João Marques de Almeida
Se o liberalismo e a prosperidade andam
juntos, o socialismo e a pobreza andam de mãos dadas. E esqueçam a retórica
socialista. Os partidos socialistas não querem, nunca quiseram, acabar com a
pobreza
O visual “Trumpesco” de
Wilders e a obsessão com o populismo moldaram as análises dos resultados das
eleições holandesas. A derrota de Wilders é relevante, mas só conta metade da
história. A derrota das esquerdas constitui a outra metade. Será mesmo caso
para dizer: mais uma derrota depois da maior crise financeira das últimas
décadas. Os socialistas holandeses tiveram um resultado miserável, passando de
maior partido das esquerdas para o terceiro (na prática, o último dos que
contam). A extrema esquerda, embora à frente dos socialistas, perdeu um
deputado em relação às últimas eleições. Os Verdes foram os únicos que
cresceram entre as esquerdas, aumentando o número de deputados de 4 para 14.
A direita e os liberais foram
os grandes vencedores. Os liberais de direita, partido do PM Mark Rutte,
ganharam e continuam a ser o maior partido. Os democratas cristãos recuperaram,
em parte, da grande derrota das últimas eleições. Os liberais do centro, o D66,
também melhoraram tornando-se, juntamente, com os democratas cristãos o terceiro
maior partido. O nosso (salvo seja) PS justificou a derrota dos socialistas
holandeses com a coligação com a direita dos últimos anos. Esta explicação só
serve para justificar a geringonça nacional e não resiste a dois minutos de
escrutínio. Em primeiro lugar, é verdade que os socialistas foram o parceiro
menor da última coligação, mas fizeram uma campanha bem à esquerda. Se o
eleitorado socialista penalizou a aliança à direita, porque não votou nos
outros partidos de esquerda e foi votar na direita?
Olhando para outros países
europeus, a tese socialista também não resiste. Aqui ao lado, em Espanha, o
PSOE nunca se aliou à direita e sofreu duas pesadas derrotas eleitorais no
último ano. Em França, o mesmo. Os socialistas franceses estão divididos e fracos,
de tal modo que Hollande nem sequer se recandidatou, e não se aliaram à
direita. Na Alemanha, passa-se o oposto. O SPD está numa coligação com a
direita, mas está empatado nas sondagens. A falta de um mínimo de seriedade
intelectual do atual PS é espantosa e vergonhosa, apesar de os seus dirigentes
não sentirem qualquer vergonha.
Talvez a explicação da derrota
socialista não se encontre na coligação com a direita, mas nos seus próprios
erros. Ou, melhor, no seu programa político. A maioria dos holandeses não se
revê no aumento do peso do Estado na economia nem na entrada ilimitada de
emigrantes, tradicionalmente vistos pela esquerda como um batalhão de
potenciais eleitores. Se os holandeses recusaram o extremismo de Wilders,
preferem o realismo dos liberais ao multiculturalismo socialista. Mas a
economia foi o tema central das eleições; não foi a emigração nem a Europa. E
os factos são claros. A maioria dos holandeses olha para a direita e os
liberais como os melhores para recuperarem a economia, mesmo depois da crise.
Não é só na Holanda que se
olha para as ideias liberais como ajustadas para a prosperidade económica.
Acontece o mesmo nos países escandinavos, na Alemanha e no Reino Unido. Nestes
países, o peso das ideias liberais vai muito para além dos partidos Liberais.
Influencia os programas económicos dos principais partidos, sobretudo à
direita, mas também nos partidos de centro-esquerda. Não é por acaso que estes
países são os mais ricos no mundo e com as sociedades mais justas. Em grande
medida, deve-se à tradição liberal.
Se viajarmos para sul onde as
ideias liberais têm pouco impacto, encontramos países com uma forte tradição
socialista. França, Espanha, Portugal, Itália e Grécia, países endividados,
pobres, com o Estado a meter-se em tudo o que mexe. Se o liberalismo e a
prosperidade andam juntos, o socialismo e a pobreza andam de mãos dadas. E
esqueçam a retórica socialista. Os partidos socialistas não querem, nem nunca
quiseram, acabar com a pobreza. Querem uma sociedade de cidadãos remediados e
dependentes do Estado, e isso só se consegue com pobreza e pouco
desenvolvimento económico. Daí vem a sua força e os seus votos. Nos países
desenvolvidos, os partidos socialistas perdem força e, para ganhar eleições,
precisam de adoptar algumas propostas mais liberais, como fazem os partidos
sociais democratas do norte da Europa.
Entre 1986 e 2009, Portugal
perdeu uma oportunidade histórica para se tornar mais liberal, mais
desenvolvido e mais rico. Falhou. Em vez disso, tornou-se altamente endividado,
remediado e pouco desenvolvido. A crise piorou tudo. Foi o resultado de um
excesso de socialismo e um enorme défice de liberalismo. O pior é que não temos
emenda. Estamos condenados à pobreza e ao socialismo.
Título e Texto: João Marques Almeida, Observador,
19-3-2017
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