terça-feira, 28 de março de 2017

O Défice de 2016 é um Embuste

Cristina Miranda

O défice que nos apresentaram é uma perigosa bomba relógio. Não há mérito nenhum nos 2,1%. Muito menos prova que usando outras políticas se consegue os mesmos objetivos como disse Marcelo. O que há são malabarismos grotescos, diria quase criminosos, de “chico-espertice tuga” que escondem o maior embuste, depois de Sócrates, fundamentado em mentiras, patranhas e ilusões para o iletrado cidadão. Uma falta de respeito por toda uma Nação a quem se pede constantemente sacrifícios fingindo ser pelo bem de todos. Uma mentira abençoada pelo PR que nos deveria fazer corar de vergonha. Infelizmente.

Comecemos pelo dito feito histórico que não o é: em 1989, Cadilhe, então ministro das Finanças de Cavaco Silva, alcançava exatamente o mesmo déficit. Mas claro que os jornalistas “não se deram conta” e por isso, nunca fizeram contraditório. Esta é a mentira útil da propaganda para cegar sobre a realidade. Transmitir um sucesso falso para criar um bem-estar na população que aguente, pelo menos, até às autárquicas.

Agora vamos às ditas contas: estão a ver os mágicos que tiram coelhos das cartolas? Os coelhos estão mesmo lá dentro? Pois. Não estão mas parecem estar. Esse é o princípio utilizado nestas contas de Centeno. Não é preciso que o seja, mas sim, que o pareça. E parece que o défice reduziu quando o vemos pomposo e com cara de anjinhos a dizer à boca cheia que não houve malabarismos nem habilidades apenas fruto de muito trabalho. Ora, caso para dizer que se houve “muito trabalho” foi na “árdua” tarefa de “esconder debaixo da carpete” tudo o que faz subir o tão almejado déficit. Vamos ver como?

É simples: contabilizam-se todas as receitas extraordinárias, não autorizadas, que provocam uma diminuição pontual do défice, as “one-off” e metem-se na gaveta as despesas extraordinárias, estas sim, autorizadas, que o aumentam. Assim, e ao contrário do estabelecido nas regras contabilísticas da UE,  utiliza-se para efeitos de redução, receitas pontuais não repetíveis, como a venda dos F16 (0,1% PIB), o PERES (cerca 600 milhões 0,4% PIB), reavaliação de ativos (170 milhões  0,1% do PIB), cativação indevida dos lucros que o BdP teve com a compra de dívida da Grécia e que não foi devolvido à Grécia (0,1% do PIB), devolução pela CE de 302 milhões de euros pagos por Passos Coelho em Julho de 2011 como caução aos empréstimos da Troika ( 0,2% do PIB), cativações de despesas públicas (410 milhões  0,25% do PIB). Ora, se somarmos este valor, 1,15%, ao défice oficial temos um aumento para 3,2%. Se a isto juntarmos ainda os cortes de mais de 1000 milhões em investimento público e a poupança de 350 milhões em juros proporcionado pelo anterior executivo, esse valor subiria para 3,6%. Isto enquanto por outro lado se beneficia por não levar ao défice despesas pontuais, como intervenção em bancos, essas sim, totalmente aceites pela UE.

A realidade vai-nos explodir nas mãos quando todas as instituições do Estado em sofrimento financeiro obrigarem a desembolsar as verbas necessárias para não colapsarem; o peso das reversões e aumento de dívidas sem planeamento só para cumprir promessas eleitorais caírem TODAS nas contas; quando já não for possível aguentar mais o acumular de horas extras por falta de pessoal graças à redução para 35h na função pública. A bomba vai estoirar quando o BCE deixar de comprar dívida soberana por via da inflação registada na UE que ajuda a fingir que só pagamos 4% de juros quando na verdade, sem BCE, seriam de 6 a 6,5%. Quando a CE detectar o embuste

É mentira que com novos governos e novas políticas se constrói o mesmo caminho. Quando se trata de gerir, as regras são sempre as mesmas: nunca gastar acima do que se produz. E quando se gasta mais do que se pode, o caminho de regresso nunca se faz abrindo cordões à bolsa.
A geringonça abriu a Caixa de Pandora. Resta-nos aguentar com o impacto.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias, 27-3-2017

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