Maria Teixeira Alves
O presidente do Eurogrupo, no
Verão do ano passado, foi um defensor de que Portugal e Espanha deviam ser
multados no âmbito do Procedimento por Défices Excessivos referente ao défice
de 2015 (ultrapassado por causa da Resolução ao Banif no fim do ano). A
Comissão Europeia na altura optou por suspender a multa aos dois países, mas
contra a vontade do ministro holandês.
"É decepcionante que não
haja seguimento da conclusão de que Espanha e Portugal não tomaram ações
eficazes para consolidar os seus orçamentos", referia na altura, Jeroen
Dijsselbloem, que deixou sempre claro que, "apesar de todos os esforços
realizados, Espanha e Portugal ainda estão em perigo".
Como se sabe o mandato do
presidente do Eurogrupo acaba em janeiro de 2018, e Luís Guindos (espanhol)
está a tentar ser o sucessor.
Isto porque Dijsselbloem
(socialista) não vai ser reconduzido como ministro das Finanças no seu país,
dada a derrota histórica do seu partido (PvdA) nas eleições da passada
quarta-feira.
Ora para Portugal há nova
ameaça de sanções desta vez por desequilíbrios macroeconómicos
excessivos.
Serve isto tudo para
contextualizar a reação à entrevista do presidente do Eurogrupo que usou uma
metáfora (que se pode apelidar de infeliz), mas que foi convertida pela imprensa
numa acusação.
O que disse Dijsselbloem?
"Tornamo-nos previsíveis
quando nos comportamos de forma consequente e o pacto no seio da zona euro
baseia-se em confiança. Na crise do euro, os países do norte da zona euro
mostraram-se solidários para com os países em crise. Como socialdemocrata,
considero a solidariedade da maior importância. Porém, quem a exige também tem
obrigações. Eu não posso gastar o meu dinheiro todo em aguardente e mulheres e
pedir-lhe de seguida a sua ajuda. Este princípio é válido a nível pessoal,
local, nacional e até a nível europeu", respondeu Jeroen Dijsselbloem
quando o jornalista do "Frankfurter Allgemeine Zeitung" (FAZ) o
confrontava com o entendimento do ministro alemão das Finanças, Wolfgang
Schäuble, relativamente ao rigor com que a Comissão Europeia e a UE em geral
devem observar as regras em vigor.
O mundo mudou as palavras do holandês
e transformou a metáfora numa acusação aos países da Europa do Sul de que
gastavam tudo em mulheres e álcool e depois iam pedir ajuda.
Esta interpretação motivou uma
reação (exagerada e grotesca) do primeiro-ministro português que rapidamente
insultou o ministro holandês (sem qualquer metáfora) dizendo:
Dijsselbloem "tem uma
visão xenófoba, racista e sexista" sobre parte da Europa e "numa
Europa a sério, o senhor Dijsselbloem a esta hora já estava demitido".
Claro que a fúria de Costa não
colheu (a sua maior frustração é não mandar nas instituições da Europa, mas não
manda e como tal não correram com o Dijsselbloem).
Os espanhóis, mais
interessados no lugar de Dijsselbloem foram mais "polite" e pedem
apenas que se retrate publicamente do que disse.
Reparem em como é tratado o
assunto num jornal espanhol (El País):
El ministro español Luis de
Guindos, que peleó por el puesto de jefe del Eurogrupo hace dos años y sigue
con esa idea rondando su cabeza —pese a que en público se descarta—, ha vuelto
a tachar de "desafortunadas" esas declaraciones y ha insistido en que
Dijsselbloem debería arrepentirse. "Las declaraciones me parecen
desafortunadas desde el punto de vista de la forma y del fondo" , ha
expresado en los pasillos del Congreso.
Como veem, os insultos e
pedidos de demissão agressivos só mesmo de Portugal e de Itália (que também
está lá com um problemazito com os bancos).
Título e Texto: Maria Teixeira Alves, Corta-fitas,
22-3-2017
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