domingo, 26 de março de 2017

[Aparecido rasga o verbo] Enfim, do que nos desapegarmos depois?

Aparecido Raimundo de Souza

I
Quando a nossa vida começa temos apenas uma pequena sacolinha de mão. Na medida em que os anos vão passando, a bagagem vai aumentando, aumentando... e por conta disso, somos obrigados a arranjar uma espécie de receptáculo maior. Os anos seguem, e com eles a tendência dessas quinquilharias é crescer ainda mais de tamanho, de intensidade e volume.

II
Geralmente, isso ocorre porque muitas coisas fúteis e superficiais, recolhemos pelos caminhos percorridos. Chega num determinado ponto da estrada, em que o peso da valise (que começou com um simples saquinho) dana a ficar pesado demais, a ponto de atingir as raias do insuportável.

III
Nessa hora precisamos parar. Estancar os passos. Pensar, meditar e depois de tudo, escolher: decidir entre frearmos os passos, voltarmos atrás, ou ficarmos à espera que alguém nos ajude, ou seguirmos em frente, suportando sozinhos, o peso do fardo que nós, por vontade exclusiva, nos impusemos. Sem mencionarmos aquelas pequenas coisinhas que nos foram acrescentadas pelo destino e pela sorte sem que quiséssemos, ou pedíssemos.

IV
Há, em contrapartida, outra saída. Abrirmos o saquitel e jogarmos fora o que julgarmos não ser essencial. Mas, nesse ponto, pelo andar da carruagem, o que jogar, de vez, na lata de lixo, o que dispensar? O que seria válido e o que nos faria falta?  Surgem mais dúvidas, entre elas a cruel, a mais difícil de todas. O que deixarmos jogado na lata de lixo no meio da rua, ou abandonado na calçada?

Horas tristes, horas, alegres, lembranças de pessoas boas, de pessoas más. Recordações de doenças, momentos de felicidade com as nossas famílias? Junte a tudo isso o Amor e a amizade. Amor ou amizade? Os dois? Nenhum?

V
Meu Deus! Nessa hora de decisão difícil, nos conceda a inteligência necessária para resolvermos esse problema tão fácil, tão comum, porém, tão complexo. Esperem! Existe algo mais pesado: a raiva. A raiva é como uma pedra enorme que obstrui. Tem a incompreensão que apavora, o medo que desalenta, o pessimismo que amofina e molesta, como também a discórdia e a insegurança que, iguais aos demais, deixam marcas indeléveis para sempre... nesses momentos de peleja interior o desânimo e a prostração afloram e puxam o coração na ânsia de prendê-lo dentro do embornal.

VI
Algo anormal às nossas forças dá início a uma luta insana. Com ela, uma opressão exaustiva, que quer a qualquer custo nos levar para o buraco da destruição. Para não nos deixarmos ser vencidos, guerreamos tenazmente. De repente, eis que surge o Sorriso. Bonito, largo, aberto, atraente, bem-apessoado, enlevado numa paz tão imensa que parece mudar o quadro desolador. E, de fato, muda. Sempre para melhor, claro.


VII
De mãos dadas com ele, de roldão, vem a Felicidade. A Felicidade por sua vez traz a Paciência e então, por alguns momentos, nos sentimos envoltos numa tranquilidade indescritível, colossal, maravilhosa, estupenda e inabalável.

VIII
Buscamos, num fugaz momento, o restante das coisas dentro do bisaco. E nos deparamos com a Força, com a Coragem, com a Responsabilidade, com a Tolerância, e com o Bom Humor. Pronto. Não há mais nada a ser retirado do meio de tudo que juntamos vida afora. E agora? O que devolvermos para a valise a fim de seguirmos viagem em direção ao amanhã?

IX
Enquanto não nos decidimos, olhamos em derredor meio que amedrontados. Espiamos de igual forma, para o futuro. Ele está ali, logo à frente, mas é incerto, escuro, solitário, vazio como a mente conturbada que não nos deixa pensar direito. Pelo menos no sentido de se saber o que realmente jogar dentro do alforje novamente, trancá-lo e nos pormos, de novo, em marcha.

X
E seguirmos em frente, confiantes, em olharmos para trás sem medo de tropeçarmos, como tapados Casmurros nos próprios passos. 


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Título e texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De Interlagos, São Paulo – diretamente do “Lollapalooza”, 25-3-2017

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