manifestações pelo
impeachment. A pergunta é: qual a razão para o fracasso?
Talvez a resposta possa ser
encontrada no livro Rules for Radicals, escrito em 1971 por Saul Alinsky e
tratado por este blogueiro que vos escreve como um dos pilares da moderna
guerra política.
A décima terceira das regras
para táticas de Alinsky dizia: “Escolha o alvo, congele-o, personalize-o e
polarize-o”. Ele queria nos lembrar que não adiantava fazer ações contra “a
prefeitura”, mas sim contra um prefeito em específico, ou contra “a classe
política”, mas sim contra um representante específico desta classe. Para buscar
amigos, indivíduos escolhem outros indivíduos. Vale o mesmo para identificar
inimigos: são outros indivíduos.
As manifestações pelo
impeachment foram um sucesso pois tinham como alvo Dilma e seu comparsa Lula.
Era fácil apontar as culpas deles e o que representavam. Porém, falar “da
classe política” é algo muito mais vago. As pessoas já estão acostumadas a
repelir a classe política, com a diferença de que a intensidade dessa repulsa
agora é muito maior. Mas isso por si só não gera movimento.
Talvez um ensinamento que
fique para nós é o mote por trás da crítica ao voto em lista fechada. Por
exemplo, foi dito que a lista fechada era um problema pois iria eternizar “a
classe política”. Mas outra tese poderia ser aventada: a lista fechada é uma
requisição de gente como Lula e seus sicários da extrema-esquerda para
controlarem o poder. Esta última tese se encontra amparada pelos fatos, uma vez
que a origem de todas as demandas por lista fechada está em partidos como PT,
PCdoB e PSOL.
Outro problema é sair em
“defesa da Lava Jato” e “defesa de Sérgio Moro”. Mas defesa de quê? Da chuva?
Das enchentes? De furacões? De uma manada de rinocerontes? Novamente, não temos
um inimigo personalizado. Ora, se Sérgio Moro precisa ser defendido é das
ameaças constantes de Lula e Ciro. Em suma, as ameaças têm um nome, e não estão
“na classe política” em geral.
Algo que talvez pudesse ser
colocado em pauta é uma futura manifestação questionando a Lava Jato pelo
privilégio dado a Lula, que ainda não foi preso, enquanto outros, como Cunha,
Odebrecht, Eike e Cabral estão na cadeia.
Ora, se queremos justiça para todos, por que Lula está solto? Então quer
dizer que a justiça não é mais para todos? Isso poderia dar um bom mote…
Tudo que estou dizendo aqui
parece que nos mostrar que hoje temos “duas direitas” em luta, em termos de
brigas escolhidas:
Aquela que luta contra a classe política;
Aquela que luta contra a extrema-esquerda, representada por Lula e
Ciro que está doidinha para voltar ao poder em 2018
Quem optar pela briga (1) terá
que lidar com o fato de que dificilmente terá inimigos personalizados,
reduzindo assim a chance de engajamento. Quem sabe não precisamos definir mais
claramente nossos inimigos para as próximas batalhas? Quem lê este blog sabe
que eu faço parte daquela direita que tem um objetivo claro: não deixar a
extrema-esquerda retomar o poder em 2018 e ir, durante essa luta, tirando poder
dessa gente aos poucos, apoiando demandas como a PEC do Teto, a regulação da
terceirização e o fim do imposto sindical.
Acredito que aqueles que
defendem que a luta não é essa, mas contra a classe política em geral, devam
ter suas hipóteses de combate testadas. Mas ao que parece, neste 26/03, hoje
foi um dia no qual a luta “contra a classe política” não ecoou suficientemente.
Foi o primeiro dos testes.
Creio que novas discussões
deveriam ser feitas pela direita em relação, principalmente, à definição do
inimigo. O feedback dado por este 26/03 deve nos orientar nesse sentido.
Em tempo: acabo de ver que
Ronaldo Caiado disse a Madeleine Lackso, do Antagonista, que não há “clima”
para o voto em lista fechada. Neste caso, mesmo que a manifestação tenha tido
baixa aderência, este seria um ótimo resultado. Mas devemos desconfiar
principalmente daqueles que costumam capitular para a extrema-esquerda. Por
isso, pode ser uma boa ideia exigir que os deputados formalizem que não irão
votar pela lista fechada em número suficiente para derrubar a proposta.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 26-3-2017
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