Luciano Ayan
A cada dia que passa, uma
direita confusa se esmera em dar shows bizarros no que tange à conscientização
política. Fica a clara impressão de que quase ninguém sabe por que está de fato
lutando.
Vamos avaliar uma situação
grotesca na atual guerra de declarações lacradoras entre Gilmar Mendes e
Rodrigo Janot. Uma declaração lacradora é aquela feita para ridicularizar,
desmoralizar e/ou desestabilizar de qualquer forma um inimigo.
Pauladas de Gilmar
Depois da Operação Carne
Fraca, o ministro do STF, Gilmar Mendes, desceu o relho na PF por esta ter
fornecido à imprensa informações de processo sigilosas de forma indevida.
Segundo ele, os vazamentos são desmoralizantes: “Quando praticado por
funcionário público, vazamento é eufemismo para um crime que os procuradores
certamente não desconhecem. A violação do sigilo está no artigo 325 do Código
Penal. Mais grave é que a notícia dá conta dessa prática dentro da estrutura da
PGR. Isso é constrangedor”.
Ele requereu investigação
sobre os vazamentos: “Se determinados documentos estão sob sigilo e se se
inicia o vazamento sistêmico, como aqui está noticiado, trata-se de
desmoralização desta corte. Não preciso lembrar que se trata de crime, que
certamente será cuidado pela Procuradoria, ou não, por se tratar de vício de
caráter corporativo.”
Também cobrou que a PGR viesse
a público explicar os vazamentos: “Não haverá justiça com procedimentos à margem
da lei. As investigações devem ter por objetivo produzir provas, não entreter a
opinião pública ou demonstrar autoridade. Quem quiser cavalgar escândalo porque
está investido do poder de investigação está abusando do seu poder e isso
precisa ser dito em bom tom”.
Avaliando as coisas por um
prisma do óbvio, ele disse que a divulgação indevida de conteúdo sigiloso de
forma seletiva tem o objetivo de destruir a vida de políticos escolhidos pelos
investigadores: “Mas é claro que isso tem um propósito destrutivo, como acabam
de fazer com o ministro da Justiça, ao dizer que ele deu um telefonema para uma
autoridade envolvida nesses escândalos. É uma forma de chantagem implícita, ou
explícita. É uma desmoralização da autoridade pública”.
Como a PGR estava sob
questionamento, Gilmar ainda disse: “A mídia não estaria divulgando esses nomes
se não tivessem sido fornecidos. Eu não vou acreditar que a mídia teve acesso
aos nomes em uma sessão espírita.
Tudo isso é apenas o óbvio.
Ele apenas citou a lei. Mesmo assim, suas declarações foram interpretadas como
uma “paulada” no STF.
Pauladas de Janot
Em vez de refutar Gilmar,
Rodrigo Janot partiu para o ataque ad hominem: “Não vi uma só palavra de quem
teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre essa imputação o Palácio do
Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal. Só posso atribuir tal
ideia a mentes ociosas e dadas a devaneios. Mas infelizmente com meios para
distorcer fatos e instrumentos legítimos de comunicação institucional — disse o
procurador-geral no encerramento de encontro de procuradores regionais
eleitorais na Escola Superior do Ministério Público.”
Janot não teve coragem de
denunciar o nome de Gilmar, mas suas referências foram feitas para não deixar
dúvida quanto ao alvo das críticas.
O PGR prossegue: “Ainda assim,
meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos a sua
decrepitude moral e para isso acusam-nos de condutas que lhes são próprias
socorrendo, não raras vezes, da aparente intangibilidade proporcionada pela
eventual posição que ocupa na estrutura do Estado”.
Como sempre saindo fora de sua
alçada, Janot ainda quis meter o bedelho no sistema eleitoral: “ Nosso sistema
político-partidário foi conspurcado e precisa urgentemente de reformas. É
necessário abrir espaço para a renovação o quanto antes, pois a política não
pode continuar a ser uma custosa atividade de risco propícia para aventureiros
sem escrúpulos.”
Ora, se ele quer mudar o
sistema político-partidário, por que não se candidata a deputado, senador ou a
qualquer outro cargo? Não é da função do Janot definir como deve ser a
política. Ele faz parte de um dos poderes (o Judiciário). Logo, não tem moral
alguma para dizer como deveria ser um outro poder.
Seja lá como for, é evidente
que Janot não refutou Gilmar em absolutamente nada. Mas o uso do termo
“disenteria verbal” permitiu que muitas pessoas comemorassem sua resposta como
troféu. Pior: as comemorações vinham, algumas vezes, por parte de alguns
direitistas.
Confusão na direita
A direita brasileira está tão
confusa que tem muito direitista torcendo por Janot nessa guerra de declarações
lacradoras contra Gilmar Mendes. Detalhe: Janot está comprometido com o projeto
totalitário de poder da extrema-esquerda, foi nomeado por petistas e tem como
especialidade ser seletivo nos processos, sempre garantindo que os petistas
estejam em menor quantidade nas listinhas. É o fim da picada…
Qual a origem de tal loucura?
A explicação desta vez é bem
simples: Janot está criando a imagem pública de ser uma pessoa “do lado da Lava
Jato”. Logo, qualquer pessoa que critique algum aspecto técnico desta operação
ou de outra operação será definido como “inimigo da Lava Jato” ou “inimigo da
PF”. E olhe que no caso estamos falando da Operação Carne Fraca.
Com isso, até mesmo um
passador geral de régua – que vive salvando a vida de petistas – consegue se
sair bem.
Num momento em que o apoio à
Lava Jato deixa de ser um apoio racional – incentivando o que é certo, e
criticando o que é errado ou não funciona -, para se tornar culto psicótico,
era óbvio que a extrema-esquerda iria aproveitar.
Só isso explica ver gente de
direita apoiando Rodrigo Janot. É deprimente…
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 24-3-2017
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